O compromisso político para parar o desmatamento e reverter a degradação florestal em 2030, que envolve quase US$ 12 bilhões, 114 países e perto de 90% das florestas mundiais, está sendo considerado um dos grandes êxitos da Conferência sobre Mudanças Climáticas da ONU, a COP26, em Glasgow.
O acordo político foi costurado pelo governo britânico. EUA, China, União Europeia, Brasil e Indonésia estão entre os que assinaram o compromisso, baseado num mix de recursos públicos e privados.
“Este é um encontro histórico que resulta na mobilização de recursos para proteger as florestas ao redor do mundo”, celebrou o presidente da Colômbia, Iván Duque. Ele anunciou que o país não esperará até 2030 para cumprir a meta da Convenção de Biodiversidade de ter 30% do território convertido em área de proteção. “Faremos isso em 2022”, prometeu, adiantando que está criando uma estratégia de conservação para a Amazônia.
O vice-ministro de Meio Ambiente da Alemanha Jochen Flasbarth, resumiu o desafio global em relação às florestas: “Temos de reduzir a degradação, parar o desmatamento e investir em restauração e regeneração”.
“É impossível exagerar a importância das florestas para o clima. Sem os grandes biomas, que estão sob ameaça, não temos chance de limitar o aquecimento a 1,5oC, nem de atingir a meta de net-zero e enfrentar a mudança do clima”, disse o ministro britânico do Meio Ambiente, Zac Goldsmith.
“Qualquer caminho que não inclua a natureza é um caminho questionável”, afirmou. “Enquanto falamos, a devastação continua a uma taxa assustadora. Perdemos 30 campos de futebol de florestas a cada minuto”, seguiu. “Reverter o desmatamento é, sem dúvida, um dos grandes desafios que temos”.
Segundo ele, a soma combinada dos compromissos (financeiros para a iniciativa) “é genuinamente significativa e representa um ponto de virada para as florestas”.
Boa parte dos recursos virá da filantropia e da Coalizão Leaf, lançada neste ano por Reino Unido, Alemanha, Noruega e um grupo de grandes empresas globais para proteger as florestas tropicais.
Essas fontes contribuem com recursos de US$ 7,2 bilhões. Outro acordo mira ajudar países da bacia do Congo, na África. A soma dos compromissos é de mais de US$ 1,5 bilhão. “É uma das mais importantes regiões do mundo em biodiversidade”, disse Goldsmith.
“Também temos importantes compromissos para aumentar o apoio a países ambiciosos na proteção da Amazônia. O Reino Unido se comprometeu com 300 milhões de libras [cerca de US$ 400 milhões] para apoiar os melhores esforços na Amazônia, tomando por base a liderança que vimos na Colômbia”, seguiu.
Uma parte dos recursos será destinada aos povos indígenas – cerca de US$ 2 bilhões. “Não só por uma questão de justiça, mas também porque o apoio a povos indígenas e comunidades é provavelmente a maneira mais custo-efetiva e mais eficiente de proteger o ecossistema. Eles estão fazendo isso há gerações”, seguiu o ministro.
Goldsmith também disse que há mais US$ 1 bilhão para um novo programa da Coalizão Leaf, por meio de mercados de carbono. “Este pacote de apoio às florestas é significativo, sem sombra de dúvida, mas temos que reconhecer que os incentivos para destruir as florestas são 40 vezes maiores do que os incentivos para protegê- las.”
Mencionou ainda um esforço de 28 países que buscam promover uma “transformação sistêmica” entre países produtores e consumidores. A intenção é “romper a conexão entre a produção de commodities agrícolas e o desmatamento, como o Reino Unido está fazendo, via legislação. Estes países representam 3/4 desse comércio”.
Ainda ontem, o Brasil assinou em Glasgow, com outros 104 países, uma Declaração sobre Florestas em que se compromete a “parar e reverter” a perda florestal no mundo até 2030. Mas especialistas ambientais qualificaram a posição brasileira de vaga e contraditória.
“Dizer que o seu objetivo é entregar o governo com o desmatamento 16% maior do que quando você assumiu não é um plano, é uma confissão de culpa”, diz Marcio Astrini, secretário-executivo da ONG Observatório do Clima. “Este é o terceiro plano de combate ao desmatamento que o governo Bolsonaro publica depois de ter revogado a política que funcionava, o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia (PPCDAm). Nenhum deles contém o elemento fundamental, que é de fato combater o desmatamento”.