Fábricas chineses sofrem agora com queda das encomendas do exterior

No momento em que as empresas chinesas se levantam, depois de derrubadas pelo coronavírus, uma queda na demanda de seus maiores parceiros comerciais ao redor do mundo volta a golpeá-las. 

Empresas do setor industrial da China disseram que estão perto de poder retomar a produção plena, graças à queda no número de contágios. Mas agora se deparam com cancelamentos de pedidos e menos oportunidades para conquistar clientes à medida que a epidemia chega a outros países. 

 “Na verdade estamos mais preocupados com o comportamento da epidemia na Europa e nos EUA, que afetará o consumo doméstico dessas regiões”, disse Mark Ma, dono da Seabay International Freight Forwarding de Shenzhen. A companhia depende dessas regiões para 80% dos negócios. “Os fabricantes não têm grandes problemas com pedidos e produção, a principal questão é como a epidemia será contida nos outros países.” 

A demanda fraca dos mercados desenvolvidos representa agora uma nova ameaça para a retomada da China, que enfrenta sua primeira contração trimestral em décadas e o ano mais fraco desde o início da década de 90. Isso poderá alimentar círculo vicioso global que pode contribuir para recessão nos EUA, Europa e Japão e eliminar US$ 2,7 trilhões do PIB mundial, segundo a Bloomberg Economics. 

“O ciclo de retroalimentação está surgindo”, disse Trinh Nguyen, da Natixis em Hong Kong. “No momento em que a China se recupera e retoma suas cadeias de fornecimento, ela será atingida por choques de demanda de sua própria demanda reduzida e da epidemia se espalhando mais pelo mundo.” 

Quase 81% das 2.552 companhias chinesas envolvidas no comércio retomaram suas operações, segundo a administração das alfândegas divulgada no sábado. Números de exportação para janeiro e fevereiro mostraram, no entanto, o que pode estar por vir: as vendas fora do país caíram mais que o esperado – 17,2%, em dólar. 

Pesquisa da Made-in-China.com – plataformas de conexão entre fornecedores chineses a compradores globais – mostra que 80% das empresas manufatureiras retomaram suas operações. A expectativa é que até o fim abril a capacidade voltará ao normal. 

Mas há o efeito dominó. Empresas internacionais para as quais fornecem estão agora sentindo os efeitos do período em que as fábricas chinesas ficaram paradas, segundo Bem Chu, editor-chefe do site da internet. “Por causa da defasagem, outras partes da cadeia de fornecimento global fora da China estão agora com dificuldades.” 

Chua Hak Bin, da Maybank Kim Eng Research de Cingapura, vê ondas de contágio em outros países voltando “assobrando” a China. A economia “terá de enfrentar ondas de choque secundárias vindas do resto do mundo, mesmo com a onda de choque primária contida.” 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2020/03/10/fabricas-chineses-sofrem-agora-com-queda-das-encomendas-do-exterior.ghtml

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