Tecnologia e sociedade: 5G como catalizador de transformação (Parte 2)

(Esse artigo é continuação do postado no dia 13/09/21).

Matheus Matsuda Marangoni

No texto anterior discutimos um pouco dos atributos do 5G e como essa nova tecnologia promete mudar a forma como acessamos a internet. E deixamos ao final uma questão fundamental sobre a acessibilidade desta nova tecnologia em um país como o Brasil.

Primeiro devemos considerar a importância da neutralidade da rede, como indicado pelo post 5G desafia limites da neutralidade de rede, publicada no NotaAlta em 09/10/ 20, que demonstra os modelos de negócio para venda de pacotes 5G pelo mundo. A neutralidade da rede é um conceito importante discutido mundialmente e presente no Marco Civil da Internet, o qual impede que as operadoras de telecomunicações restrinjam ou privilegiem a velocidade e capacidade da troca de dados por meio de valores cobrados, ou seja, o acesso à internet não deve ser interrompido por pacotes de dados comprados, garantindo acesso mais democrático para todos. A neutralidade não trata especificamente velocidade, essa pode variar em função do preço, mas de limites de dados. 

Recentemente uma pesquisa do Cetic.br, reatada em post do NotaAlta,  demonstra que 64% das classes D e E já tem internet banca larga no Brasil. Contudo grande parte do acesso para estas classes não é via computador, mas ainda é por meio de dispositivos móveis conectados ao 3 ou 4G. O 5G poderia representar uma maior inclusão para as classes mais baixas de nossa sociedade e não somente uma melhora de serviços para os mais favorecidos economicamente.

Em outro post no blog NotaAlta, publicado no mesmo dia da primeira parte deste artigo, vemos o relato de um estudo da PwC em parceria com o instituto Locomotiva que, caso o abismo entre o acesso das classes mais baixas em relação às classes mais altas fosse menor, seria possível um aumento de renda na ordem de 15,3% dos menos favorecidos a um acesso de internet de maior qualidade.

O que adiantaria uma internet móvel mais rápida e estável se nossa cota de dados mensal acabar antes do final do mês? E com o melhor serviço, o consumo será maior com certeza. Para nossa sociedade essa deve ser a principal preocupação com a implantação do 5G. Vivemos em uma sociedade da informação e essa informação vem de nossa conexão com o mundo pela internet, como antevisto por McLuhan lá nos anos 60, vivemos em uma Aldeia Global, na qual as barreiras geográficas, culturais e sociais são quebradas.

No artigo citado no começo desta post, é discutido pelas companhias de telefonia que a neutralidade de rede não possibilita que os investimentos necessários para a implementação do 5G sejam viáveis. A discussão está centrada em modelos de negócio que já estão em operação em países como os EUA e a Coreia do Sul. Tais modelos oferecem diversas opções de uso. Algumas bastante pontuais, como por exemplo comprar um tempo curto, algo como 2hs, para o uso do 5G durante um evento esportivo. Outros pacotes preveem até mesmo a segmentação por tipo de dado que será usado. O consumidor pode escolher comprar dados apenas para dar uma turbinada no streaming de filmes ou para fazer o upload de fotos.

O que vemos no Brasil é uma conexão extremamente cara e pouco confiável. Sem esquecermos que boa parte dos brasileiros usam seus smartphones como meio de acesso a serviços financeiros nos dias de hoje. O que aconteceria com o modelo do PIX caso os consumidores fiquem sem dados disponíveis? A importância desta discussão vai além de apenas a implementação de uma nova tecnologia, mas entendemos que se trata de uma mudança bastante profunda em nossa sociedade.

Uma última questão para refletirmos: O 4G no Brasil nunca chegou a atingir o potencial máximo e ainda se mostra um serviço de alto custo em nosso país. É possível imaginarmos que com o 5G vai ser melhor?

Matheus Matsuda Marangoni

Professor do curso de Ciências Sociais e do Consumo da ESPM-SP

Comentários estão desabilitados para essa publicação