Internet das coisas avança na agricultura

Na última quinta-feira, o conglomerado francês de tecnologia Atos informou que será o coordenador do FlexiGroBots, programa lançado pela União Europeia para disseminar o uso de robôs no cultivo de alimentos. Uma hora depois, a AppHarvest, de agricultura em locais fechados, anunciou nos Estados Unidos a compra da Root AI, que desenvolve robôs para a produção agrícola. Quase simultâneos, os anúncios não tinham correlação entre si, mas não deixaram de atestar uma série recente de projeções sobre o forte avanço da internet das coisas nas lavouras. 

A conexão digital de máquinas e equipamentos usados na atividade agrícola é um fenômeno crescente em todo o mundo – e a tendência acentuou-se na pandemia. “Com o impulso de políticas governamentais, o setor agrícola deve investir em atualizações tecnológicas e incorporar soluções de internet das coisas como parte de sua estratégia de aumento de produção”, diz a consultoria Meticulous Research, que produz pesquisas de mercado sobre setores como as indústrias química, automobilística e de semicondutores. 

Segundo o relatório, em 2021, o mercado de internet das coisas – conceito também conhecido por sua sigla em inglês, IoT – na agricultura deve ter uma leve retração, de 0,8%, em relação ao ano passado. Em parte, afirma a consultoria indiana, o declínio ocorrerá porque a pandemia interrompeu a cadeia de produção das empresas que fornecem as tecnologias, mas, em parte, ele será reflexo da decisão de muitos produtores agrícolas de interromper projetos não-essenciais. Mas o mercado de internet das coisas para a agricultura deve voltar a ganhar tração em 2022, diz o relatório, que prevê que o segmento movimentará US$ 32,75 bilhões em 2027. O montante representa um avanço anual de 15,2% a partir do patamar de 2019. 

O crescente uso nas lavouras de drones conectados é uma das evidências mais palpáveis do avanço da internet das coisas na agricultura, afirma, em outro relatório, a consultoria irlandesa Research and Markets. “Há uma pressão cada vez maior pela melhoria de produtividade e pela redução de custos no campo, o que cria oportunidades para fabricantes de tecnologia de agricultura inteligente”, afirma. 

As projeções das diferentes consultorias não são comparáveis porque não trabalham com as mesmas bases de dados nem avaliam os mesmos intervalos de tempo. Ainda assim, não há dúvida sobre para qual direção apontam. Segundo a Research and Markets, a indústria da agricultura inteligente crescerá a um ritmo de 9,4% ao ano entre 2020 e 2027, quando movimentará US$ 18,7 bilhões. 

Outra consultoria, a americana Reportlinker, atualizou suas projeções para avaliar os efeitos da pandemia sobre a indústria da internet das coisas voltada à agricultura. De acordo com o relatório, o segmento movimentará US$ 21 bilhões no mundo até o fim de 2025, montante quase 65% maior que os US$ 12,8 bilhões do ano passado. 

O avanço da internet das coisas nas lavouras não cria mercado apenas para as fabricantes de equipamentos conectados (ainda que isso já não fosse pouco). Como essas tecnologias exigem, por exemplo, redes de comunicação com mais alcance e qualidade, elas também significam melhoria da infraestrutura de conexão. 

Esse é o raciocínio de um anúncio recente feito pela EOS Data Analytics. A empresa americana de agricultura de precisão, que já oferece um software de monitoramento de colheita, revelou, em meados de fevereiro, que, até 2024 lançará não só um, mas sete satélites próprios para a captura de images das plantações que abastecerão os equipamentos utilizados nas lavouras. 

A EOS faz parte do portfólio da Noosphere Ventures, que é, por sua vez, o veículo de investimentos do magnata ucraniano Max Polyakov. O empreendedor é menos conhecido que Elon Musk, controlador da fabricante de carros elétricos Tesla, e Jeff Bezos, fundador da Amazon, mas, até o ano passado, ele já tinha investido US$ 150 milhões em recursos próprios para desenvolver foguetes espaciais em outra de suas empresas, a Firefly Aerospace. O montante só se compara aos desembolsos de Musk na SpaceX e de Bezos na Blue Origin – e, como a EOS deixa claro, a agricultura conectada é um dos motores da aposta do ucraniano. 

https://valor.globo.com/agronegocios/noticia/2021/04/13/internet-das-coisas-avanca-na-agricultura.ghtml

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