Situação do clima piora e IPCC pede descarbonização rápida

Inger Andersen, a cientista dinamarquesa que lidera o Programa das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, resumiu em uma frase uma das principais mensagens do novo relatório do IPCC sobre a ciência do clima no mundo, divulgado ontem: “Ninguém está seguro e está ficando pior mais rápido”. 

O sumário executivo do relatório, que atualiza a ciência do clima, usa o termo “inequívoco” para afirmar que as atividades humanas estão causando o aquecimento do planeta. Diz ainda que todas as regiões do globo estão sendo afetadas e que é preciso descarbonizar mais rapidamente as economias. 

O relatório, escrito por 234 autores de 66 países, quantifica pela primeira vez a culpa humana no aquecimento global – de 1850 a 1900, a contribuição estimada pela ação do homem é de 1,07°C. O mundo irá alcançar o aumento de temperatura de 1,5°C nesta década, entre 2021 e 2030. A temperatura já aqueceu 1,1°C em relação aos níveis pré-industriais. 

“O limite do aumento da temperatura a 1,5°C não está morto. Mas está muito mais complicado de ser atingido”, disse ao Valor a cientista brasileira Thelma Krug, vice- presidente do IPCC. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, ligado às Nações Unidas (IPCC é a sigla em inglês), tem 32 anos e publicou cinco grandes relatórios no período, o último em 2014. Esta é a primeira parte do relatório AR6 – em fevereiro deve ser publicada a parte sobre adaptação e vulnerabilidades e no segundo semestre de 2022, os resultados sobre mitigação. 

São várias as mensagens do “Sumário Executivo para Tomadores de Opinião” lançado ontem. Os cientistas são claros: 

  1. As mudanças recentes no clima estão espalhadas por todos os lugares, estão ocorrendo rápido e se intensificando. São sem precedentes em uma escala de milhares de anos. 
  2. Limitar o aumento da temperatura em 1,5°C (que é um dos objetivos do Acordo de Paris e reduz danos) depende de forte e imediata redução na emissão de gases- estufa, e em larga escala. Ou a meta será inatingível. 
  3. Não há como retroceder em algumas mudanças que já estão acontecendo, como o degelo das geleiras e das calotas polares e as transformações nos oceanos. Mas algumas podem ocorrer mais devagar e outras podem parar, se o aquecimento deixar de ser alimentado pelos gases-estufa. 
  4. Há consenso de que o nível do oceano continuará subindo, mas a elevação total neste século depende do cenário de emissões. 
  5. É provável que o Ártico fique sem gelo marinho no pico do verão, em setembro, pelo menos uma vez antes de 2050. 

“Os impactos econômicos podem ser enormes”, disse ao Valor o físico Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo e um dos autores do relatório. “As alterações climáticas podem ser tão profundas que tornam as atividades econômicas insustentáveis”, segue. Isso se traduz em ameaças na produção de alimentos ou na geração de energia por hidrelétricas, por exemplo. 

Eventos climáticos extremos serão mais intensos e frequentes. O Nordeste brasileiro e o leste da Amazônia, por exemplo, devem sofrer mais secas e de maior duração. O relatório fala em eventos extremos combinados – ondas de calor combinadas a secas, por exemplo. Foi o que aconteceu no Pantanal em 2020. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2021/08/10/situacao-do-clima-piora-e-ipcc-pede-descarbonizacao-rapida.ghtml

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