Verdes e liberais rejuvenescem Congresso alemão

Emilia Fester tem 23 anos e ainda precisa terminar a faculdade. Max Lucks tem 24 anos e se define como um ciclista militante. Ria Schröder tem 29 anos e a bandeira do arco-íris em seu perfil do Twitter. Muhanad Al-Halak tem 31 anos e veio do Iraque para a Alemanha quando tinha 11. Todos eles estão agora no Parlamento Alemão.

O resultado da eleição alemã ocorrida há oito dias foi, em muitos aspectos, uma confusão. O Partido Social-Democrata, liderado por Olaf Scholz, ganhou por pouco. Nenhuma legenda teve mais que 25,7%. Os eleitores espalharam seus votos igualmente entre candidatos associados tanto com a direita quanto com a esquerda.

Mas uma coisa está clara: os alemães elegeram seu Parlamento mais jovem até agora, e os dois partidos no centro dessa mudança geracional, o Partido Verde e os Democratas Livres, não irão apenas moldar o próximo governo, mas também estão preparados para ajudar a formar o futuro do país.

No momento, o Partido Verde, focado nas mudanças climáticas e na justiça social, e os Democratas Livres, que fizeram campanha pelas liberdades civis e pela modernização digital, são os reis. É quase certo que quem se tornar o próximo chanceler vai precisar dos dois para formar um governo.

Por décadas, a Alemanha foi governada por dois partidos rivais do establishment, ambos conduzidos por homens mais velhos, e mais recentemente, por uma mulher um pouco mais velha. Na verdade, quando Angela Merkel assumiu em 2005, com 51 anos, se tornou a chanceler mais jovem de todos os tempos. O eleitorado alemão ainda é mais velho, com um a cada quatro eleitores com mais de 60 anos, mas foi um voto mais jovem, em parte raivoso, que fez esses dois partidos emergirem. 

Entre os eleitores abaixo de 25 anos, 44% votaram no Partido Verde e nos Democratas Livres, comparados a apenas 25% da mesma idade que escolheram os Democratas Cristãos, partido de centro-direita de Merkel, e os social-democratas, centro-esquerda.

O efeito mais imediato será sentido no Parlamento. Aproximadamente um em cada sete legisladores do Parlamento que sai tinha menos de 40 anos. Agora a proporção está mais próxima de um para três e a idade média do novo Parlamento passou a ser de 47,5 anos.

“Temos uma divisão geracional, uma polarização muito forte que não havia antes: são os que têm menos de 30 contra os que têm mais de 50,” disse Klaus Hurrelmann, um sociólogo que estuda os jovens na Hertie School, em Berlim. 

O Partido Verde ficou em terceiro lugar e os Democratas Livres em quarto, ambos vendo sua cota de votos aumentar. Seus líderes conversaram entre si – um passo sem precedentes – antes de se encontrarem com os representantes dos partidos maiores para as negociações de coalizão, um processo iniciado no fim de semana.

Em vez de divulgar o encontro através de um jornal ou de uma emissora pública, eles postaram uma selfie de seus quatro líderes no Instagram, causando sensação em um país onde a discussão política focou-se mais em frear as redes sociais do que utilizá-las para alcançar um novo público.

Muitos dos jovens legisladores mudando agora para Berlim, como Lucks, dizem que irão de bicicleta – no caso de Fester – ou de skate para o trabalho. Alguns pretendem morar em casas comunitárias. Outros planejam reuniões entre partidos com “beer pong”. E todos estão comunicando-se regularmente com seus eleitores pelas redes sociais.

As pesquisas sugerem que as duas questões que mais pareceram animar os jovens eleitores foram mudança climática e liberdade. “Não há nenhum assunto mais importante que a mudança climática – é existencial,” disse Roberta Müller, uma eleitora que votou pela primeira vez, aos 20 anos, no distrito de Steglitz em Berlim. O gerenciamento da pandemia também teve um papel importante. As escolas fecharam e os cursos universitários tornaram-se virtuais, enquanto bilhões de euros de auxílio fluíram para a economia para manter os negócios funcionando e evitar demissões generalizadas. “Salões de cabeleireiro foram mais importantes que a educação durante a pandemia,” disse Fester, do Partido Verde, que, aos 23 anos, é a mais jovem de 735 membros do novo Parlamento. 

Haverá mais mulheres e legisladores de minorias étnicas do que nunca – e os primeiros dois membros trans do Parlamento alemão. Apesar de ter uma mulher como chanceler por 16 anos, a porcentagem de mulheres aumentou apenas modestamente em relação aos 31% da legislatura anterior.

Os partidos menores alemães têm tradicionalmente se definido por questões, ao invés de adotarem posições ideológicas amplamente definidas. Eles também concordam em várias coisas. Os dois partidos querem legalizar a cannabis e diminuir a idade do voto para 16 anos. “Há outras coordenadas no sistema agora, progressivas e conservadoras, coletivas e individuais, que descrevem bem melhor as diferenças do que esquerda e direita”, disse Schröder.

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