O projeto Dark Energy Survey apresentou os resultados de três dos seus seis anos de observação, fornecendo o maior mapa de distribuição de galáxias já feito. O trabalho, fruto de uma colaboração internacional com liderança do Fermilab, nos EUA, que envolve mais de 400 cientistas em sete países (dentre eles o Brasil), foi feito com a Dark Energy Camera, instalada no Telescópio Blanco, no Chile.
Com 570 megapixels, ela é uma das mais poderosas câmeras digitais do mundo, e foi usada durante 30% do tempo disponível no Blanco para varrer cerca de um oitavo do céu ao longo de 758 noites de observação, entre 2013 e 2019. Os resultados recém-apresentados correspondem aos três primeiros anos de observação e registram 226 milhões de galáxias, cobrindo os últimos 7 bilhões de anos do universo.
Os trabalhos, 29 ao todo, foram publicados no repositório arXiV, e ajudam a formar um cenário mais afiado sobre a evolução do Universo, sobretudo em seus tempos mais recentes. Estima-se que o cosmos tenha começado com o Big Bang, há 13,8 bilhões de anos.
O projeto tem por objetivo ajudar a desvendar os mistérios da energia escura e da matéria escura. Em ambos os casos, ninguém sabe o que é. Mas seus efeitos podem ser detectados em observações astrofísicas. Por exemplo, as lentes gravitacionais produzidas por galáxias e aglomerados permitem estimar a quantidade total de matéria nesses objetos, incluindo aí a porção dita escura, que não pode ser vista, mas gera efeitos gravitacionais.
Da mesma maneira, observações do brilho e do desvio para o vermelho da luz de objetos distantes permitem estimar a distância e a velocidade de afastamento deles, o que ajuda a discriminar a contribuição da energia escura no universo –algo que, a exemplo da matéria escura, os cientistas não sabem o que é, mas enxergam seu efeito, na forma de uma força que está acelerando a expansão do cosmos.
Os resultados da Dark Energy Survey seguem compatíveis com o chamado modelo padrão da cosmologia, que indica um universo com a seguinte receita: 5% de matéria comum, que forma de átomos a estrelas, 25% de matéria escura, feita de partículas “frias”, entre aspas, porque têm baixa velocidade, e 70% de energia escura, se comportando como a constante cosmológica que Einstein introduziu à sua teoria da relatividade em 1917.
No entanto, eles revelam algumas discrepâncias intrigantes, que vão se somando a outras observações relativas ao universo mais próximo, ou seja, mais jovem. Por exemplo, a Dark Energy Survey sugere que a matéria nos nossos arredores está um pouco menos amontoada e concentrada do que o predito pelo modelo. Espera-se que uma análise completa dos seis anos de observação permita detectar essas discrepâncias com ainda mais precisão e quem sabe oferecer pistas que levem a um avanço concreto na decifração desses misteriosos componentes “escuros” do universo