O sistema financeiro tem papel fundamental no combate à emergência climática e em direcionar o fluxo de recursos para investimentos que cortem emissões de gases-estufa, em infraestrutura resiliente e em projetos de adaptação. O caminho, contudo, tem sido outro: os 20 países mais ricos do mundo reunidos no G-20 gastam 50% mais em combustíveis fósseis em seus pacotes de estímulo do que em energias de baixo carbono, diz a ONU. Os organismos de cooperação internacional e os bancos multilaterais e de desenvolvimento podem reverter esta tendência.
Novo estudo das Nações Unidas sobre finanças climáticas recomenda que o sistema financeiro direcione investimentos para iniciativas de carbono neutro e desenvolvimento resiliente.
“Não podemos nos dar ao luxo de financiar as coisas de ontem, os projetos do passado. Temos que financiar as coisas do amanhã: saneamento interligado com biogás, o planejamento da mobilidade das cidades com transporte público”, reconhece Claudia Arce, diretora para América Latina e Caribe do banco de desenvolvimento alemão conhecido pela sigla KfW.
A recuperação verde tem sido central para o KfW que financia projetos no Brasil em energias renováveis, eficiência energética e na conservação da Amazônia.
Claudia Arce é uma das palestrantes de “Como acelerar a recuperação econômica verde”, evento que acontece hoje e é promovido pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS) e Embaixada da Alemanha na série Diálogos Futuro Sustentável. A intenção é debater como estimular a recuperação no pós-pandemia seguindo a trilha da descarbonização e tornando concreto o conceito “build back better”.
“Agora é o momento do setor financeiro, que abraçou o tema do combate à emergência climática”, diz Ana Toni, diretora-executiva do iCS e que abre o evento. “Este tema tem que sair do nicho e virar mainstream no setor”, continua.
A série Diálogos procura fazer a interligação com a transição que ocorre no exterior em temas como saúde, transporte, segurança, migrações e outros, mas sempre sob a lupa da crise global do clima.
No sábado, durante a Cúpula de Ambição Climática da ONU, Reino Unido, França, Itália e Chile, o presidente do European Investment Bank, Werner Hoyer, disse que o banco decidiu não financiar mais projetos de energia baseados em combustíveis fósseis. O presidente do Banco Mundial, David Malpass, disse que o banco ampliará investimentos relacionados a clima para 35% nos próximos cinco anos.
Leany Lemos, presidente do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) diz que o banco tem três eixos para promover o desenvolvimento sustentável: o primeiro estimula a discussão interna; no segundo se avaliam o risco socioambiental das operações; o terceiro estimula produção e consumo
sustentáveis. “É um desafio avançar na avaliação dos projetos, mas a linha de sustentabilidade tornou-se o carro-chefe do banco”, diz ela.
De janeiro a outubro foram contratados R$ 480 milhões em projetos de agricultura sustentável, geração de biomassa, resíduos sólidos. “É uma agenda global que acaba estimulando o interesse. O mundo hoje tem sensibilidade maior para o tema, que acaba sendo um diferencial para os empreendedores”, segue Leany, ex-secretária de Planejamento do Rio Grande do Sul e do Distrito Federal, e que participa do evento.
“A recuperação da covid-19 e a ação climática devem ser as duas faces da mesma moeda”, disse à imprensa o secretário-geral das Nações Unidas António Guterres na Cúpula da Ambição Climática.
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2020/12/14/onu-sugere-credito-para-investimento-limpo.ghtml