Um comediante, na prática, foi o maior vitorioso na eleição italiano deste final de semana. Esta eleição foi marcada por muitas surpresas. A primeira delas foi o retorno ao centro das decisões do ex-primeiro ministro Silvio Berlusconi, um magnata da mídia italiana, que enfrenta vários processos na Justiça, inclusive por corrupção.
A segunda foi a perda de votos do candidato de centro-esquerda que há um mês liderava com folga as pesquisas eleitorais, Pier Luigi Bersani, do PD; este candidato representava uma plataforma moderada, de reformas do estado italiano, de controle da crise do euro, de negociações com as exigências de austeridade (quer dizer controle de gastos do governo) dos países ricos da União Europeia, especialmente a Alemanha. Aberta as urnas, Bersani conquistou, apenas, 29,6% dos votos na Câmara dos Deputados e 31,6% no Senado, menos de um terço do eleitorado, quantia insuficiente para formar um governo estável. O regime italiano é parlamentarista.
A terceira surpresa, a maior delas, só se formou mesmo na última semana antes da eleição: Beppe Grillo, um comediante típico da TV italiana, que há um mês tinha 10% dos votos, há uma semana tinha 16% e ontem, no resultado final alcançou 25,5% dos votos na Câmara e 23% no Senado. Foram 7 milhões de votos no movimento “antipolítico” que já a visou que não fará qualquer coalizão nem com Berlusconi, nem com Bersani.
O partido de Berlusconi, de centro-direita, alcançou muito mais votos na urna do que nas primeiras pesquisas. O ex-primeiro ministro atingiu 26% dos votos na Câmara – portanto, apenas 0,6% a menos do que a moderada centro esquerda – e 30,6% dos votos no Senado, um ponto percentual exato abaixo de Bersani.
Na prática, o quadro político italiano ficou dividido em 3 pedaços, não muito distantes entre si. E que não querem ouvir falar de acordo para formar um governo de coalizão. Esta situação deixa o país “ingovernável” como assegura toda a mídia européia.
Para compreender esta situação é preciso lembrar que o maior derrotado nesta eleição foi o primeiro ministro Mario Monti, um professor de Economia que aplicou duras medidas de controle dos gastos de governo, aumentou impostos, cortou antigos privilégios e tentou fazer com que a Itália equilibrasse suas contas, quer dizer não gastasse mais do que arrecadava. Monti teve menos de 10% dos votos, tanto na Câmara como no Senado.
O eleitorado italiano recusou esta política, “comprou” as promessas de Berlusconi de reduzir impostos, de voltar aos privilégios, pouco importa o que acontecerá com a crise do euro. Ou “comprou” a raiva de Beppe Grillo contra “todos os políticos”, pouco importa o que acontecerá com a economia.
O eleitor italiano rejeitou inteiramente a fórmula proposta pela União Europeia para resolver a crise. Muitos analistas dizem que esta situação de instabilidade política é muito grave para Europa. Não é a primeira vez que Itália sai “ingovernável” das urnas. Alguma solução será encontrada. Entre elas, convocar novas eleições. Ou seja, devolver o problema ao eleitor: ele terá de escolher alguém (e, portanto, uma fórmula) para governar o país. Deste fato, os irritados eleitores italianos não escapam.