Em dois anos, ‘Big Techs’ aumentam lucro em US$ 10 bi

Microsoft, Google, Meta e Amazon acrescentaram quase US$ 10 bilhões a seus lucros nos últimos dois anos ao estenderem a vida útil estimada de seus servidores, uma mudança contábil que ajudará a amenizar o golpe de custos futuros como o desenvolvimento de inteligência artificial (IA) generativa. 

As chamadas “Big Techs”, que divulgaram na semana passada um forte crescimento nos lucros trimestrais, vêm revendo nos últimos anos a maneira como elas contabilizam a vida útil de seus equipamentos técnicos, ao mesmo tempo em que se encontram sob pressão para reduzir os custos e começarem a realocar recursos para os produtos de IA. 

Isso resultou em um aumento de US$ 6 bilhões nas receitas de Google [controlado pela Alphabet ] e Microsoft apenas no ano passado. Outros grupos, como a Amazon, prolongaram ainda mais a vida útil estimada de seus ativos este mês, o que significa mais lucros este ano. 

Como parte de suas contabilidades financeiras, as empresas estimam quanto tempo os ativos irão durar, a fim de calcular a rapidez com que os depreciarão, afetando o valor que eles cobram dos lucros a cada ano. 

Estender a vida estimada dos ativos reduz as despesas com depreciação, nesse caso acrescentando cerca de US$ 10 bilhões aos lucros divulgados coletivamente pelas companhias. 

Se as estimativas estiverem certas e as companhias conseguirem tirar um maior proveito de seus servidores, isso também reduzirá a quantia que elas gastarão no futuro, dando-lhes mais gás nos enormes gastos de capital que elas deverão ter com a IA. 

Ao mesmo tempo, as empresas estão antecipando problemas na cadeia de abastecimento em razão da escassez de semicondutores – os chips cruciais para as unidades de processamento central que alimentam os servidores e computadores. As companhias alertaram os investidores que farão grandes investimentos em suas infraestruturas técnicas neste ano, à medida que desenvolvem sistemas de ponta de IA generativa. 

As “Big Techs” estão “presas entre os investidores que se voltam cada vez mais para as margens, a lucratividade e os retornos de capital, e a necessidade de investir agressivamente na IA e na computação em nuvem”, diz Youssef Squali, da Truist Securities. 

Quando “o dinheiro está fluindo e as margens não são um problema”, prolongar a vida útil dos servidores não é uma “prioridade máxima”, diz ele. Mas agora, algumas empresas estão aumentando os gastos de capital enquanto tentam “se proteger da diluição das margens”. Essas mudanças contábeis “provavelmente são uma coisa que continuará sendo feita”, acrescenta ele. 

A Alphabet, controladora da Google, reduziu os custos de depreciação estendendo a vida útil de seus servidores e equipamentos de rede de quatro e cinco anos, respectivamente, para seis anos, economizando US$ 3,9 bilhões em 2023 e aumentando o lucro líquido em US$ 3 bilhões no ano, segundo suas contas. 

A Microsoft também decidiu que seus servidores durarão seis anos, e não quatro, o que aumentou seu lucro líquido em US$ 3 bilhões no ano passado. Ela disse na semana passada que “os avanços tecnológicos” e a “maior eficiência” na forma como ela opera seus equipamentos lhe permitiram estender a vida útil estimada. 

A Meta, controladora do Facebook, Instagram e WhatsApp, reduziu as despesas com depreciação em US$ 860 milhões em 2022, o que acrescentou US$ 693 milhões ao lucro líquido do ano. No entanto, as despesas com depreciação da Meta aumentaram em 2023 e esta semana ela alertou que elas deverão aumentar ainda mais em 2024. 

Enquanto isso, a Amazon aumentou seu lucro líquido em US$ 2,8 bilhões em 2022 graças a uma redução no custos com depreciação de US$ 3,6 bilhões, depois que ela estendeu a vida útil de seus servidores de quatro para cinco anos. 

Nesta semana, a Amazon disse que estendeu ainda mais a vida útil de seus servidores, o que ela prevê que aumentará seu lucro operacional em US$ 3,1 bilhões em 2024, gerando lucros adicionais de US$ 900 milhões somente no primeiro trimestre. 

No entanto, as recompensas com os custos da depreciação são superadas pelas despesas de capital esperadas para cada empresa este ano, uma vez que elas estão investindo grandes somas na construção da arquitetura de novos centros de dados e na melhoria de suas infraestruturas técnicas para a ampliação dos serviços de IA, como softwares de computação em nuvem e chatbots de IA generativa. 

Scott Kessler, um analista de investimentos da Third Bridge, diz que as economias com depreciação deveriam ser consideradas no contexto de centenas de bilhões de dólares em receitas que os grupos obtiveram, observando que vários bilhões de dólares para uma “Big Tech” são basicamente “um erro de arredondamento”. 

A Meta revisou esta semana sua previsão de gastos de capital para 2024 em algo entre US$ 30 bilhões e US$ 37 bilhões, ou US$ 2 bilhões a mais que o esperado. Microsoft e Google também alertaram para um aumento dos custos técnicos este ano, para o desenvolvimento de IA. 

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2024/02/06/em-dois-anos-big-techs-aumentam-lucro-em-us-10-bi.ghtml

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