O custo da falta de ação em clima já começa a superar os custos da ação em economias desenvolvidas como a alemã. A população na Alemanha apoia medidas mais ambiciosas para combater a crise climática e é favorável à transição energética, contudo estas posições não se refletiram na eleição do fim de semana, que marca o fim da gestão da primeira-ministra Angela Merkel.
Em 30 de agosto, Merkel disse, em um discurso durante as comemorações dos 50 anos do Greenpeace, que a Alemanha prometeu € 40 bilhões para financiar o fim do uso do carvão. “Mas acabamos de ver que o custo de apenas dois eventos climáticos trágicos custarão € 30 bilhões. E não sabemos quantos ainda virão”, reconheceu a premiê, ao se referir às enchentes que atingiram a Alemanha em julho.
“O resultado das eleições é muito interessante, quando se analisa pela perspectiva da crise climática”, disse ao Valor Sebastian Helgenberger, líder de pesquisa do Instituto de Estudos Avançados em Clima (IASS), de Potsdam. O instituto faz pesquisas regulares de opinião sobre o que os alemães pensam da transição energética do país. Há forte apoio à descarbonização. “Contudo, este apoio não se refletiu na eleição” diz ele.
O IASS faz regulamente a pesquisa Social Sustainability Barometer sobre a transição energética alemã. A edição de 2021 ouviu 6.800 pessoas. Os resultados, de julho de 2021, indicaram que 70% das pessoas são a favor da transição energética dos combustíveis fósseis e da energia nuclear para fontes renováveis e 60% acreditam que a transição está ocorrendo de forma muito lenta.
Ainda segundo a enquete, 55% dos entrevistados é favorável a que a Alemanha assuma um papel de liderança internacional. “Mas o apoio público à ação climática e à transição energética não torna o tema a principal prioridade nas eleições”, diz ele.
“Em contraste com o forte apoio público à ação climática e à transição energética, apenas 20% dos eleitores votaram em partidos com forte perfil e propostas em clima”, diz o pesquisador. Ele se refere à votação somada, nas eleições do fim de semana, aos Verdes e ao partido A Esquerda. “Só estes dois partidos têm a ambição climática no centro de seu perfil. É uma contradição interessante. Os alemães apoiam fortemente a ação climática, mas isso não se refletiu claramente nas urnas”, avalia Helgenberger. Ele é um dos palestrantes de hoje do da série de eventos Diálogos Futuro Sustentável, realizados pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS) e a embaixada da Alemanha.