Os perenemente conectados e os Sete Pecados Capitais

Por Mario Rene
Professor ESPM

O Blog desta semana é dedicado à professora Denise Fabretti.
Denise enviou-nos uma mensagem acerca das, digamos assim, inconveniências da interconectividade permanente de muita gente.

Começa assim:
“Não sei se vcs tiveram a oportunidade de ler a matéria publicada na Revista da Folha onde vários atores e diretores de teatro reclamam da falta de educação da platéia que fica mandando mensagens ou conferindo facebook durante os espetáculos. Alguns chegaram a expulsar do espetáculo pessoas que ficam o tempo todo no celular. O que mais me assustou é a conclusão de um dos entrevistados no sentido de que as pessoas não tem mais como se concentrar 2 horas em algo sem desviar a atenção para o celular e as suas tecnologias. Este é um fenômeno que presenciamos em sala de aula”.

No que arremato com um trecho de crônica de Ignácio de Loyola Brandão (O Estado de São Paulo, 22/2/13).
Diz ele:
“A verdade é que todo este aparato não me tem feito mais feliz. Assim como não tem acrescentado tanto à vida dos que têm mil aplicativos no celular… dia desses, estava no Pacaembu e vi um sujeito com um smartphone (ou o que seja) assistindo a um jogo. Quando percebi, ele estava vendo pela televisão o jogo que se desenrolava ao vivo à sua frente. Fiquei perplexo!”

Mas porque será que tanta e tanta gente permanece conectada perenemente?
Deve haver estudos sociológicos, psicológicos, antropológicos que ainda desconheço, mas me lembrei de recorrer a uma das minhas áreas de interesse e estudo prediletas para compreender vários fenômenos: os Sete Pecados Capitais.
Que provavelmente a grande maioria dos três ou quatro que me leem desconhece:
Soberba, Avareza, Luxúria, Inveja, Gula, Ira e Preguiça.
Vejamos então, de forma direta e concisa, como eles podem nos auxiliar para explicar o fenômeno.
INVEJA- talvez o principal: “Os outros” (bela abstração) estão fazendo coisas muito melhores do que eu! Como pode ser isso???”
GANÂNCIA E VAIDADE (ambos ‘filhotes’ da SOBERBA): “Não posso (não aceito!) perder nada do bom e do melhor”, e na Vaidade: Fotos e outras fotos dos mais diferentes lugares, perfis de rosto e de corpo… mostrar-se! Vejam-me!
PREGUIÇA: toda esta conectividade gera uma enorme Preguiça de deixar a rede (nos dois sentidos, a digital e a metafórica dos sítios e praias…), e enveredar por trilhas bem mais trabalhosas, como ler um livro, por exemplo.
E até e infelizmente a IRA, que muitos espalham pela rede.
Jamais, em toda a História, os sete pecados capitais encontraram solo tão fértil para sua exposição e expansão.
E como se encaixa bem mais este trecho daquela crônica do Ignácio Loyola Brandão:
“Observo a vida em torno. Ninguém mais vive contente de estar onde está, seja bar, restaurante, cinema. Todos postam fotos e mensagens do que comem, bebem, que filme vão ver, querendo saber do outro onde está, o que come, bebe e se está melhor. Há uma imensa solidão nesta rede social. E quanta inveja, quanto ressentimento.”
E quando a professora Denise encerra sua ‘tele-tela’ com uma pergunta provocativa:
“Como educadora me pergunto: Até que ponto esses fenômenos estão afetando a capacidade de reflexão dos alunos”?
Eu fecho, com pesar, com um trecho da entrevista de uma neurocientista inglesa, Susan Greenfield, na Páginas Amarelas da Revista Veja de 9/1/13:
“…todos os dispositivos interativos quando usados excessiva e ininterruptamente, deixam a mente em um estado de confusão sobre o aqui e o agora muito semelhante aos efeitos do Alzheimer”.
No mínimo, dá no que pensar.

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