Esqueça Xi Jinping e Vladimir Putin, presidentes da China e da Rússia. Ou até mesmo Donald Trump, seu antecessor. O maior inimigo hoje do presidente Joe Biden é a inflação dos Estados Unidos. Muitos analistas atribuem a queda drástica na popularidade do governo Biden à alta acelerada nos preços da economia americana.
Segundo pesquisa de opinião da Reuters/Ipsos, divulgada na semana passada, o índice de aprovação de Biden caiu para 41%, menor nível desde que ele assumiu a Casa Branca. E uma parcela cada vez maior dos americanos acredita que a situação econômica vai piorar, com a inflação no centro das preocupações.
Em 2021, o índice de preços ao consumidor fechou em alta de 7%, maior taxa em 40 anos. Foi um choque para os americanos, que se desacostumaram com uma carestia salgada. Aliás, no início de 2021, a previsão dos analistas e até do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) era de que a inflação no ano subiria apenas 1,8%.
A insatisfação poderá aumentar. Amanhã, será divulgado o índice de janeiro. E o consenso das estimativas dos analistas é de que a inflação anual atingirá novo recorde: 7,3%. A pressão seguirá vindo de aluguéis residenciais, carros usados, alimentos e, sobretudo, combustíveis.
Parte da explicação para a aceleração da inflação pode ser descrita como um fenômeno global: gargalos das cadeias mundiais de produção causados pela pandemia, o que resultou em escassez de insumos.
Todavia, muitos economistas renomados não eximem o presidente Biden de responsabilidade pela inflação mais alta do que o esperado. O aumento de gastos proposto por Biden para combater o impacto econômico da pandemia, como o auxílio-desemprego emergencial, provocou um aquecimento da demanda, além de inibir a oferta de mão de obra, gerando uma inflação de salários.
“A alta no custo de vida está superando o ganho dos salários, corroendo o poder de compra”, diz o economista-chefe internacional do banco ING, James Knightley. “Isso está deixando os americanos ansiosos e, se as medidas adotadas por Biden foram percebidas como causa da inflação, mesmo que parcialmente, o partido Democrata poderá sofrer um sério revés nas eleições legislativas em novembro.”
Problemas da política externa, como a ameaça de invasão da Ucrânia pela Rússia ou a desastrosa retirada das tropas americanas do Afeganistão, vão ser temas dessas eleições, mas as questões domésticas serão o fator decisivo. E a inflação está no topo das insatisfações. Uma taxa anual ainda acima de 3% ou 4% pode ser desastrosa para os democratas.