Teles ‘tradicionais’ lideram avanço do 5G no mundo

Nas condições atuais, dificilmente o leilão de frequências disponíveis para o 5G terá uma “fila” de novos entrantes interessados em oferecer serviços de quinta geração no país. Em 15 mercados da Europa, Ásia e América do Norte a vitória nas licitações de espectro e a implementação da tecnologia coube majoritariamente às operadoras legadas (as “tradicionais”, aquelas já presentes no mercado), segundo indica levantamento da consultoria internacional Bain & Company. 

As legadas, nesse caso, eram operadoras de telefonia móvel ou empresas integradas com operações móveis e fixas. Em somente 3 dos 15 países pesquisados – China, Alemanha e Itália – operadoras fixas arremataram frequências para prestar o serviço móvel 5G. Na Austrália, a britânica Dense Air, provedora de infraestrutura neutra de telecomunicações voltada para o mercado móvel, foi uma das vencedoras do leilão. 

“Não vemos um cenário em que tenha gente na fila para comprar esse espectro. Não mesmo, nas condições [atuais]”, resume Franz Bedacht, sócio da Bain & Co. “As grandes [operadoras] vão comprar? Vão comprar porque não têm como não comprar. Mas todos os outros blocos, tanto regionais como nacionais, não há garantia de que tudo isso será vendido.” 

Em análise pelo Tribunal de Contas da União (TCU), o edital do leilão de frequências disponíveis para o 5G vai abranger quatro faixas de frequência. Em algumas delas haverá tanto lotes nacionais como outros de abrangência regional. 

“Acho difícil haver a participação de novos entrantes”, acredita Vivien Suruagy, presidente da Federação Nacional de Instalação e Manutenção de Infraestrutura de Redes de Telecomunicações e de Informática (Feninfra). Os leilões de frequências usadas na prestação de serviços 3G e 4G – lembra ela – foram marcados pela ausência de novos entrantes. 

Embora considere positiva a possibilidade de provedores de acesso à internet de médio porte arrematarem blocos regionais no leilão, Vivien enxerga entraves ao ingresso no país de grandes grupos de telecomunicações que ainda não atuam no Brasil. Além das obrigações incluídas no edital, a executiva cita como obstáculo a carga tributária incidente sobre o setor, que segundo ela alcança 59,7%. 

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) calcula que o valor total do leilão do 5G – frequências mais obrigações – alcance R$ 44 bilhões. Desse montante, R$ 37 bilhões seriam de compromissos de investimento a serem assumidos pelos vencedores da licitação. 

“Deve ser um leilão muito caro. É o que se imagina. O investimento é alto quando você vê as contrapartidas que estão sendo exigidas”, analisa Rafael Pistono, sócio do escritório PDK Advogados. 

Nos moldes atuais, a reforma tributária não deverá contribuir para um cenário mais favorável. Mesmo nas bases defendidas pelo relator Celso Sabino (PSDB-BA), a proposta de reforma traria um aumento de carga de impostos para o setor de telecomunicações, afirma Vivien Suruagy. 

O estudo da Bain & Company traz ainda projeções para a evolução do mercado brasileiro de 5G. Até 2025, 35% das conexões móveis no país serão baseadas na tecnologia de quinta geração. Num horizonte de tempo mais amplo, até 2030, esse percentual alcançaria o patamar de 81%, de acordo com a consultoria internacional. 

O ritmo dessa expansão vai depender da velocidade de ampliação da cobertura 5G e do quão rapidamente vão cair os preços dos aparelhos celulares compatíveis com o serviço, explica Alberto Silva, também sócio da Bain & Company. 

“Os dispositivos 5G ainda têm preço pouco acessível, mesmo para o público pós-pago”, reconhece o consultor. “Mas, tendo olhado para outros mercados e para o que os fornecedores têm prometido, vemos uma velocidade de queda no preço de aparelho bastante importante: acima de 10%, 12% ao ano, o que deve fazer com que você tenha cada vez mais uma gama de dispositivos maior com preços acessíveis”, acrescenta. 

A celeridade na troca de aparelhos 3G e 4G por celulares de quinta geração – ditada em parte pela questão do preço – será outro fator determinante para a popularização do 5G no país. Não é possível aproveitar os terminais móveis de gerações anteriores. 

No cenário traçado pela consultoria, os subsídios das operadoras para compra ou troca de aparelhos se manteriam em níveis não muito elevados – mais baixos do que os praticados nas migraçõesdo2Gparao3Gedo3Gparao4G. 

A Bain & Company estima ainda que a receita líquida apenas com serviços móveis de quinta geração (pré-pagos, pós e controle) vai terminar 2025 no patamar de R$ 36 bilhões. O estudo da consultoria projeta que esse total subiria para R$ 74 bilhões em 2030. 

Com o futuro avanço do 5G, a tecnologia FWA (sigla em inglês para acesso fixo sem fio) tende a ganhar mercado no Brasil. Deve abocanhar uma fatia de 8,9% do mercado de banda larga fixa em 2030, quando o número de conexões desse tipo totalizaria 4,3 milhões de acessos, conforme projeção da consultoria internacional. 

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2021/07/26/teles-tradicionais-lideram-avanco-do-5g-no-mundo.ghtml

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