Dona da Centauro compra Nike no país

Pouco mais de seis meses depois de perder uma disputa com o Magazine Luiza pela aquisição da Netshoes, o grupo SBF, dono da varejista Centauro, fechou a compra da operação da Nike no Brasil. Trata-se de um negócio com vendas líquidas anuais de R$ 2 bilhões – quase mesmo tamanho da Netshoes. A aquisição aumenta em mais de 70% o faturamento do grupo SBF. Ontem, após anúncio da transação, o SBF ganhou R$ 1,34 bilhão em valor de mercado, atingindo R$ 10,44 bilhão. 

As ações da dona Centauro encerraram o dia em alta de 14,7% na B3, a R$ 49,71, maior cotação desde sua abertura de capital, em abril de 2019. Os papéis ON de Magazine Luiza caíram 2,57% ontem e as ações da B2W, controladora da Americanas, recuaram 2,72%. 

Pelo acordo, o SBF adquire por R$ 900 milhões o capital de giro da Nike no país e, por 10 anos, tem exclusividade na distribuição, política comercial, vendas e gestão das lojas. O contrato pode ser renovado ao fim do período. 

O grupo criará uma unidade de negócio separada para a operação da Nike, já que passará a vender os produtos da marca esportiva para varejistas concorrentes da Centauro. Ontem, uma das dúvidas do mercado era como outras redes como Magazine Luiza/Netshoes e B2W seriam afetadas pela transação, já que o SBF passará a gerir as estratégias comerciais da Nike. 

 “Teremos governança corporativa separadas, com fiscalizações e controles. Todos os contratos anteriores com varejistas estão mantidos”, disse ao Valor Pedro Zemel, presidente do SBF. “O que queremos é ser uma plataforma de negócios na área esportiva. Temos outras possibilidades em mente, essa é a primeira nova unidade”. 

O Valor apurou que o SBF tem um plano inicial de expansão da Nike focado, especialmente, no braço digital, e menos em abertura de lojas. Há um entendimento que o negócio de comércio eletrônico pode ganhar escala maior no longo prazo, além dos ganhos de sinergia com a Centauro. Zemel não comenta planos futuros. 

 “Nosso caminhão que sai para entregar Centauro pode voltar com produtos da Nike, há ganhos a serem mapeados, mesmo sendo unidades autônomas”, diz o executivo. São cerca de 40 lojas da Nike no país (24 Nike Factory e cerca de 15 unidades com parcerios). 

Haverá pagamentos de royalties à matriz da empresa nos Estados Unidos. Por cinco anos, o SBF poderá abrir lojas da Nike no país – o prazo é renovável. 

Ficaram fora da transação acordos globais de marketing, como com atletas da seleção brasileira de futebol e com a CBF. Para isso, a Nike manterá uma estrutura local. Já os contratos da Nike com times brasileiros fazem parte do acordo com o SBF. 

Parte dos R$ 900 milhões pagos virão de linhas já garantidas com Santander, Itaú BBA e Bradesco BBI. A transação entra no balanço da SBF no terceiro trimestre. O Valor apurou que, em relação ao nível de endividamento do SBF, a expectativa é de um aumento, mas que não seria substancial. A companhia não comenta o assunto. Em setembro, a relação dívida e lucro operacional estava em 0,5. 

A transação não foi fechada considerando múltiplos de lucro operacional, como em operações tradicionais de fusão e aquisição. Até porque, pelo acordo, a Nike pode recomprar a operação ao fim do prazo. Se fosse considerar esses múltiplos, o valor do negócio seria maior, diz uma segunda fonte. “Isso ocorreu porque não é um 

 ‘M&A’ [merger & acquisition] tradicional. A preocupação da Nike é como a marca será gerida aqui. Mas é bom lembrar que também há pagamentos de royalties”, acrescenta. Em geral, royalties de marcas estrangeiras chegam a 6% das vendas. A empresa não informa a taxa. 

A venda da operação brasileira é parte de uma estratégia global da Nike, que tem se concentrado na gestão da marca e acordos de marketing com atletas mundiais, informou a companhia. Questionado, Alfonso Bueno, principal executivo do grupo no país, negou que a venda esteja relacionada ao desempenho da operação. Sem dar detalhes, disse que “as metas têm sido atingidas”. 

“Temos analisado opções para a operação no Brasil há mais de um ano. Queremos avançar na conexão com o consumidor brasileiro e com uma empresa local que já atua no setor, com conhecimento e estrutura de distribuição, isso ocorrerá mais rápido”, afirmou. 

Bueno disse que a gestão do braço digital será responsabilidade do SBF, algo inédito no mundo. “A depender de como evoluir, isso poderá ser levado para outros contratos”, disse ele, que deve deixar a operação no país em meados do ano, após uma fase de transição. 

As duas principais dúvidas do mercado ontem, entre analistas, eram o nível de alavancagem da SBF após a compra e eventuais efeitos da transação para o Magazine Luiza e B2W. Hoje, o Magazine Luiza não vende produtos da Nike em sua loja virtual, mas a Netshoes, sim. A Americanas.com, que possui uma loja da Centauro em seu site, também não vende itens da Nike nessa loja da Centauro. 

O Magazine tem buscado um acordo com a Nike para a venda de itens em seu marketplace, sem avanços até o momento. Agora, um eventual acordo passará pelo SBF. 

Além do negócio no Brasil, a Nike informou ontem que fechou a venda de suas operações na Argentina, Chile e Uruguai para o grupo Axo. 

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/02/07/dona-da-centauro-compra-nike-no-pais.ghtml

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