Relatório amplia a pressão para governos agirem

O impacto político do alarmante relatório do IPCC sobre ciência do clima, lançado ontem, coloca mais pressão por resultados concretos e ambiciosos na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a CoP-26, prevista para acontecer em Glasgow em novembro. Os cientistas falaram claro sobre a gravidade dos fatos e a urgência das ações. Agora a bola está com os políticos. 

A CoP 26 já era importante porque tem que fechar as regras de implementação do Acordo de Paris. Agora precisa entregar mais – arrancar dos países mais ambição em suas metas de emissão de gases-estufa, mais recursos financeiros e tecnológicos para os países mais pobres e planos concretos de como as economias irão se descarbonizar mais rápido. Não há mais tempo a perder. Os líderes têm que garantir um mundo mais seguro. 

O tradicional embate entre o mundo rico e os outros, que sempre acontece nas grandes conferências climáticas, pode ficar mais evidente. Países pobres e em desenvolvimento precisam de recursos para tornar a infraestrutura verde, suas cidades mais limpas, usar menos carvão e combustíveis fósseis e ampliar o leque de renováveis. Além de se adaptar aos impactos das mudanças climáticas, que já estão ocorrendo, no Brasil e no mundo todo. 

A antiga promessa dos países desenvolvidos, feita em 2009, de mobilizarem US$ 100 bilhões ao ano para clima ao mundo em desenvolvimento a partir de 2020 ainda não foi cumprida. A África do Sul apresentou uma proposta ajustando a conta para US$ 750 bilhões ao ano, a partir de 2025. A cifra será debatida na CoP 26. 

O problema é que, entre os grandes emissores, a China ainda não apresentou seu compromisso climático revisado, a NDC, no jargão das negociações climáticas. A Índia também não se mexeu. A Austrália fingiu que aumentou a ambição, assim como a Indonésia. O Brasil está sob suspeição. Para ambientalistas e pesquisadores, a NDC brasileira revisada, divulgada em dezembro, alterou a linha de base das emissões mas não mexeu nos percentuais de corte. Segundo estas contas, a meta permite ao Brasil emitir mais, não menos. 

O país também está na berlinda porque o desmatamento continua alto e as políticas de combate à ilegalidade são pouco eficazes. O presidente Jair Bolsonaro recebeu uma deputada alemã de extrema direita há algumas semanas, mas não encontrou espaço na agenda para receber o presidente da CoP, o britânico Alok Sharma, em visita ao Brasil na semana passada. Não é um sinal político promissor. 

“Enquanto os países se preparam para a CoP 26, este relatório é um lembrete gritante de que devemos deixar que a ciência nos conduza à ação. O momento exige que os líderes mundiais, o setor privado e as pessoas ajam junto com urgência e façam tudo o que for necessário para proteger nosso planeta e nosso futuro”, reagiu o secretário de Estado do governo americano Antony Blinken. 

António Guterres, secretário-geral da ONU, reagiu ao relatório dos cientistas climáticos dizendo que “deve soar como sentença de morte para o carvão e os combustíveis fósseis, antes que destruam o nosso planeta”. O tema será discutido na reunião do G 20, no fim de outubro. Não há consenso. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2021/08/10/relatorio-amplia-a-pressao-para-governos-agirem.ghtml

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