Nova fábrica de chip na Europa tem 10 pessoas

Na cidade alpina de Villach, na Áustria, o engenheiro industrial Andreas Wittmann pesquisou seu projeto mais recente: a mais nova fábrica de chips da União Europeia (UE). “Vinte anos atrás não estava em nosso horizonte mental construir uma fábrica de semicondutores na Europa”, disse ele, dias antes da inauguração da fábrica de 1,6 bilhão de euros, na sexta-feira. Mas “o aumento da automação diminuiu a vantagem da Ásia”. 

O executivo da maior fabricante de chips da Europa, a Infineon da Alemanha, não precisou elaborar seu argumento. Na sexta-feira, a fábrica de 60 mil metros quadrados que ele idealizou – aproximadamente do tamanho de oito campos de futebol – fervilhava de robôs entregando pastilhas de silício por meio de um sistema suspenso de trilhos, com seus LEDs piscando em vermelho e verde. 

Ao contrário de uma instalação “legada” próxima, que tem cerca de 140 funcionários no chão de fábrica, a nova unidade exige apenas 10. Essa redução nos custos com pessoal foi um dos vários motivos que levaram a Infineon a decidir ampliar seu pitoresco parque industrial em 2018. A unidade é especializada em semicondutores de potência, usados amplamente na fabricação de automóveis, que contêm dezenas desses chips para mover tudo, de vidros elétricos a sistemas de navegação. 

A inauguração da fábrica, que produz semicondutores em modernas pastilhas de silício de 300mm de espessura, coincide com a falta de chips no mundo, que devastou o setor automobilístico, paralisando linhas de montagem e cancelando a produção de milhões de carros. Como resultado, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou planos para uma nova “Lei de Chips”, para “criar em conjunto um ecossistema europeu de chips de última geração, incluindo a produção”. 

A Infineon diz que a unidade de Villach ajudará a aliviar gargalos de seus principais clientes, muitos dos quais estão localizados ali perto. “Nossa mensagem aos clientes é que podemos fornecer”, disse o CEO Reinhard Ploss na sexta-feira, embora haja um prazo de pelo menos quatro meses para a produção de chips de potência. “Eles não serão de graça”, acrescentou ele, pois o custo dos suprimentos aumentou na crise. “Acreditamos que os preços aumentarão muito no verão [neste terceiro trimestre].” 

Embora a Infineon tenha recebido alguns subsídios para a fábrica austríaca, que segundo Ploss “ajudaram a amortecer e compensar as distorções globais”, ele não acredita que as restrições de fornecimento e a segurança do fornecimento serão necessariamente resolvidas com a instalação de mais fábricas na Europa. 

Os maiores clientes de chips em geral, os fabricantes de smartphones e PCs, não estão baseados na Europa, disse ele ao “Financial Times” este ano, e eles continuarão na linha de frente do fornecimento global, independentemente da localização das fábricas. Engenheiros da unidade de Villach disseram que ainda levaria três anos para uma nova fábrica ser construída se uma decisão fosse tomada hoje. 

E pior: o resto do setor está “atrasado em 18 meses a um ano nos investimentos regulares”, diz Jalal Bagherli, CEO da Dialog Semiconductor, uma fabricante de chips concorrente da Europa que acaba de ser comprada pelo grupo japonês Renesas, que também fornece para montadoras. A Dialog depende de contratantes externos para fabricar seus chips, mas Bagherli disse que parte desses terceiros não estava interessada em aumentar a capacidade quando a demanda por produtos eletrônicos de consumo levou a uma corrida por chips durante a pandemia. 

“Quando eu perguntava a eles se estavam investindo, eles diziam: ‘Bem, isso tudo é temporário. Vai durar apenas três meses. Não vou investir outros US$ 10 bilhões e construir uma fábrica de semicondutores só porque alguém está trabalhando de casa”. 

Também resta saber se os atuais níveis de demanda serão sustentados. “Por ser uma atividade que exige muito capital, você gasta dinheiro somente quando tem certeza de que terá demanda”, disse Thomas Reisinger, um membro do conselho de administração da Infineon na Áustria. 

O processo “back end” usado na produção de semicondutores feitos em Villach – que exige muita mão-de-obra e cujos “custos salariais têm um papel importante – ainda ocorrerá na Malásia, onde a Infineon está terminando uma fábrica. 

Essa é uma tendência que Reisinger, que passou um tempo na unidade da Malásia, não vê revertendo. “Temos a expertise, temos os engenheiros lá. Acho que ficaremos na Ásia [para o ‘back end’]”, diz o executivo. 

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2021/09/20/nova-fabrica-de-chip-na-europa-tem-10-pessoas.ghtml

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