Será difícil, mas Biden quer acelerar pacote de estímulo

Joe Biden quer um acordo rápido no Congresso dos EUA para aprovar novos estímulos fiscais, numa tentativa de impulsionar a recuperação americana antes de assumir a Presidência, em janeiro. 

A plataforma do presidente eleito na disputa contra Donald Trump incluia várias medidas de incentivo de curto prazo à maior economia do mundo, entre as quais auxílio aos governos locais e estaduais e um reforço nos benefícios aos desempregados. 

A premência desses auxílios aumentou nas últimas semanas, diante do forte crescimento nos casos de covid-19 e da decisão de algumas autoridades locais de começar a endurecer restrições relacionadas à crise de saúde. 

Embora a taxa de desemprego nos EUA continue em queda, recuou a 6,9% em outubro, o ritmo de criação de empregos desacelerou. Isso levou alguns economistas a alertar para o risco de se ficar à espera de que Biden entre na Casa Branca para aprovar os estímulos. 

“O presidente eleito Biden acredita que precisamos unir nosso país, independentemente de nossas diferenças políticas, para levar auxílio econômico às famílias assalariadas em dificuldades com a perda de trabalho e de salário”, afirmou Jamal Brown, porta-voz de Biden, ao “FT”. 

“Biden acredita que republicanos e democratas precisam se unir e adotar medidas de auxílio imediato à população americana. Se o Congresso não agir logo, ele começará a trabalhar para aprovar o auxílio quando for empossado.” 

O apelo por um rápido acordo representa um teste para a capacidade de Biden de obter concessões do Congresso, onde trabalhou a maior parte de sua carreira política, como senador. Durante a campanha, Biden disse diversas vezes que as medidas fiscais de US$ 3 trilhões adotadas no início da pandemia foram insuficientes e criticou Trump por não guiar o Congresso na direção de um novo acordo. 

Mas não está claro até que ponto Biden e seus assessores serão capazes de materializar uma negociação por estímulos nas próximas semanas. O presidente eleito ainda não tem papel formal para legislar, e autoridades republicanas, como Trump e Mitch McConnell, o líder da maioria no Senado, estão contestando o resultado da eleição. Um assessor parlamentar democrata disse que, no mínimo, espera ver a equipe econômica de Biden “estendendo a mão” para discutir a negociação por novos estímulos. 

A negociação de um novo pacote de estímulos no valor de US$ 2 trilhões entre a presidente democrata da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, e o secretário do Tesouro, Steve Mnuchin, não deram resultado antes da eleição. Trump tem sido dúbio quanto ao seu desejo de um acordo. 

Depois do bom desempenho nas eleições legislativas dos candidatos republicanos ao Senado, propensos a uma linha mais dura nos gastos, acredita-se que o valor de qualquer pacote fiscal antes do fim do ano caia para algo entre US$ 500 bilhões e US$ 1 trilhão. 

Mas alguns analistas dizem que isso pode ser suficiente para Biden ou os democratas na Câmara, já que os incentivos econômicos para o presidente eleito seriam fortes e um acordo por um valor menor não deve impedir a aprovação de mais estímulos em 2021. 

“O último pacote fiscal foi meses atrás. [Biden] quer ter vento favorável, não vento contrário, em 20 de janeiro”, disse Chris Krueger, analista de políticas econômicas no Cowen Washington Research Group, referindo-se à posse. 

A dificuldade com os estímulos pode ser um prenúncio da complicada dinâmica política que Biden terá pela frente na condução de sua política econômica. 

A menos que os democratas vençam as duas vagas ao Senado na Geórgia em janeiro, os republicanos manterão a maioria e restringirão significativamente a capacidade de Biden de levar adiante a sua agenda econômica. Além dos estímulos de curto prazo, ela inclui amplos investimentos em áreas públicas, como infraestrutura, energia verde e assistência à infância, financiados por aumentos nos impostos sobre as empresas e os americanos de alta renda. 

Uma possível área de concessões mútuas poderia ser a infraestrutura, que agrada aos dois partidos, mas na qual Trump não conseguiu obter um acordo. 

Grupos empresariais vêm apelando a Biden e ao Congresso para direcionarem o foco exclusivamente a isso. “Acreditamos que a primeira ordem do dia no novo Congresso e no novo governo é um programa amplo de infraestrutura, que aborde não apenas os aspectos tradicionais de estradas, pontes, trânsito, mas que lide com a falta de conectividade de banda larga em todo o país, que ajude a dar resistência a nossa infraestrutura para combater as mudanças climáticas e ajude essas comunidades […] mal atendidas em investimentos passados”, disse Neil Bradley, diretor de diretrizes políticas na Câmara de Comércio dos EUA. 

Se Biden enfrentar uma resistência muito grande à sua agenda econômica no Congresso, ele poderá ter que se valer de decretos e regulamentações executivas para colocar em vigor seus planos em áreas que vão desde a tributação internacional a empréstimos estudantis. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2020/11/11/biden-quer-acelerar-pacote-de-estimulo-mas-sera-dificil.ghtml

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