O segundo funcionário mais importante do Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou ontem que a fragmentação da economia mundial e mudanças no comércio bilateral poderão desencadear uma “nova Guerra Fria”, dados o conflito na Ucrânia e as tensões entre os Estados Unidos e a China.
Gita Gopinath, a primeira vice-diretora-gerente do FMI, disse em Medellín, na Colômbia, que as perdas poderão chegar a algo entre 2,5% e 7% do PIB se a economia mundial se fragmentar em dois blocos, com EUA e Europa em um lado, e China e Rússia no outro.
“Embora não haja sinais de um retrocesso generalizado na globalização, linhas de ruptura estão surgindo à medida que a fragmentação geoeconômica se tornar cada vez mais uma realidade”, disse ela. “Se a fragmentação se aprofundar, poderemos nos ver em uma nova Guerra Fria.”
Os impactos da pandemia de covid-19, que paralisou o transporte de mercadorias, especialmente as vindas da China, assim como os efeitos da invasão da Ucrânia pela Rússia, que provocou um aumento nos preços da energia e das commodities, levaram governos a mudar seu foco para se protegerem, produzindo mais internamente ou passando a comprar de outros países com os quais têm relações mais estáveis.
Após anos de tensões comerciais crescentes e aumentos de tarifas, a China não é mais o maior parceiro comercial dos EUA. O México assumiu esse papel. A parcela da China nas importações dos EUA caiu de 22% em 2018 para 13% no primeiro semestre deste ano. Cerca de 3.000 medidas comerciais restritivas foram impostas no ano passado ao redor do mundo – quase três vezes o número verificado em 2019.
Essa fragmentação tem potenciais consequências graves que poderiam superar uma maior resiliência e segurança econômica internas, disse Gopinath. “Se não forem adequadamente geridos, os custos poderão facilmente superar esses benefícios, podendo reverter quase três décadas de paz, integração e crescimento que ajudaram a tirar bilhões de pessoas da pobreza”, acrescentou ela.
Gopinath observou que a fragmentação global tornaria difícil enfrentar desafios comuns como as mudanças climáticas e pediu aos países que implementem “abordagens pragmáticas que preservem o máximo possível os benefícios do livre-comércio”.
Um acordo do tipo “corredor verde” poderia garantir o fluxo internacional de minerais fundamentais para a transição para a energia limpa, disse ela, enquanto acordos similares para commodities alimentícias e suprimentos médicos poderiam prover fluxos mínimos entre as fronteiras num mundo cada vez mais instável.
