Pressionado pelo derretimento do rublo em meio ao agravamento dos efeitos da Guerra da Ucrânia sobre a economia russa, o Banco Central do país elevou nesta terça-feira (15) em 3,5 pontos a taxa de juros.
Agora, o índice, definido numa reunião de emergência, é de 12%, após ter subido 1 ponto na reunião ordinária de julho. Foi a resposta possível ante uma escalada depreciativa da moeda, que chegou a mais de 100 rublos por dólar na segunda-feira (14), algo que só havia ocorrido quando Vladimir Putin decidiu invadir a Ucrânia, no final de fevereiro do ano passado, e então houve uma corrida pela divisa americana.
Após o anúncio, o rublo se estabilizou um pouco abaixo dos 100 por dólar —apenas neste ano, a moeda russa perdeu 40% de seu valor. Há alguns fatores para o ensaio de crise numa economia que foi desplugada do dia para a noite do sistema de trocas internacionais comandado pelo Ocidente, como punição pela agressão ao vizinho, mas que conseguiu resultados surpreendentes até aqui.
Concorre para o derretimento do rublo o aumento brutal do déficit público devido aos gastos com a guerra, o que reduziu em 85% o superávit primário do governo de 2022 para cá, segundo a Rosstat, o IBGE local.
Isso, somado à inflação crescente devido ao reaquecimento da economia —e que deverá aumentar 1,5% neste ano, de acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional)— e à ampliação do custo de importações e de mão de obra em razão das sanções impostas pelo Ocidente, levou ao cenário de desconfiança.
Ele foi explicitado na segunda-feira pelo assessor presidencial Maxim Orechkin, uma das vozes que Putin escuta quando o assunto é economia. Ele criticou o que chamou de política monetária suave diante da crise do rublo. Com efeito, a taxa real, descontada a inflação, estava negativa em 0,14%. O Brasil, mesmo com o corte recente na Selic para 13,25%, está no pelotão de frente do ranking mundial.
Ato contínuo, o Banco Central russo convocou a reunião de emergência para esta terça. Quando a guerra estourou e as sanções vieram, o órgão subiu os juros para 20%, visando a evitar uma fuga descontrolada de capitais. A estabilização do cenário levou, contudo, a uma queda expressiva ao longo de 2022, com a taxa parando em 7,5% ao ano no segundo semestre, só sendo elevada na reunião anterior do banco.
As críticas e a reação explicitaram o fator político que move todas as decisões na Rússia hoje, lançando dúvidas sobre a independência de Elvira Nabiullina, a presidente do Banco Central, vista no mercado como uma das operadoras do milagre de o país não ter quebrado com as sanções.
Outro fator é que Putin disputará a reeleição pela quarta vez em 2024, e a desvalorização excessiva do rublo tem grande impacto na já fragilizada classe média do país. Não que haja competição real no sistema político ossificado vigente, mas parte do pacto de poder do Kremlin inclui boa aprovação popular.
A inflação, como mostra o comunicado do Banco Central, é a preocupação central. Ela chegou a quase 18% logo após a invasão, na taxa anualizada, e caiu para 2,3% em abril deste ano. Agora, vinha numa ascendente, com previsão de chegar ao fim de 2023 em 6,5%, ante uma meta de 4% do banco.
Por outro lado, o rublo mais fraco favorecia a máquina de guerra de Putin por aumentar os lucros com a exportação de petróleo, derivados e gás, cujo preço é em dólar e que tem China, Índia e Brasil como ávidos compradores. Ainda assim, os três últimos meses registraram queda expressiva nos ganhos, em parte pela desaceleração chinesa.
“O que não se sabe é se a medida será eficaz ou só paliativa”, afirmou, por mensagem de texto, a analista Marina Orinova, que trabalha para dois bancos de investimento em Moscou. Operadores ocidentais ouvidos por agências de notícias foram na mesma linha, citando que o problema subjacente para a economia russa é a guerra.
