Jack Dorsey deixa cargo de CEO do Twitter

Jack Dorsey, o cofundador do Twitter, deixou o cargo de CEO da rede social ontem, enquanto a empresa nomeava o diretor de tecnologia, Parag Agrawal, como seu sucessor. 

Dorsey, de 45 anos, não explicou o motivo de seu pedido de demissão, mas afirmou que a empresa está “pronta para ir em frente e se recuperar do trauma de romper relações com seus fundadores”. Em e-mail para os funcionários, ele disse ter “profunda” confiança em Agrawal, que ingressou no Twitter 10 anos atrás como engenheiro de software e avançou na hierarquia por sucessivas promoções. 

A sucessão é planejada há mais de um ano, disse uma pessoa familiarizada com o processo, como parte de uma trégua entre o Twitter e o fundo investidor ativista Elliott Management, que pressionou pela demissão de Dorsey. 

“Isso está em processo já há algum tempo. Era parte de um plano consolidado”, disse a fonte. Em prestação de contas às autoridades reguladoras, em novembro de 2020, o Twitter observou que tinha “atualizado o plano de sucessão do executivo- chefe em consonância com as melhores práticas”. 

As ações do Twitter fecharam em queda de 2,8% em Nova York após mudanças na diretoria, mas deram um salto de 10% nas transações pré-abertura, após a notícia ter sido divulgada em primeira mão pela CNBC. 

Embora Agrawal deva se tornar CEO imediatamente, Dorsey disse que permanecerá no conselho de administração até o vencimento de seu mandato, em meados do ano que vem, a fim de contribuir na transição. Bret Taylor, presidente e diretor operacional da Salesforce, será o novo presidente do conselho de administração.

O Elliott começou a atacar Dorsey quase dois anos atrás, argumentando que suas atividades tinham sofrido dispersão em decorrência de seu outro cargo, como diretor da empresa de pagamentos Square, e de seus outros interesses, entre os quais o bitcoin. 

O fundo hedge, que detém uma fatia de 4% no Twitter, tentou afastar Dorsey após ele ter dito que passaria pelo menos metade do ano na África prospectando oportunidades em criptomoedas, viagem posteriormente cancelada. 

“Tenho flexibilidade suficiente no meu horário para focar nas coisas mais importantes, e tenho boa noção do que é decisivo nas duas empresas”, disse Dorsey em sua defesa em um simpósio do Morgan Stanley em março em San Francisco. A Square informou ontem que Dorsey continuará a ser seu CEO. 

Dorsey, que foi cofundador do Twitter em 2006, foi despedido do cargo de CEO em 2008, quando um membro do conselho de administração, Fred Wilson, o declarou inapto para comandar a empresa. O colegiado teria citado um hábito de Dorsey, de sair cedo para ir às aulas de ioga como um dos motivos para a mudança. Dorsey permaneceu como presidente do conselho, mas voltou ao Tiwtter como CEO em 2015, após seu antecessor, Dick Costolo, pedir afastamento.

Para Dorsey, sua volta ao Twitter se assemelhou à volta de Steve Jobs à Apple em 1997, com a missão adicional de ter de recuperar os resultados de uma empresa que não tinha uma visão clara de como lidar com um universo de redes sociais cada vez mais competitivo, num momento em que as concorrentes Snapchat e TikTok ganhavam popularidade. 

Durante seu segundo período no cargo, enfrentou vários interrogatórios de órgãos reguladores americanos sobre liberdade de expressão, especialmente após ter estado à frente da proibição de uso da plataforma pelo ex-presidente Donald Trump na esteira da invasão do capitólio, em 6 de janeiro.

Um acionista manifestou preocupações de que o Twitter retiraria sua projeção de lucros anterior com um novo CEO, mas a empresa disse que “não haverá mudanças” em suas perspectivas para o ano ou em suas metas para 2023. 

Outro grande acionista disse que Dorsey tinha capacidade para promover grandes mudanças estratégicas, como a retirada de características fortes da rede, como os “feeds” cronológicos e o limite de 140 caracteres para tuítes. Mas, com o avanço da Square e seu plano de mudar para a África, seu envolvimento arrefeceu. 

Dorsey detém uma participação de 13% na Square e de 2% no Twitter. A receita de publicidade do Twitter cresceu 14% em 2020, para US$ 2,99 bilhões, o que representa um recuo em relação à expansão de 24% obtida no ano anterior. 

“É um pouco como o que acontece com diretores de clubes de futebol: poucos vão entoar seus nomes quando saírem do clube. Jack Dorsey vai sair um pouco como um Alex Ferguson, porque obteve resultados abaixo do normal, mas ainda é muito querido pelos funcionários”, disse Bruce Daisley, ex-vice-presidente do Twitter para a Europa. 

Ele acrescentou que Agrawal, um doutor em ciência da computação da Universidade de Stanford, é uma “presença formidavelmente inteligente, desprovida de valorização do próprio ego”. Mas disse que Agrawal não era do tipo “bom de prosa” no Vale do Silício ou um comunicador elegante. 

Outro ex-funcionário graduado do Twitter concordou que o novo CEO não é um dirigente “durão”, fortemente pautado pelo aspecto comercial, acrescentando que, em vez disso, ele tenderá a dar prosseguimento aos esforços de Dorsey de incorporar os ativos digitais e outros produtos descentralizados à plataforma. 

“Ele é muito empolgante e cerebral – ele não será um bombástico CEO da Amazon”, disse a fonte. “Vejo [a sucessão] como uma confirmação ao enfoque dado por Jack à liderança na empresa.” 

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2021/11/30/jack-dorsey-deixa-cargo-de-ceo-do-twitter.ghtml

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