Estoques baixos impulsionam preço global das commodities

Os estoques de algumas das commodities mais importantes da economia mundial estão nos menores níveis históricos, com a demanda aquecida e a escassez de oferta ameaçando alimentar pressões inflacionárias em todas as partes do mundo.

De metais industriais e energia até a agricultura, a corrida por matérias-primas e alimentos básicos está se refletindo nos mercados futuros, onde um grande número de commodities entrou em “backwardation”- uma estrutura de preços que sugere escassez [quando o preço para entrega no curto prazo excede o de longo prazo]

A escassez ocorre num cenário de inflação global persistentemente alta, alimentada por interrupções logísticas e pela demanda reprimida após as economias se recuperam dos “lockdowns” impostos contra a covid. Os preços ao consumidor nos EUA tiveram, em janeiro, a maior alta anual em quatro décadas, batendo nos 7,5%. 

Os estoques de cobre nas maiores bolsas de commodities estão em pouco mais de 400 mil toneladas, o que representa menos de uma semana do consumo global. Os estoques de alumínio também estão baixos, pois produtores na Europa e na China foram forçados a reduzir a produção por causa da disparada dos custos de energia. 

“Os estoques estão baixos, não só nos depósitos da bolsa, mas em toda a cadeia de abastecimento”, diz Michael Widmer, analista do Bank of America. “Há um colchão de segurança limitado no sistema.” O alumínio bateu na semana passada o maior preço em 13 anos, de mais de US$ 3.200 a tonelada, após o Goldman Sachs dizer que os estoques podem se esgotar até 2023. 

Os cortes na produção são só um fator por trás da escassez de oferta, que levou o índice Bloomberg Commodity Spot Index, medida importante das matérias-primas, a subir mais de 10% desde o início do ano, atingindo um patamar recorde neste mês. Nove dos 23 contratos futuros que perfazem o índice estão em “backwardation”, segundo dados da Refinitiv. 

Outros fatores da escassez incluem falta de investimentos em novas minas e campos de petróleo, clima ruim e restrições nas cadeias de abastecimento causadas pela disseminação da covid-19. 

Na sexta-feira, a Agência Internacional de Energia (AIE) alertou que os preços do petróleo, que já são negociados acima de US$ 90 o barril, poderão subir ainda mais, à medida que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e seus aliados têm dificuldade para retomar a produção após o pior da pandemia. 

“Se a diferença entre a produção real da Opep e suas metas continuar, as tensões na oferta aumentarão, reforçando a probabilidade de mais volatilidade e pressão de alta sobre os preços”, disse a AIE. 

Na Europa, os preços do gás também continuam altos em meio ao aumento das tensões geopolíticas envolvendo a Ucrânia e fluxos menores vindos da Rússia. Os estoques de gás no continente estão abaixo das médias sazonais, segundo a consultoria ICIS, especializada em commodities. “O risco de escassez até o fim do primeiro trimestre é remoto, mas o mercado terá de garantir uma oferta significativa durante o terceiro trimestre para evitar o retorno dessas preocupações no próximo inverno”, diz Thomas Rodgers, analista europeu da ICIS especializado em gás. 

Nos mercados agrícolas, as reservas do café arábica, o grão de maior qualidade, caíram ao menor nível em 22 anos. As interrupções no fornecimento e as exportações menores dos produtores da América Central levaram os estoques do café arábica na bolsa de futuros ICE ao menor nível em mais de duas décadas, à medida que os compradores de café correm para assegurar seus suprimentos. 

Carlos Mera, analista sênior do Rabobank, diz que até agora a queda dos estoques de café em 2022 é “surpreendente”. Uma queda maior poderá elevar significativamente “a possibilidade de um aumento descontrolado dos preços”. 

Recentemente, os preços do arábica na ICE atingiram o maior patamar em 10 anos, de US$ 2,59 a libra-peso, um aumento de 13% desde o começo do ano e mais que o dobro do preço de um ano atrás. 

As crises de oferta também estão atingindo outros mercados. O Citigroup estima que a demanda por lítio, matéria-prima vital na produção de baterias, superará a oferta em 6% neste ano por causa da vendas de mais carros elétricos. 

O carbonato de lítio para baterias subiu mais de 400% em 2021, para mais de US$ 50 mil a tonelada. Com os estoques limitados, analistas dos Citigroup acreditam que preços “extremos” serão necessários para “destruir a demanda” e equilibrar o mercado. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2022/02/14/estoques-baixos-impulsionam-preco-global-das-commodities.ghtml

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