WPP compra a brasileira DTI e entra em software

O grupo britânico WPP, maior conglomerado de publicidade e relações públicas do mundo em receita, adquiriu a DTI, empresa brasileira de tecnologia que tem sede em Belo Horizonte. Com cerca de 800 funcionários, a maioria profissionais de software, a DTI cria e integra sistemas para ajudar na adaptação dos negócios à economia digital – um tipo de serviço cada vez mais procurado à medida que as companhias tentam se estabelecer na internet. Sob o acordo, cujos detalhes financeiros não são revelados, a DTI passará a integrar a rede de empresas da WPP, mas manterá marca e autonomia administrativa. Os sócios fundadores preservarão uma participação minoritária e continuarão à frente das operações diárias. 

“É uma aquisição muito importante para a WPP”, disse Mark Read, presidente mundial do grupo, ao Valor. “Trata-se da primeira aquisição desde nossa reunião com investidores, em dezembro, e está muito de acordo com os objetivos que estabelecemos naquele momento de investir nos segmentos de mais rápido crescimento de nosso negócio, na construção de plataformas tecnológicas para nossos clientes. A DTI é uma das melhores empresas capazes de fazer isso no mundo.” 

A decisão também levou em conta o papel estratégico que o Brasil ocupa para os negócios do grupo, afirmou Read. “É um mercado fantástico. Temos cerca de 4 mil funcionários no país. O Brasil está entre os dez maiores mercados do mundo para nós e tem se mostrado, de maneira consistente, uma das regiões de mais rápido crescimento.” 

A WPP é dona de marcas como Ogilvy, Y&R, Wunderman Thompson e JWT, entre muitas outras. No Brasil, fontes de mercado estimam que o faturamento anual do grupo é da ordem de R$ 1,8 bilhão. 

A aquisição da DTI é um movimento significativo porque acentua uma tendência de mercado. Nos últimos anos, as agências de publicidade vêm ampliando seus negócios de consultoria, com a compra de companhias especializadas. Essa estratégia as colocou em rota de competição direta com empresas tradicionais da área, como Accenture e Deloitte. Agora, elas parecem dispostas a ir ainda mais fundo nessa direção ao ingressar no mercado de software. 

As consultorias, por sua vez, também têm feito incursões na publicidade, com a aquisição de agências de propaganda, o que cria um novo cenário competitivo. 

A situação remete ao que tem ocorrido no setor de mídia, no qual grupos de conteúdo, como redes de TV e estúdios de cinema, passaram a investir pesadamente em tecnologia para fazer frente a competidores que percorreram o caminho contrário: partiram da área tecnológica para disputar o mercado de entretenimento com a oferta de serviços como streaming e jogos on-line. O resultado foi a criação das chamadas “mediatechs”, que combinam os dois DNAs. 

Essa transformação também está se dando no mercado de propaganda, reconheceu Read. “Definitivamente, as agências de publicidade estão virando empresas de tecnologia. É assim que eu descreveria a WPP”, disse. 

O que vai definir os papéis dos competidores nesse novo horizonte é a criatividade, afirmou o executivo. “Somos uma companhia de tecnologia que tem ideias em seu centro, da mesma maneira como histórias estão no coração de um jornal e peças de conteúdo no de uma emissora de TV. No fim das contas, acho que a criatividade é um traço que distingue as agências de publicidade e nos ajudará a competir com as empresas de consultoria.” 

Marca desse novo perfil, a WPP já atua na área de comércio eletrônico com 76 de seus 100 maiores clientes. No ano passado, 20 mil de seus mais de 107 mil funcionários receberam certificação para trabalhar com tecnologia de empresas como Google, Adobe e Salesforce. 

Os grupos de tecnologia também têm se tornado clientes cada vez mais relevantes. Ao todo, 25% das receitas líquidas globais da WPP vêm, atualmente, de empresas dos setores de tecnologia, mídia ou telecomunicações. 

Independentemente da área, no entanto, a pandemia intensificou de “maneira brutal” a busca dos clientes para explorar melhor a internet, disse Stefano Zunino, diretor-geral da WPP no Brasil. “As empresas sempre pedem soluções mais integradas”, afirmou. No ano passado, por exemplo, agências da WPP ajudaram a Casas Bahia a montar seu sistema de vendas via WhatsApp e a BMW a lançar sua primeira loja virtual. 

Até agora, essas ações concentraram-se mais em consultoria, mas, com a DTI, o grupo ganhará capacidade imediata de trabalhar também com implementação de sistemas, disse Zunino. “Para nós, é um divisor de águas.” 

A DTI foi fundada em 2009 para criar sistemas de negócio sob o chamado método ágil, que prevê o desenvolvimento de software em prazos curtos. Com o passar do tempo, aproximou-se da área criativa, o que facilitou o encontro com a WPP. “Somos complementares”, disse Marcelo Szuster, fundador e presidente da companhia. Entre os clientes da DTI estão Vale, Localiza, MRV, Gerdau e Serasa Experian. 

Nos últimos anos, a DTI deu início à sua estratégia de internacionalização, com o atendimento de algumas empresas no exterior. Agora, como parte da rede da WPP, essa perspectiva ganha força, disse Szuster. Com receita global de US$ 13,23 bilhões, a WPP atua em 112 países. 

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2021/02/10/wpp-compra-a-brasileira-dti-e-entra-em-software.ghtml

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