Investida da Amazon preocupa setor de frete

A Amazon está reforçando sua presença na área de logística para tentar conter os custos com transporte, diante de sua dispendiosa investida nas entregas de produtos em um dia. Os planos preocupam as empresas de frete, que podem ter de passar a concorrer com a gigante de comércio eletrônico, atualmente uma grande cliente de muitas delas.
A varejista on-line abriu uma plataforma de corretagem de fretes para conectar empresas que precisam transportar seus bens a caminhões disponíveis. O serviço é oferecido em cinco Estados no Leste dos Estados
Unidos. O movimento torna a Amazon a mais recente companhia a aportar recursos substanciais na área de transporte comercial, com planos para digitalizar a ineficiente e muitas vezes complicada atividade de reserva de frete.
Startups de tecnologia como Convoy e Transfix atraíram mais de US$ 611 milhões em financiamento entre 2011 e 2018, segundo a empresa de consultoria de logística Armstrong & Associates. Paralelamente, empresas de logística e caminhões passaram a investir pesadamente para aperfeiçoar seus próprios mercados digitais de frete. A plataforma Uber Freight gerou receita bruta com fretes de US$ 359 milhões no ano passado, segundo documento enviado pela controladora Uber Technologies às autoridades reguladoras.
A Amazon está oferecendo um serviço em fase de testes para envios por caminhões em Connecticut, Maryland, Nova Jersey, Nova York e Pensilvânia por meio de seu braço Amazon Logistics. Também oferece orçamentos instantâneos em seu portal on-line freight.amazon.com. “[Os usuários podem] aproveitar a escala da Amazon, uma vez que estendemos nossa rede de transportes para prestar a você o melhor serviço a ótimas tarifas”, diz a empresa.
Os contratantes de frete podem reservar serviços por meio do site desde 2018, de acordo com a Amazon.
“Trabalhamos com muitos prestadores de serviço de entregas intermunicipais em nossa rede de transportes e há muito os usamos para transportar cargas para a Amazon”, disse uma porta-voz da empresa. “Este serviço, cujo objetivo é usar melhor nossa rede de fretes, estava presente de várias formas já há algum tempo.”
Criar a plataforma dá à Amazon mais poder de influência sobre as transportadoras na hora de negociar tarifas, segundo Evan Armstrong, presidente da Armstrong & Associates. “Você consegue sinergias ao permitir que os contratantes entrem em sua plataforma e aumenta a escala de sua rede e seu poder de compra com as empresas de transporte”, disse.
Analistas e especialistas do setor dizem que a decisão da Amazon de criar a plataforma – noticiada inicialmente na sexta- feira, 26 de abril, pela FreightWaves, empresa de notícias e dados do setor – traz riscos para corretoras de fretes e empresas de transporte por caminhão.
Plataforma dá à Amazon mais poder de influência sobre as transportadoras na hora de negociar tarifas
As ações da maioria das empresas de transporte por caminhões e corretoras que atuam no mercado caíram na segunda e na terça-feira da semana passada. Os papéis da C.H. Robinson Worldwide, maior corretora de fretes da América do Norte, perderam mais de 10% de seu valor em sete dias.
As tarifas divulgadas pela Amazon parecem estar entre 4% e 5% abaixo que as do mercado de serviços imediatos de fretes de caminhão, no qual as empresas reservam entregas de última hora, segundo nota do analista Christian Wetherbee, do Citigroup, divulgada na semana passada.
“Pequenos descontos são prática comum em certas linhas”, disse Wetherbee. Ele acrescentou que mesmo com reduções de 4% a 5% nas reservas imediatas “a Amazon pode muito bem estar tendo lucro com esse serviço”.
O analista David Vernon, da gestora de investimentos Sanford C. Bernstein, escreveu em nota que as empresas tradicionais de fretes vão se deparar com uma ameaça competitiva maior se a Amazon agir como “uma corretora de fretes sem pensar no lucro”, cobrando tarifas deficitárias pela capacidade que comprar no mercado imediato, em vez de usar a plataforma para vender o excesso de capacidade “que comprou para operar sua cadeia de suprimentos”.
“Os que entraram no espaço de corretagem no passado valeram-se de descontos para ganhar participação de mercado e a Amazon provavelmente está fazendo o mesmo”, escreveu, em nota, o analista Jason Seidl, da Cowen, empresa de serviços financeiros.
Nos últimos meses, a Amazon vem reduzindo o uso de serviços de empresas de logística externas, à medida que assume maior controle sobre a maneira como faz as entregas em suas redes de distribuição. No quarto trimestre, a Amazon retirou cerca de US$ 600 milhões em negócios que estavam nas mãos da XPO Logistics, sendo a maior parte disso da unidade de corretagem da empresa, segundo uma pessoa a par do assunto.
A Amazon gastou US$ 7,32 bilhões para fazer entregas no mundo no primeiro trimestre de 2019, segundo o balanço financeiro da companhia de comércio eletrônico. Isso foi 21% mais que no mesmo período de 2018, bem abaixo do crescimento de 38% observado entre os primeiros trimestres de 2017 e 2018.
“A Amazon cresce tanto, e tem tantos talentos na cadeia de fornecimento […] que eles podem partir para uma abordagem direta, lidar com as transportadoras oceânicas e intermodais e, como última medida, criar sua própria corretora e trabalhar com a comunidade de transportadoras”, disse Frank McGuigan, executivo-chefe da Transplace, em entrevista concedida em março. Empresa de gestão de transportes, a Transplace também oferece serviços de corretagem de frete.
A Amazon permanece como cliente, mas McGuigan diz que a Transplace tenta não ficar demasiadamente dependente de apenas um cliente. Em vista dos grandes volumes de envios da Amazon durante o pico da temporada, a varejista on-line precisa “sair e buscar apoio no mercado”, disse McGuigan. “Nosso trabalho é ajuda-la no que pudermos ajudar, mas também minimizar nossa exposição.”

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