Com Tai, Biden envia sinal claro na arena do comércio

Ao escolher Katherine Tai, fluente em mandarim e com experiência em assuntos ligados à China, como a próxima autoridade máxima de comércio dos EUA, o presidente eleito Joe Biden está enviando uma mensagem indiscutível sobre suas prioridades na área de comércio na era pós-Trump. 

Ao anunciar Tai como a escolhida para ser a representante comercial dos EUA, a equipe de transição de Biden destacou o trabalho passado de Tai no USTR – sigla pela qual é conhecido o escritório do representantes comercial dos EUA – como assessora-chefe para a fiscalização do cumprimento dos acordos no comércio com a China e sua experiência ao lidar com disputas contra Pequim na Organização Mundial do Comércio (OMC). 

 “Ela trabalhará em estreita colaboração com minhas equipes de política externa e de segurança nacional e econômica”, disse Biden, na sexta-feira. “Ela entende que precisamos ser consideravelmente mais estratégicos do que temos sido na forma como negociamos, e isso nos torna mais fortes.” 

O USTR, antes uma divisão do governo de menor visibilidade, atraiu as atenções nos últimos anos graças à guerra comercial de Trump com a China. Trump nomeou o representante comercial, Robert Lighthizer, para comandar as negociações comerciais com o vice-premiê da China, Liu He. 

Tai é atualmente assessora de comércio exterior do Partido Democrata no Comitê de Assuntos Tributários da Câmara dos Deputados. Ela foi chefe da equipe que negociou a Parceria Transpacífico (TPP, na sigla em inglês) enquanto trabalhava para os democratas.

A experiência lhe permite entrar prontamente em campo caso Biden planeje voltar ao acordo, atualmente chamado Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífico (CPTPP). 

Quando o governo Obama negociava as cláusulas do TPP, Michael Froman, então representante Comercial dos EUA, foi o principal negociador. 

Filha de pais que nasceram na China e cresceram em Taiwan, Tai nasceu em Connecticut e estudou na Universidade de Yale e em Harvard. Fluente em mandarim, ela ensinou inglês na Universidade Sun Yat-sen, em Guangzhou, como professora na década de 1990. 

 “Ela traz a experiência necessária, em uma época em que as tensões do comércio bilateral [sino-americano] continuam a crescer”, disse Wendy Cutler, ex-negociadora comercial que trabalhou com Tai. Cutler, vice-presidente do Asia Society Policy Institute, descreveu Tai como “uma solucionadora de problemas e confiável”. 

No Congresso, Tai desempenhou papel fundamental em pressionar pela adoção de mudanças feitas pelos democratas na Câmara no Acordo EUA-México-Canadá (USMCA), centradas em questões trabalhistas e ambientais. 

Apesar de sua filiação democrata, Tai reconheceu publicamente que o governo Trump deu tratamento correto a algumas questões comerciais com Pequim. 

“Em comércio, acho que a principal lição é que o governo Trump não estava 100% errado sobre políticas comerciais ”, disse Tai, em palestra no American Society of International Law, em agosto. 

Com relação à OMC, da qual Trump ameaçou tirar os EUA em meio a protestos dos democratas, “a essência das preocupações e dos problemas que o governo tem levantado em Genebra e aqui em casa” é compartilhada por democratas e republicanos, disse ela. 

Mas, apesar de confronto e provocação, a política comercial de Trump contra a China é mais defensiva – uma reação às práticas de longa data do governo chinês, como transferência forçada de tecnologia e subsídios estatais, disse Tai, em outro evento do Center for American Progress, em agosto. 

“Acho que [essa disputa] tem a ver com tornar nossos trabalhadores e setores e nossos aliados mais rápidos, mais ágeis, capazes de dar saltos mais altos, de concorrer com mais força e, em última instância, defender a maneira democrática e aberta de vida que temos”, disse. 

Uma estratégia ofensiva poderá assistir à volta dos EUA à mesa de negociações de livre-comércio, e talvez à TPP, abandonada por Trump no início de seu mandato. 

Durante a ausência dos EUA das negociações de livre-comércio, a China se movimentou rapidamente na tomada de providências para preencher o vazio. Primeiro ao assinar a Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP) e ao sinalizar que “avaliará de maneira favorável” a adesão à CPTPP. 

O que continuará a ser o alvo de Washington é uma estratégia coordenada por Pequim, que é parte de seu capitalismo de Estado. Para ficar à altura nessa competição, Tai acha que a política comercial americana deve operar em consonância com a estratégia doméstica. 

Biden fez do aumento da competitividade americana um dos eixos centrais de suas promessas, ao destacar seu plano de financiar pesquisa em áreas como inteligência artificial e biotecnologia. 

Se confirmada pelo Senado, Tai será a primeira asiático-americana à frente do USTR. Um de seus primeiros desafios será gerir o legado das tarifas de Trump e o subsequente acordo “de fase um” com Pequim, que ficou aquém de suas promessas de compras, de acordo com estimativas de terceiros. 

Biden disse que não tomaria providências imediatas para eliminar as tarifas ou abandonar o acordo de fase um. “Não vou tomar qualquer medida imediata, e o mesmo vale para as tarifas”, disse ao “The New York Times”. 

Antes da eleição, Tai disse que as tarifas de Trump são um fato e que, independentemente de quem vencesse a disputa presidencial, “os próximos anos terão de administrar o panorama que foi criado ao longo deste período” 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2020/12/14/com-tai-biden-envia-sinal-claro-na-arena-comercial.ghtml

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