Empresas pedem clareza dos EUA sobre China

O governo do presidente dos EUA, Joe Biden, começará a revelar sua política comercial para a China nesta semana, na sequência do que classificou de uma completa revisão das tarifas de importação e outras medidas impostas pelo governo de Donald Trump. 

A representante comercial dos EUA (USTR), Katherine Tai, deve falar sobre a política comercial do governo em um discurso em Washington. É o primeiro passo na abordagem de uma série de questões não resolvidas entre os EUA e a China, quase nove meses depois de Biden assumir a Presidência. 

Grupos empresariais têm cobrado clareza do governo Biden sobre, entre outras coisas, se a Casa Branca planeja iniciar negociações com Pequim para dar seguimento ao acordo comercial de “Fase Um”, firmado em janeiro de 2020, e se as tarifas sobre as importações chinesas continuarão em vigor. 

“Precisamos nos perguntar se realmente queremos que essas sobretaxas se tornem permanentes”, disse Craig Allen, presidente do U.S. China Business Council, associação representativa de empresas americanas com grandes operações chinesas. Allen disse estar preocupado com o fato de o governo Biden ter se sentido à vontade para deixar tantas tarifas em vigor por tanto tempo. “Isso vai distorcer o relacionamento entre os EUA e a China para sempre”, disse ele. 

Desde que assumiu o cargo, em março, Tai tem usado o processo de revisão do governo para se esquivar de boa parte das questões sobre a China. Ela já disse que trabalharia dentro dos parâmetros do acordo de Fase Um do governo Trump, que inclui um mecanismo, ainda a ser testado, para garantir sua aplicação, caso um dos países não cumpra sua parte. 

É provável que o discurso de Tai no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, em Washington, seja sua avaliação mais detalhada da estratégia da China até agora, embora muitas políticas específicas tenham de ser implementadas por meio do processo regulatório e podem não ser descritas em pormenores em um discurso. 

A partir de 2018, o governo Trump impôs tarifas sobre importações chinesas equivalentes a quase US$ 370 bilhões. O governo Biden ainda não mexeu nessas tarifas, embora elas não tenham mais o impacto que tiveram. 

Os importadores mudaram para produtos da China que não estavam sujeitos às tarifas e no início deste ano elas cobriam apenas o equivalente a US$ 250 bilhões. 

Muitos importadores dos EUA – que são os que pagam as sobretaxas – estão irritados porque não conseguem fazer o pedido de isenção das tarifas. O governo Trump havia criado um processo pelo qual importadores americanos podiam pedir exclusões. Mas o governo Biden permitiu que esse processo expirasse, argumentando a necessidade de uma revisão. Isso deixou muitas empresas em uma situação em que eram obrigadas a pagar tarifas enquanto seus concorrentes chineses, não. 

Outro ponto a ser resolvido é a extensão do compromisso da China de comprar produtos dos EUA. Uma peça central do acordo Fase Um foi a promessa de Pequim de aumentar suas compras de soja, milho, carne, produtos energéticos e bens manufaturados. 

O acordo previa que a China ampliasse suas compras de bens e serviços em mais US$ 200 bilhões ao longo de 2020 e 2021. No ano passado, o país ficou aquém da meta de compras de bens em quase 40%, segundo Chad Bown, colaborador sênior do Peterson Institute for International Economics que monitora a iniciativa. Neste ano, com ainda quatro meses pela frente, a China está a caminho de ficar 30% abaixo de sua meta. 

Os transtornos econômicos provocados pela pandemia de covid-19 tornaram as metas muito mais difíceis de alcançar do que se previa. Até agora, não houve para a China nenhuma consequência pelo fato de não ter cumprido as metas por uma margem tão ampla. 

A Fase Um continha metas específicas para 2020 e 2021, o que significa que na prática esse ponto do acordo expirará no fim do ano. 

“Não estou convencido de que a abordagem de definir um compromisso de compra tenha tido muita influência sobre a China”, disse Bown. “Depois de quase dois anos, parece que a China comprou o que precisava – muitos produtos agrícolas e semicondutores -, mas não comprou o monte de aviões ou automóveis que o governo Trump queria.” 

Uma área em que o governo Biden deixou clara sua insatisfação é a das políticas da China em relação à propriedade intelectual. Em um relatório de abril, o USTR avaliou que o país precisa fazer mais para proteger a propriedade intelectual dos EUA. Embora a China tenha alterado várias de suas leis sobre propriedade intelectual como previa o acordo, também adotou novas táticas que, na opinião de seus críticos, ameaçam de novo comprometer patentes americanas. 

O governo Trump chamara seu acordo de Fase Um porque, como declarara, os dois lados começariam a negociar logo uma segunda fase. Mas quase dois anos depois, nenhuma negociação desse tipo começou. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2021/10/04/empresas-pedem-clareza-dos-eua-sobre-china.ghtml

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