China raciona energia com apagões e busca mais carvão

A China começou a promover nesta semana apagões programados em Pequim e Xangai, metrópoles onde vivem 48 milhões de pessoas, em meio à escassez de energia que vem afetando seu importante setor industrial, em mais uma ameaça à economia. Em um esforço para conter a crise, o governo chinês já sinalizou que está disposta a pagar o preço que for para obter mais carvão nos mercados. 

A China vai expandir a aquisição de carvão a “qualquer preço para garantir aquecimento e geração de energia no inverno”, disse o Conselho de Eletricidade da China em comunicado divulgado na segunda-feira. Embora mais de 90% do combustível usado seja extraído localmente, seu suprimento não tem sido suficiente para atender à demanda vertiginosa. 

A geração de energia térmica no ano até agosto é 14% maior do que no ano passado, enquanto a produção de carvão cresceu apenas 4,4%, em grande parte por causa das medidas de segurança após uma série de acidentes fatais. As importações subiram mais de 20% desde o início de junho, mas a China ainda precisa de mais para preencher essa lacuna.

A crise energética levou o Goldman Sachs a reduzir para zero sua previsão de crescimento para a China no terceiro trimestre em relação ao segundo trimestre. Em termos anuais, a previsão para o terceiro trimestre caiu de 5,1% para 4,8%. Para 2021, o banco de investimentos vê uma expansão de 7,8% do PIB, de 8,2% antes. 

“Os recentes cortes na produção em uma variedade de indústrias de uso intensivo de energia aumentam as já significativas pressões de baixa nas perspectivas de crescimento”, escreveu Hui Shan, analista do Goldman Sachs. 

Diante da escassez, a State Grid informou ontem que iniciará os apagões programados em áreas selecionadas de Pequim até domingo. A eletricidade será cortada por algumas horas do dia. 

Os apagões programados afetarão pelo menos quatro distritos da capital. Eles incluem Xicheng e Dongcheng, onde ficam agências do governo e residências de autoridades de alto escalão; Chaoyang, onde vivem muitos estrangeiros; e Haidan, onde estão localizadas várias empresas de tecnologia. 

“O principal objetivo é realizar manutenção regular de equipamentos e aprimoramentos na rede elétrica”, disse a State Grid ontem. “No momento, a rede elétrica da capital tem abastecimento suficiente, estável e ordenado”. 

O número exato de residências e empresas afetadas não foi revelado. Alguns meios de comunicação informaram que os apagões envolvem cerca de 60 seções da rede, o que representaria mais de 10 mil pessoas sem energia. Pequim tem 22 milhões de habitantes. 

Os apagões afetarão principalmente residências privadas, poupando em grande parte as fábricas. “Não recebi nenhuma informação de fábricas em Pequim suspendendo as operações por causa do racionamento de energia”, disse uma fonte de uma manufatureira japonesa que opera na China. 

Xangai, lar de 26 milhões de pessoas, também realizará apagões programados até domingo. A escassez nacional de energia levou fornecedores da Apple e da Tesla a suspenderem as operações na Província de Jiangsu, perto de Xangai. 

Fábricas na Província de Guangdong também foram afetadas. A região do Cinturão da Ferrugem, no nordeste da China, é a que mais sofre com a escassez de energia. 

O presidente Xi Jinping prometeu fazer as emissões de dióxido de carbono atingirem o pico em 2030 e alcançar a neutralidade em carbono até 2060. Os esforços do governo para alcançar essas metas têm contribuído para a atual escassez de energia. 

Índia. A crise de energia também ameaça outros gigantes da Ásia. Na Índia, mais da metade de suas usinas a carvão estão com menos de uma semana de estoques. O país precisará importar mais para compensar a fraca produção interna, colocando mais pressão ao mercado à vista de carvão. “A Ásia não tem carvão suficiente”, disse Saad Rahim, economista da empresa de commodities Trafigura Group à Bloomberg. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2021/09/29/china-raciona-energia-com-apagoes-e-busca-mais-carvao.ghtml

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