Globo leva canais de TV paga ao streaming

Em 2012, quando a Globo lançou o Globo TV Mais, um serviço para o público assistir, na internet, programas que perdera na TV aberta, alguns espectadores ficaram desapontados. Em grupos de discussão, eles comentaram que esperavam encontrar conteúdo de TV por assinatura no serviço, sob a esperança de assistir tudo o que era produzido pela Globo em um só lugar. Agora, oito anos depois, isso será possível. 

A partir de hoje, o serviço de streaming Globoplay vai acrescentar programação ao vivo de 19 canais por assinatura – incluindo Globonews, GNT, Multishow e SporTV – ao conteúdo já oferecido, que inclui programação da TV Globo e atrações exclusivas, como as séries “Ilha de Ferro”, “Aruanas” e “Arcanjo Renegado”. Batizado de Globoplay + canais ao vivo, o pacote estará disponível, nos primeiros 30 dias, aos atuais assinantes. Em 1o de outubro, a venda será estendida ao público em geral. 

Com o movimento, a Globo avança em sua estratégia de se tornar uma “media tech” – modelo que combina entretenimento e tecnologia – ao mesmo tempo em que exibe desdobramentos práticos do projeto “UmaSóGlobo”, que no início do ano reuniu todas as empresas de audiovisual do grupo sob uma única estrutura, incluindo a antiga programadora de TV paga Globosat. 

 “Faz muito sentido ter todos os conteúdos agregados em um lugar só”, disse Erick Brêtas, diretor de produtos e serviços digitais da Globo, ontem, a jornalistas. A base de assinantes do Globoplay aumentou 145% no primeiro semestre, em comparação com o mesmo período do ano passado, informou o executivo, sem revelar detalhes. O número de horas consumidas no serviço entre janeiro e junho mais que triplicou, passando de 244 milhões para 789 milhões, o equivalente a 244% de crescimento. Os dados incluem usuários que não pagam pelo serviço, mas os assinantes representam dois terços do volume, observou Brêtas. 

Esse indicador é importante porque revela o chamado engajamento – quanto tempo as pessoas dedicam a uma plataforma de streaming, tendo em vista a competição cada vez mais feroz no setor. Grupos internacionais, tanto do mundo da tecnologia como do entretenimento, têm investido fortemente na área, como Netflix e Amazon. A Disney anunciou para 17 de novembro o lançamento de seu serviço no Brasil, o Disney+, e outras companhias têm-se movimentado para unificar sua programação sob plataformas únicas, como ViacomCBS e HBO. 

Oferecer, por meio de aplicativos, a programação linear de TV – o modelo tradicional de exibição de programas em horários pré-definidos – já levou a embates legais. No ano passado, a operadora Claro contestou a programadora Fox, que lançou um aplicativo, alegando tratar-se da oferta clandestina de um serviço de TV paga ou SeAC. O conselho diretor da Anatel, a agência regulatória do setor, ainda não deu parecer final sobre o assunto, mas os dois votos anunciados até agora são de que se trata de outra categoria de negócio, o de Serviço de Valor Agregado ou SVA, que obedece a regras diferentes da TV paga. 

“Estamos muito seguros de que a oferta que estamos fazendo é compatível com as leis em vigor”, disse Brêtas. Além do tratamento do tema na Anatel, a Lei 13.784/2019, a chamada Lei da Liberdade Econômica, estabelece que produtos baseados em novas tecnologias não precisam esperar a elaboração de leis específicas para ser lançados, afirmou o executivo. O princípio é o de que a tecnologia antecede a legislação, desde que o produto não ofereça riscos. 

No novo pacote, a programação ao vivo estará disponível integralmente, mas parte do conteúdo só poderá ser vista no catálogo – disponível para o consumidor assistir quando quiser – depois de seis meses de exibição na TV paga, de acordo com contratos existentes com as operadoras. O Globoplay + canais ao vivo custará R$ 49,90 mensais. O serviço básico, que custa R$ 22,90, não passará por mudanças. 

A chegada do pacote será acompanhada de mudanças na identidade visual do Globoplay, com alterações no logotipo e a adoção de novas cores e formatos para organizar e apresentar o conteúdo ao espectador. 

A Globo tem fechado acordos com os fabricantes de TVs para facilitar o uso do Globoplay nos aparelhos. Neste ano, firmou uma aliança com a coreana Samsung para que uma nova linha da companhia saia de fábrica com o aplicativo instalado. As smart TVs são parte importante do negócio de streaming. “Os dispositivos de tela grande respondem por cerca de 50% das horas consumidas”, disse Brêtas. 

Atualmente, existem cerca de 1,8 mil versões do Globoplay para permitir que o serviço seja acessado em modelos diferentes de TVs, sob os vários sistemas operacionais disponíveis, informou Raymundo Barros, diretor de tecnologia da Globo. 

Para oferecer uma experiência completa, os aparelhos precisam contar com requisitos como processadores recentes e recursos de gestão de direitos digitais (DRM na sigla em inglês). A expectativa, disse Barros, é que até o fim do ano estejam prontas tecnologias atualmente em desenvolvimento que permitirão atualizar TVs mais antigas, evitando eventuais falhas. 

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/09/01/globo-leva-canais-de-tv-paga-ao-streaming.ghtml

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