Demanda digital ajuda a manter interesse por startup

O investimento em startups na América Latina teve, em 2019, o terceiro ano consecutivo de crescimento superior a 100%. Segundo dados compilados pela Associação Latino-Americana de Private Equity e Venture Capital (Lavca), foram mais de US$ 4,6 bilhões aportados em companhias iniciantes na região, contra US$ 1,98 bilhão em 2018. 

Com a pandemia, a sequência de altas tão acentuadas será interrompida em 2020, com investidores mais cautelosos. Mas o ritmo tende a se manter forte. Além da aceleração de algumas tendências do mundo digital esperadas para o “pós-covid”, os fundos de investimento em venture capital precisam alocar os recursos captados ao longo de 2019. Foram levantados US$ 1,08 bilhão com investidores, quase dois terços a mais que os US$ 670 milhões registrados em 2018 e um recorde para o mercado. 

“A gente continua vendo de 60 a 100 negócios por mês e, entre março e abril, fechamos 6 investimentos”, diz Marcos Toledo, co-fundador e diretor do fundo Canary, que investe em empresas em fase inicial de desenvolvimento de seus produtos (seed). Toledo diz que é difícil precisar o tamanho da desaceleração que pode ocorrer, mas a tendência é que uma retomada do ritmo ocorra de forma mais rápida que na economia de forma geral. 

Apesar do aumento significativo nos volumes de recursos investidos em 2019, houve uma maior concentração no número de rodadas e de fundos que fizeram captações. O movimento acontece porque startups e fundos que já apresentaram um bom desempenho tendem a atrair mais interesse dos investidores, logo, mais recursos. 

Ao todo, 440 startups foram financiadas em 2019, 23 a menos que em 2018. Com isso, o valor médio aportado por companhia mais que dobrou, passando de US$ 4,3 milhões para US$ 10,5 milhões. As rodadas superiores a US$ 50 milhões ficaram mais frequentes. Foram 18, sendo que 11 ficaram acima de US$ 100 milhões. O destaque foi para a rodada de US$ 1 bilhão da japonesa SoftBank na colombiana Rappi. A SoftBank, aliás, participou de 10 dessas rodadas de grande porte. 

Em termos de fundos, foram 28 veículos captando recursos, contra 30 um ano antes. Só o argentino KaszeK, um dos mais ativos no financiamento de companhias que estão começando a acelerar seu crescimento, levantou US$ 600 milhões em dois fundos – um de US$ 375 milhões voltado a novos investimentos e outro de US$ 225 milhões para aportes nas empresas de seu portfólio. 

As startups que atuam no setor financeiro, as fintechs, foram as que mais receberam atenção dos investidores em 2019. Elas representaram uma em cada cinco transações e ficaram com quase um terço dos dólares investidos. 

As companhias de biotecnologia e saúde ganharam destaque, sendo a segunda área de maior interesse, com 32 aportes (9% do total), mas por conta dos tíquetes menores das transações, elas não tiveram o mesmo destaque em termos de valores. Logística e distribuição foi o segundo setor que recebeu mais dinheiro, com um quarto do total. 

O segmento de imóveis também se destacou, com mais que o dobro de rodadas feitas, chegando a 30 e quase 10% do total de recursos. A principal operação foi o investimento de US$ 250 milhões recebido pelo QuintoAndar, que elevou a companhia ao status de unicórnio (com valor de mercado superior a US$ 1 bilhão. Além dela, outras cinco empresas alcançaram esse patamar: as brasileiras Ebanx, Gympass, Loggi e Wildlife Studios e a argentina Auth0. 

As startups brasileiras se mantiveram como as que mais receberam recursos em 2019. Foram US$ 2,49 bilhões em 222 investimentos. Mais da metade dos aportes (116) foi realizado no estágio de “seed”. 

Na avaliação de Renato Valente, que deixou o braço de investimento em startups da Telefónica, a Wayra, para se juntar à gestora Iporanga Investimentos, a maior cautela dos investidores diante dos efeitos da pandemia tende a afetar mais as companhias que estão em estágio avançado de desenvolvimento e, por isso, buscam rodadas de investimento de valores mais altos, que normalmente contam com a participação de investidores estrangeiros. “Investidores de fora vão pensar duas vezes em colocar recursos aqui”, diz. 

Para aportes em companhias em estágio de aceleração de crescimento, onde a Iporanga e outros fundos brasileiros atuam, a disponibilidade de recursos é maior. 

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/05/06/demanda-digital-ajuda-a-manter-interesse-por-startup.ghtml

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