Número de guerras no mundo é o maior desde 1989

Neste momento, oito guerras acontecem ao redor do mundo. É o maior número desde o fim da Guerra Fria. Pelo fato ser a primeira guerra direta entre duas nações, sendo uma delas nucleares, a guerra da Ucrânia ocupa coberturas de destaque, mas conflitos na EtiópiaIêmenRepública Democrática do Congo e Mianmar criam cada vez mais crises humanitárias “silenciosas”.

Os dados de mortes em conflitos são difíceis de precisar devido à dificuldade de acesso a informações confiáveis, bem como visualizar os cenários reais nos campos de batalhas. Por vezes, atores ocultam ou então superestimam números de fatalidades para fins de propaganda de guerra. Por isso, dados como os levantados pelo Programa de Dados de Conflitos da Universidade de Uppsala (UCDP), na Suécia, e pela ONU são estimativas, muitas vezes conservadoras.

Para além dos números de mortos, as guerras também provocam um alto custo humanitário de deslocamentos internos, migrações internacionais e pobreza extrema. Segundo dados da Acnur, mais de 108,4 milhões de pessoas foram forçadas a migrar em 2022 devido a conflitos. No Iêmen, que vive uma guerra de procuração entre Arábia Saudita e Irã desde 2015, cerca de 80% da população se encontra abaixo da linha da pobreza e imagens de crianças em estado de inanição se tornaram comuns.

Só em 2022 foram registrados 55 conflitos em 38 países, sendo que 8 deles são considerados guerras, em que há mais de mil mortes relacionadas por ano, contra 5 no ano anterior. As oitos guerras de 2022 foram: Etiópia, Ucrânia, Somália, Iêmen, Burkina FasoMali, Mianmar e Nigéria. Mas conflitos antigos, como a guerra da Síria, continuam a causar vítimas mesmo anos depois de seu ápice, embora em números menores hoje em dia.

Os tipos de conflitos mais comuns são os não-estatais, geralmente envolvendo grupos criminosos armados e terroristas. Mas o número de conflitos com envolvimento de países tem crescido ano a ano, e 2022 registrou o maior número de mortes neste tipo de batalha desde 1994, quando ocorreu o sangrento genocídio de Ruanda, segundo o Instituto de Pesquisa para a Paz de Oslo (Prio, na sigla em inglês), na Noruega.

De acordo com os pesquisadores, têm se tornado mais comum que nações enviem tropas de apoio a grupos rebeldes que lutam contra governos, o que faz com que Exércitos nacionais lutem entre si. O envolvimento de Forças Armadas nacionais, apontam, tende a tornar as batalhas mais mortais. Além disso, a expansão do grupo terrorista Estado Islâmico tem sido uma das principais causas de mortes na África, Ásia e Oriente Médio.

Enquanto isso, 2023 viu um novo conflito eclodir no Sudão, quando dois generais das Forças Armadas entraram em disputa para ocupar o vácuo de poder criado pela queda do ditador Omar Al Bashir. Ao mesmo tempo, o longo conflito entre palestinos e israelenses voltou a escalar após a eleição da coalizão mais extremista-religiosa da história de Israel.

A própria invasão da Rússia à Ucrânia reacendeu antigas disputas territoriais como na pequena região de Nagorno-Karabakh, que viveu novos focos de conflitos em 2022.

“Há uma série de mudanças globais que contribuem para esse aumento de tensões e uma principal é a crise econômica de 2008″, afirma Magnus Öberg, professor do Departamento de Pesquisa de Paz e Conflitos da Universidade de Uppsala e diretor do Programa de Dados de Conflitos, em entrevista ao Estadão. “Sempre vemos um crescimento no número de conflitos nos anos que seguem uma crise econômica”.

A globalização, bem como maior fluxo de armas e emergência de novas superpotências também explicam o clima de conflito recente. Mas a polarização é com certeza um dos principais fatores, segundo o pesquisador.

https://www.estadao.com.br/internacional/nunca-tantas-guerras-aconteceram-ao-mesmo-tempo-veja-quais-sao-os-conflitos-esquecidos-pelo-mundo/

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