Nos EUA, o que era diferença virou ameaça

The New York Times; A conclusão deste ciclo eleitoral é esta: estamos onde estávamos. Nada mudou. Câmara e Senado, que estavam divididos, continuarão assim. O que explica isso? A estrutura da sociedade. Em termos de educação, os americanos se dividem em dois grupos: os que não têm diploma universitário votam nos republicanos; o que têm, nos democratas. “A polarização da educação não é um fenômeno só americano”, disse Eric Levitz. “É uma característica da política contemporânea em quase todas as democracias ocidentais.”

Mas o problema é muito maior que isso. Os Estados Unidos se dividiram em duas culturas diferentes. É muito difícil para um partido com raízes em uma cultura conquistar eleitores de outra – ou entender o que as pessoas de outra cultura estão pensando. Ao transitar entre os dois EUA ao longo de décadas de reportagens sobre política americana, vi brechas sociais, culturais, morais e ideológicas se ampliarem de rachaduras para abismos.

A política tornou-se uma religião para muita gente. Americanos com e sem diploma universitário não têm mais ideias diferentes sobre o governo, eles criaram modos de vida antagônicos. Eles têm relações diferentes com o patriotismo e a fé, se vestem de maneira diferente, gostam de comidas diferentes e têm ideias diferentes sobre gênero e raça.

Mas isso também não responde ao problema. Os EUA sempre tiveram grandes diferenças culturais. Antes, porém, era uma diferença sem muita animosidade.

Antes, não havia muita consciência dessa guerra de classes. O país era como um refeitório do ensino médio: atletas aqui, nerds ali, punks em outro lugar. Agora, as pessoas não veem apenas a diferença, elas veem a ameaça.

As pessoas ergueram barricadas e percebem o outro lado como uma ameaça ao que é belo, verdadeiro e bom. Não entendo por que essa animosidade aumentou nas últimas décadas, mas ela deixou muito difícil mudar coalizões políticas cada vez mais arraigadas.

Os historiadores acreditavam que, enquanto as sociedades europeias eram afetadas por ferozes antagonismos classistas, os americanos tinham pouca consciência de classe. Agora, isso mudou.  (Por David Brooks)

https://www.estadao.com.br/internacional/nos-eua-o-que-era-diferenca-virou-ameaca-leia-analise/

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