Antônia Rodrigues – Estudante de Relações Internacionais da ESPM e Analista do RAIA
Laura Peuckert – Estudante de Relações Internacionais da ESPM e Analista do RAIA
Nicolas Franco – Estudante de Relações Internacionais da ESPM e Analista do RAIA
Valentina Negretti – Estudante de Relações Internacionais da ESPM e Analista do RAIA
Raphael Videira – Professor do Curso de Relações Internacionais da ESPM e Coordenador do RAIA
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, a agenda do sistema internacional movimentou-se para a tentativa de criar um cenário favorável para o multilateralismo e a cooperação internacional. Em 1944, a conferência de Bretton Woods criou três importantes instrumentos, como: Banco Mundial, FMI (Fundo Monetário Internacional) e o GATT. À priori, o General Agreement on Tariffs and Trade (GATT), foi criado para regulamentar o comércio de commodities, que serviu como base para o estabelecimento da OMC (Organização Mundial do Comércio), em 1995. Um pouco antes, na década de 80, com a queda do muro de Berlim, o mundo deparou-se com o começo de um contexto de integração, alavancado pela diminuição de barreiras, não só físicas, e também um aumento na cooperação internacional. O período de pós-guerra é marcado pela criação de várias organizações internacionais que projetam seus ideais agindo como importantes atores na prevalência da cooperação entre os Estados-nações (HERZ, HOFFMANN, 2004)[1].
Em contrapartida, perante o cenário atual, percebe-se que as medidas tomadas pelo governo de Trump têm sido contrárias a um histórico de livre-mercado preservado em meio às normas e valores estabelecidos pelos atores do sistema internacional. Ademais, quando em comparação com o seu primeiro mandato (2017-2021), o atual governo de Trump[2] tem apresentado uma postura bem mais rígida, evidenciando uma maior organização estratégica, uma vez agora o presidente dos Estados Unidos sabe como o órgão público funciona. Antes, as ações de Donald Trump eram limitadas pelos “guardrails of democracy”, que são, basicamente, os mecanismos de segurança da democracia. Dentre essas grades de proteção democrática estão a Câmara dos Representantes e o Senado, dois órgãos que hoje tem como sua maioria representantes do partido republicano, o que dá a Trump mais flexibilidade e força para botar suas ideias extremistas em prática. Isso se torna evidente quando o posicionamento estadunidense apresenta uma postura cada vez mais isolacionista, deteriorando relações históricas com países parceiros como o México e o Canadá.
Existem inúmeros estudos teóricos e empíricos sobre o efeito da imposição de tarifas sobre a economia de um país. Em Boer & Rieth (2024)[3], os autores analisam de forma empírica a relação de instrumentos comerciais (tarifas de importação, por exemplo) sobre os principais indicadores econômicos, como o crescimento do PIB. Os autores avaliaram eventos do primeiro governo Trump para os Estados Unidos e encontraram que aumentos tarifários reduzem o comércio internacional e, consequentemente, o crescimento da economia americana.
Alinhada com os resultados empíricos do texto apresentado, a OECD[4] apresentou uma redução importante das projeções do crescimento econômico global e para as economias envolvidas mais diretamente na imposição de tarifas pelos EUA. Nesse sentido, a política tarifária de Trump evidencia um risco à inflação e ao crescimento, uma vez que os produtos importados aumentariam de preço e prejudicariam o crescimento do PIB. Da mesma maneira, no cenário internacional, haverá uma retaliação por parte das nações que irão reestruturar suas relações comerciais, desencadeando um aumento nas tensões entre estas.
Além das tarifas representarem um movimento para atingir as metas fiscais do governo americano, essas medidas funcionam como instrumento político e de barganha. Como maior potência econômica mundial, os EUA têm um papel importante para o fluxo da economia global, e portanto, com as medidas protetivas, qualquer iniciativa corrobora para o aumento da instabilidade econômica ao redor do globo e ao aumento da volatilidade dos mercados financeiros[5].
Assim, a adoção de políticas protecionistas com o objetivo de aumentar o poder de negociação dos norte-americanos com relação ao resto do mundo, ao invés de impulsionar a economia americana, pode gerar desequilíbrios estruturais econômicos e financeiros e tende a intensificar tensões entre os países, o que pode comprometer a cooperação internacional.
[1] HERZ, Monica e HOFFMANN, Andrea Ribeiro. Organizações Internacionais: história e práticas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
[2] CNN. Second term: Donald Trump. Disponível em: https://edition.cnn.com/2024/11/06/politics/second-term-donald-trump/index.html. Acesso em: 31/03/2025
[3] BOER, Lukas; RIETH, Malte. The macroeconomic consequences of import tariffs and trade policy uncertainty. International Monetary Fund, 2024.
[4] BBC NEWS. (2025, 17 de Março). Trade turmoil forecast to slash growth in Canada and Mexico. Disponível em: https://www.bbc.com/news/articles/c9wpq0g10xjo. Acesso em: 18/03/2025.
[5] GRIBEL, Alvaro. Trump: EUA perdem US$ 4 tri na bolsa, temem recessão e ‘índice do medo’ dispara; veja em 6 gráficos. Estadão, São Paulo, 17 mar. 2025. Disponível em: https://www.estadao.com.br/economia/trump-eua-recessao-indice-medo-veja-em-graficos/?srsltid=AfmBOooD1jkHJGP_qnYpHBxuczD6mo1ol-4aQ3LiyIf37YVE2svxJmma. Acesso em: 24 mar. 2025.