Índia tem mergulho na economia e na epidemia

A Índia registrou a maior queda no PIB entre todas as principais economias mundiais, segundo levantamento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) 

A economia da Índia sofreu uma contração recorde anual de 23,9% no segundo trimestre, refletindo o colapso nos gastos de consumo em decorrência do regime de confinamento adotado em todo o país e o temor da pandemia. 

Trata-se da maior queda entre todas as principais economias mundiais que anunciaram dados do PIB para o trimestre, segundo levantamento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Também é a maior queda da Índia desde 1996, quando o país começou a divulgar resultados trimestrais para o PIB. 

O confinamento na Índia, que começou no fim de março, esteve entre os mais rígidos do mundo, e fechou virtualmente todas as partes não essenciais da economia. Mas conseguiu apenas adiar a disseminação do vírus, que continuou a subjugar a atividade econômica depois do início da flexibilização do confinamento em maio, exatamente quando a epidemia começou a atingir as cidades densamente povoadas da Índia. 

Os investimentos caíram 47% no segundo trimestre, enquanto os gastos do consumidor recuaram quase 27%. Os gastos governamentais cresceram 16%, mas não foram suficientes para superar a depressão causada pela pandemia. 

Economistas observam que houve uma aceleração no nível de atividade com o fim do confinamento, mas essa retomada é limitada pela propagação do vírus das cidades para as áreas rurais. 

A Índia tem mais de 3,5 milhões de casos confirmados e 60 mil de óbitos decorrentes da covid-19. Com mais de 78 mil novos casos ao dia – mais do que qualquer outro país no mundo -, prevê-se que a Índia ultrapassará o Brasil e os EUA para assumir a liderança mundial no total de casos notificados. 

Isso significa que a economia da Índia tende a enfrentar dificuldades, ou até a encolher, em cada um dos próximos dois trimestres, uma vez que empresas e consumidores permanecerão hesitantes, disse a economista Anagha Deodhar, da ICICI Securities. 

“O vírus está se deslocando rapidamente para áreas rurais, e os pontos de grande incidência nas megacidades estão se agravando”, disse ela. “Isso fará com que o caminho da recuperação da Índia seja mais longo.” 

Prevê-se que o PIB da Índia sofrerá uma contração de mais de 5% no atual ano fiscal, que vai até março de 2021, segundo estimativas de muitos economistas. Se isso acontecer, será o pior desempenho do país em várias décadas. A precariedade do cenário econômico deverá tolher a Índia num momento em que o país disputa com a China por maior influência na Ásia. Poderá também pressionar os líderes indianos a tomar medidas politicamente difíceis, como o afrouxamento das leis trabalhistas e da posse da terra. 

Depois de colocar 1,3 bilhão de pessoas num rígido confinamento, o governo começou a flexibilizar algumas restrições em maio, o que levou a um salto da atividade econômica. Mesmo assim, os gastos de consumo permanecem bem abaixo dos níveis pré-pandemia. 

“A tendência de crescimento do consumo será mais baixa” do que nos últimos dez anos, disse Sonal Verma, economista-chefe da Nomura para a Índia. “Temos agora um consumidor mais cauteloso devido à incerteza.” 

Autoridades indianas aceleraram a liberação de estímulos fiscais e monetários, mas isso não foi suficiente, segundo economistas. Foram mais de US$ 250 bilhões em pacotes econômicos destinados a ajudar a economia, enquanto o banco central cortou os juros. 

Dados de mobilidade do Google mostram que, apesar dos esforços do governo para restabelecer a confiança, o nível de atividade em torno de locais recreativos de varejo na Índia continua 40% abaixo do nível observado antes da pandemia, no início deste ano. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2020/09/01/india-tem-mergulho-na-economia-e-na-epidemia.ghtml

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