O líder da Câmara dos Estados Unidos, o republicano Kevin McCarthy, instruiu seus principais correligionários no Congresso a abrir um processo de impeachment contra o presidente Joe Biden. A determinação, feita nesta terça-feira (12), ignora as divisões do partido sobre o assunto e acontece no momento em que radicais da sigla ameaçam destituir McCarthy do cargo.
O republicano disse que designaria três comitês —Fiscalização, Judiciário e Meios e Recursos— para conduzir a investigação sobre o presidente e sua família. Sinaliza há semanas que apoia a medida para dar ao Congresso mais poder para investigar as finanças da família de Biden. Iniciar tal processo significa que os republicanos não precisarão mais justificar a busca de evidências de irregularidades financeiras como parte de seus trabalhos legislativos, disseram aliados do líder.
A ação, porém, representa uma mudança de estratégia de McCarthy, que vinha afirmando acreditar que toda a Câmara deveria votar um eventual avanço de um processo de impeachment —os de Bill Clinton, em 1998, e Donald Trump, em 2019, foram abertos com a votação de toda a Câmara. Dias após o ataque ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, a Câmara instaurou um processo de impeachment contra Trump pela segunda vez sem um inquérito.
A decisão de não buscar uma votação foi um reconhecimento tácito de McCarthy de que ele não tem os votos necessários em meio às divisões da bancada do partido.
Vários republicanos, incluindo aqueles de distritos em que Biden venceu, indicaram que não apoiariam a abertura de um processo de impeachment, a menos que fosse constatado que as transações comerciais de Hunter Biden, filho do presidente, com empresas estrangeiras estão vinculadas a seu pai, ou se descobrissem evidências de crimes graves e contravenções.
Depois de meses de investigação, porém, os republicanos não encontraram essas provas. Eles argumentam terem recebido informações suficientes para justificar mais investigações.
Em breves declarações no Capitólio, McCarthy acusou Biden de mentir sobre seu conhecimento dos negócios do filho e levantou questões sobre os milhões de dólares que Hunter e outros membros da família ganharam com empresas estrangeiras. McCarthy também acusou o governo de dar ao filho “tratamento especial” em uma investigação criminal.
“Os republicanos da Câmara descobriram alegações sérias e críveis sobre a conduta do presidente Biden”, disse McCarthy. “Juntas, essas alegações pintam um quadro de uma cultura de corrupção.” O anúncio abre caminho para que investigadores da Câmara emitam intimações sobre os registros bancários de Biden e seus familiares.
Em um comunicado publicado no X, anteriormente conhecido como Twitter, Ian Sams, porta-voz da Casa Branca, repreendeu o presidente da Câmara por se envolver no que chamou de “política extrema no seu pior”.
“Os republicanos da Câmara investigam o presidente há 9 meses e não encontram evidências de irregularidades”, escreveu Sams. “Os próprios membros do partido dizem isso. Ele prometeu realizar uma votação para abrir o impeachment e agora mudou de ideia porque não tem apoio.”
O anúncio de McCarthy também não acalmou os críticos do Partido Republicano, que o acusam de fazer o anúncio por preocupação com a perda de poder. O deputado Matt Gaetz, da Flórida, disse que até agora as discussões sobre impeachment têm se arrastado.
Se McCarthy estivesse “realmente interessado em responsabilizar a família Biden por seus crimes”, disse ele, “não teríamos uma declaração apressada; teríamos uma estratégia de intimação que demonstrasse seriedade”.
Nesta terça, Gaetz foi ao plenário para pedir a destituição de McCarthy sob a argumentação de que ele estaria descumprindo um acordo feito com a ala mais radical do partido para obter o cargo em janeiro. Ele pretendia avançar com esse plano se o líder apresentasse um projeto de lei para financiar temporariamente o governo —algo que deve acontecer dentro de semanas para evitar uma paralisação federal.
Gaetz disse a repórteres em uma ligação telefônica que pretendia forçar votações para remover o presidente da Câmara, ameaçando tornar o procedimento parte da rotina de abertura do dia legislativo na Câmara: “a oração, o juramento e a moção de vacância”.
Os democratas, por sua vez, se preparam para defender o presidente. O deputado Jamie Raskin, de Maryland, por exemplo, se reuniu com membros de seu comitê na noite de domingo (10) para planejar uma resposta. No dia seguinte, o partido de Biden divulgou um memorando de 14 páginas detalhando o que chamaram de “fracasso esmagador” da investigação republicana.
O documento aponta que o Comitê de Supervisão, liderado pelo deputado James Comer, republicano de Kentucky, recebeu mais de 12 mil páginas de registros bancários solicitados por intimação, revisou mais de 2.000 páginas de relatórios de atividades suspeitas e passou horas entrevistando testemunhas, incluindo dois ex-sócios comerciais de Hunter Biden, mas nenhum dos registros bancários divulgados até agora mostra qualquer pagamento ao presidente.
“Em vez de trabalhar em legislações que promovam o bem comum ou mantenham o governo funcionando”, disse Raskin, “os republicanos da Câmara estão usando seus cargos como armas e explorando o poder e os recursos do Congresso para promover teorias da conspiração desacreditadas e absurdas sobre o presidente Biden.”