O México e a Argentina terão as piores recuperações da América Latina neste ano, com crescimento da economia compensando pouco as perdas de 2020. Diferentemente dos outros países da região, cuja alta do PIB terá magnitude similar à contração do ano passado, tanto a economia mexicana quanto a argentina terão expansão moderada. Segundo economistas, a crise na qual a Argentina está mergulhada desde 2018 e a falta de estímulos fiscais no México são alguns dos principais motivos.
Consultorias estimam que a região como um todo crescerá cerca de 6,8% neste ano, depois de contração de 5% em 2020. A Argentina deve crescer 6,2%, após queda de 10% no ano passado. No caso do México, a expansão por volta de 5,6% em 2021 ficará aquém do tombo de mais de 8% em 2020.
Argentina e México são também os países onde a pobreza mais avançou em 2020, segundo relatório recente da Cepal, o que tem impacto na recuperação econômica.
Em contraste com esses países, o Chile deve crescer 6,1% neste ano, depois de encolher 6,1% em 2020. A Colômbia pode crescer até 6,7%, após queda de 6,8% em 2020.
“Os casos da Argentina e do México refletem a idiossincrasia das políticas locais”, afirma Alberto Ramos, economista do banco Goldman Sachs. “A Argentina continua a ter déficit de orçamento alto, inflação alta, e emissão monetária para cobrir o déficit, além de estar amarrada com todos os tipos de controle – de capital, preços, no comércio”, diz. “Isso acaba se traduzindo em um crescimento medíocre ou abaixo de seus pares.”
Os controles que o governo do presidente argentino, Alberto Fernández, vem impondo à economia tornam o cenário para o investidor difícil e deprime o ambiente de negócios, afirma Andrés Borenstein, da consultoria Econviews. “A Argentina tem problemas que nenhum país da região tem. E está atrasada em uma agenda de reformas, como a trabalhista, na qual o Brasil já está mais avançado.”
No caso do México, Ramos diz que a falta de estímulo fiscal para mitigar os efeitos da covid-19 e a desconfiança do setor privado em relação ao governo do presidente Andrés Manuel López Obrador explicam a recuperação lenta. “O estímulo foi bem menor do que o restante dos países latino-americanos. E também há um ambiente doméstico marcado pela desconfiança em relação ao rumo da economia com López Obrador.”
Segundo o site Policy Responses to Covid-19, do Fundo Monetário Internacional (FMI), a resposta fiscal do México frente à pandemia foi de cerca de 2% do PIB. O pacote da Argentina foi da ordem de 6%, enquanto o do Brasil chegou a 12%. No Chile, o governo anunciou pacote de 4,5% e liberou saque parcial das contas de aposentadoria.
“O governo mexicano quase não deu apoio fiscal para a economia. Isso fez e continuará fazendo com que a demanda doméstica seja fraca”, diz Edward Glossop, da Capital Economics. Ele acrescenta que é improvável que a recuperação dos EUA impulsione o crescimento do México neste ano.
Isso indica que a fraqueza da recuperação do setor doméstico do México continuará a contrastar com um setor externo favorável. No ano passado, as remessas de mexicanos vivendo no exterior atingiram o recorde de US$ 40,6 bilhões, ante US$ 36,4 bilhões em 2019. Segundo relatório do Goldman Sachs, essa alta compensou as perdas com o turismo internacional e ajudou a levar a um superávit em conta corrente (resultado das transações de bens, serviços e rendas com o exterior) de 2,4% do PIB – o maior em mais de 30 anos.
O otimismo do setor externo serviu para amortecer a queda do PIB no ano passado, mas economistas não esperam cenário parecido neste ano. “É muito provável que, conforme a atividade se recupere nos próximos meses, as importações voltem a subir e o superávit em conta corrente diminua”, afirma Joan Domene, da consultoria Oxford Economics. Ele diz que as remessas dificilmente crescerão como no ano passado, já que uma parte considerável foi da poupança desses mexicanos no exterior.
Dentre as outras economias na região, o Chile está diante de um cenário externo positivo, com alta do preço de cobre, e uma campanha de vacinação que pode levar à reabertura antes dos outros países. Segundo o Vaccine Tracker, da Bloomberg, 21,4% da população do Chile já recebeu ao menos uma dose da vacina, bem à frente do Brasil (4%), Argentina (2,7%) e México (1,7%). As eleições gerais e da Assembleia Constituinte neste ano, no entanto, trazem incerteza que podem complicar a recuperação.
No caso da Colômbia, Ramos afirma que o nível de otimismo dependerá também da
aprovação da reforma tributária neste mês, que deverá indicar o nível de apoio político que tem o presidente Iván Duque. “Se o governo não conseguir tocar essa agenda no Congresso, o risco de rebaixamento pelas agências de classificação de risco será grande.”
No Peru, o crescimento de 8,7% no quarto trimestre de 2020 deve perder força no primeiro trimestre de 2021 diante do aumento de novos casos diários e restrições à mobilidade.
Com a lenta vacinação na maior parte da região, as restrições em outros países também devem ser mantidas nos próximos meses, o que ameaça a retomada.