Turquia intensifica confronto com UE e EUA

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, ordenou que dez embaixadores de países ocidentais sejam declarados ‘persona non grata’, o que cria o risco de piorar ainda mais as relações já profundamente tensas da Turquia com a Europa e os Estados Unidos. 

Erdogan parece ter avançado em sua ameaça anterior de expulsar os embaixadores, entre eles o dos EUA e o da Alemanha. A decisão pode implodir esforços recentes de Ancara para restaurar os laços com Washington e a UE, e causar mais dificuldades à lira turca, que se desvalorizou drasticamente nas últimas semanas, em meio a preocupações com a economia. 

Erdogan indicara que os diplomatas seriam obrigados a deixar o país depois de terem assinado uma declaração conjunta, divulgada na segunda-feira passada, em que reivindicavam a libertação do empresário e filantropo Osman Kavala. 

“Eu dei a ordem ao nosso ministro das Relações Exteriores, e disse o que deve ser feito: ‘Esses dez embaixadores devem ser declarados persona non grata imediatamente. Você vai resolver isso imediatamente’”, disse ele em um discurso na cidade de Eskisehir, no noroeste do país. 

A declaração conjunta dos dez embaixadores – de Canadá, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Suécia e EUA – cobrava uma resolução rápida e justa para o caso de Kavala, que está na prisão há quatro anos, sob a acusação de tentar derrubar o governo. 

Grupos de defesa dos direitos humanos, partidos de oposição e até integrantes do próprio partido de Erdogan classificam as acusações de frágeis e com motivação política. Em 2019, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos ordenou sua libertação. 

Mas Kavala permanece enredado em uma série de julgamentos kafkianos. No ano passado, ele foi absolvido das acusações de que orquestrou os protestos do Parque Gezi em 2013, apenas para ser preso novamente horas depois. 

Kavala, de 64 anos, tornou-se um símbolo da repressão conduzida pelo presidente na sequência de uma tentativa de golpe em 2016. Erdogan sustenta, porém, que ele é um “terrorista”. 

A decisão do presidente cria o risco de infligir mais prejuízos à já debilitada lira turca, que teve uma série de níveis recordes de baixa nas últimas semanas, em meio à preocupação dos investidores sobre a interferência de Erdogan na política monetária e sua gestão mais geral da economia de US$ 765 bilhões. 

Na sexta-feira, a lira turca atingiu seu ponto mais baixo, de 9,66 por dólar, depois que o Banco Central surpreendeu os mercados na quinta-feira ao cortar sua principal taxa de juro em um momento de alta da inflação e instabilidade financeira crescente. Depois das declarações de Erdogan, o principal líder da oposição do país, Kemal Kilicdaroglu, acusou-o de agir não no interesse nacional, mas no de “fabricar justificativas falsas” para o estado da economia. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2021/10/25/erdogan-intensifica-confronto-com-ue-e-eua.ghtml

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