Primárias em seis estados são 1º round entre Biden e Sanders

Quatro anos atrás, o senador Bernie Sanders, de Vermont, conseguiu uma vitória inesperada contra Hillary Clinton na primária democrata em Michigan, reanimando sua candidatura rebelde uma semana depois que suas perspectivas políticas diminuíram por causa das derrotas na Super Terça.

Agora Sanders precisa novamente com urgência de uma vitória na primária no estado, depois de mais uma Super Terça decepcionante. Desta vez, contra o ex-vice-presidente Joe Biden.

Sanders alterou sua agenda para manter três dias de eventos e comícios em Michigan. Ele intensificou os ataques a Biden sobre comércio, uma questão importante no estado; em Dearborn, no sábado (7), lembrou que esteve nos piquetes em protesto contra acordos comerciais “desastrosos”.

E sua campanha arranjou um evento em Flint, no sábado à noite, com o objetivo explícito de defender as teses de Sanders aos eleitores negros, que até agora favoreceram amplamente Biden. O evento atraiu principalmente eleitores brancos, porém, e o senador em geral reiterou seu discurso habitual.

Enquanto Biden agora tenta alavancar seu sucesso na Super Terça e aumentar o impulso, Sanders pode enfrentar probabilidades ainda mais remotas em Michigan do que enfrentou em 2016. O estado que Sanders na semana passada chamou de “muito, muito importante” de repente lhe parece hostil.

Biden, apesar de ter uma operação fraca em Michigan, parece que provavelmente se sairá bem com democratas negros e eleitores brancos de educação superior, dois grupos que lhe deram margens decisivas na Virgínia, na Carolina do Norte e em vários outros estados na Super Terça.

E as tendências de votos e boca de urna em alguns desses estados indicam que Sanders perdeu força entre os eleitores brancos da classe trabalhadora, que, inquietos com Hillary em 2016, deram a ele uma vitória arrasadora em grande parte do centro e norte de Michigan naquele ano.

Com 125 delegados, Michigan é o estado mais populoso a votar na terça, e o primeiro dos grandes “campos de batalha” do Meio-Oeste a votar —um troféu da eleição geral que o presidente Donald Trump arrancou com dificuldade dos democratas em 2016, numa vitória apertada.

Mas Michigan também pode representar um guia para o restante da corrida primária democrata.

Com Biden parecendo forte no sul e Sanders vencendo no oeste, o Meio-Oeste industrial poderá efetivamente decidir a nomeação.

E se Sanders não conseguir vencer em Michigan poderá ter dificuldades quando Ohio e Illinois votarem em 17 de março e Wisconsin em 7 de abril, enquanto ao mesmo tempo mina suas afirmações sobre expandir o eleitorado em alguns dos estados indecisos mais importantes na eleição geral.

“Michigan é um estado importante para se sair bem, porque as questões que enfrentam os moradores aqui são as que vemos em todo o país, por isso uma mensagem e um comparecimento fortes aqui serão extremamente úteis para a nomeação”, disse a deputada Rashida Tlaib, uma das principais apoiadoras de Sanders no estado.

Reconhecendo as apostas aqui, Sanders está atacando Biden por seu apoio ao que ele chamou de “acordos comerciais desastrosos como o Nafta”.

E sua campanha está veiculando um comercial no estado industrial que apresenta um ex-trabalhador da indústria de automóveis salientando a falta de arrependimento do ex-vice-presidente por apoiar o pacto, enquanto aponta que Sanders se opôs a acordos de livre-comércio.

Ao se dirigir a apoiadores em Dearborn, Sanders dedicou cerca de um terço do discurso básico a atacar Biden, não só sobre comércio, mas também sobre programas de elegibilidade, apoio à guerra no Iraque e a disposição a aceitar doações de doadores ricos.

“Nossa campanha e nosso governo têm a ver com representar as famílias de trabalhadores do país”, disse Sanders.

Abdul El-Sayed, um apoiador de Sanders que concorreu a governador em 2018, disse acreditar que os democratas de Michigan verão claras diferenças entre os dois candidatos.

“O livre comércio ajudou a dizimar os empregos fabris. Bernie sempre foi contra isso; Biden foi a favor”, disse ele.

Mas as tendências eleitorais recentes em Michigan não são animadoras para Sanders. Em 2018, os democratas de Michigan se uniram por trás de diversos moderados —notadamente Gretchen Whitmer na corrida para governador e Haley Stevens e Elissa Slotkin em disputas para o Congresso— e acabaram ganhando assentos de republicanos e afrouxando o controle do partido no estado.

El-Sayed, que disputou com Whitmer para governador sobre questões progressistas como o Medicare para Todos, gozou do apoio de Sanders e de uma enxurrada de atenção da mídia em 2018, mas não conquistou um único município naquela primária.

Whitmer, uma ex-líder democrata no Senado estadual cuja promessa mais memorável foi “consertar as malditas estradas”, o superou por quase 22 pontos.

A candidatura de Sanders pode realmente depender de ele se sair melhor com negros no Meio-Oeste do que conseguiu no sul —e se ele puder replicar sua força com trabalhadores brancos que abandonaram Hillary na primária e na eleição geral.

Os apoiadores de Biden, por sua vez, afirmam que ele está em melhor posição que Hillary estava, inclusive com sindicalistas que gostam do ex-vice-presidente e não querem que seu seguro-saúde mude sob um sistema de Medicare para Todos.

“A conexão com os trabalhadores aqui está em um nível completamente diferente”, disse o ex-prefeito de Detroit Mike Duggan, apoiador de Biden, notando que o ex-vice-presidente apoiou a indústria de carros durante a Grande Recessão.

“Temos um candidato que reunirá novamente a coalizão democrata tradicional.”

Também levantando Biden em Michigan está parte do que o ajudou a ir à primária na última terça na Virgínia, onde muitos dos principais democratas do estado o endossaram. Whitmer, Slotkin e Stevens deram seu apoio a Biden na última semana.

Reconhecendo que sua campanha será radicalmente prejudicada se ele não se recuperar em Michigan, Sanders cancelou um evento marcado em Mississippi, que também vota nesta terça, para passar mais tempo em Michigan.

E de repente ele começou a atacar Biden sobre direitos ao aborto, uma questão que o social-democrata geralmente usa contra seus adversários no próprio partido.

Está claro por que Sanders está correndo: os resultados da Super Terça trouxeram sinais ameaçadores para sua candidatura.

No vizinho Minnesota, por exemplo, Biden não fez uma visita sequer e ainda derrotou Sanders por 44 a 32, entre eleitores brancos sem diploma superior, segundo pesquisas de boca de urna.

O deputado Dan Kildee, antigo democrata de Michigan que não endossou um candidato na corrida presidencial, disse que Sanders está em posição muito mais fraca para terça do que estava quatro anos atrás.

Os eleitores na época queriam desacelerar a campanha vitoriosa de Hillary e não sentiram o nível de alarme inspirado por Trump que sentem hoje.

Alguns dos distritos eleitorais mais ligados a Hillary em 2016 podem estar até mais hospitaleiros a Biden agora que Michael Bloomberg, o ex-prefeito de Nova York, saiu da corrida presidencial.

Pesquisas feitas enquanto Bloomberg ainda estava na disputa mostraram Biden na liderança, mas com o ex-prefeito de Nova York —que despejou dezenas de milhões de dólares no estado— também recebendo alguns votos.

Mas agora que Bloomberg recuou e endossou Biden, alguns de seus apoiadores parecem propensos a migrar para o ex-vice-presidente; uma pesquisa do Detroit News feita antes da Super Terça revelou que 49% dos apoiadores de Bloomberg indicavam que Biden era sua segunda opção, enquanto apenas 18% disseram que Sanders era sua segunda opção.

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/03/primarias-em-seis-estados-sao-1o-round-entre-biden-e-sanders.shtml

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