Republicanos controlam Câmara nos EUA, mas com maioria menor que o esperado

Depois de o Partido Democrata assegurar uma vitória significativa e garantir a manutenção do controle do Senado pelos próximos dois anos, seus rivais republicanos confirmaram nesta quarta-feira (16) a maioria na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos.

A nova configuração vai alterar a governabilidade do presidente Joe Biden na segunda metade de seu mandato. A composição geral do Legislativo, porém, ainda garante algum fôlego ao democrata, que estava sob risco de perder o controle das duas Casas em meio a um momento de baixa em sua popularidade.

O Partido Republicano alcançou a marca de 218 deputados eleitos nas midterms, eleições de meio de mandato, com as projeções das emissoras americanas para o 27º distrito da Califórnia. O pleito, realizado no último dia 8, renova toda a Câmara e um terço do Senado, entre outros cargos estaduais.

Com a nova maioria na Câmara, a democrata Nancy Pelosi, aliada de Biden e notória opositora de Donald Trump, deixará a presidência da Casa. Kevin McCarthy (também da Califórnia), líder da minoria reeleito nesta terça, deve ser o indicado para o posto.

Logo após as projeções desta quarta, Biden divulgou comunicado em que afirma que as eleições demonstraram “a força e a resiliência” da democracia americana. “Houve forte rejeição aos negacionistas das eleições, à violência política e à intimidação. Houve uma afirmação enfática de que, nos EUA, prevalece a vontade do povo”, diz a nota.

Biden parabenizou McCarthy e afirmou estar pronto para trabalhar com deputados do partido adversário. “Eleitores expressaram claramente suas preocupações: a necessidade de reduzir custos, proteger o direito de escolha e preservar a democracia. O futuro é muito promissor para ficar preso a uma guerra política. Trabalharei com qualquer um disposto a trabalhar comigo para entregar resultados para a população.”

O deputado, por sua vez, usou maiúsculas para comentar o resultado no Twitter. “O governo democrata de um partido ACABOU. Estamos prontos para trabalhar junto ao povo americano e cumprir nosso compromisso com os EUA com maioria republicana na Câmara.”

Sem maioria, o presidente terá mais dificuldade em aprovar projetos caros a sua agenda, como pacotes de combate à crise do clima e controle do acesso a armas. Também pode ver republicanos abrirem comissões de investigação contra a gestão federal, à semelhança da que apura o ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio —que, aliás, corre o risco de ser suspensa; Trump havia sido intimado a depor ao colegiado até esta segunda (14).

Especula-se que as possíveis novas apurações mirem o processo caótico de retirada das tropas americanas do Afeganistão, negócios suspeitos de Hunter Biden, filho do presidente, e um suposto uso político do Departamento de Justiça em processos contra Trump.

A demora na definição do controle da Câmara se deveu sobretudo à contagem de votos na costa oeste do país, com muitas disputas extremamente concorridas na Califórnia, mas também no Arizona e em Colorado. No primeiro estado, há a possibilidade de que alguns distritos demorem semanas para definir o vencedor. No condado de Maricopa, onde fica a capital do Arizona, Phoenix, a verificação de cada uma das assinaturas dos votos feitos pelo correio também atrasou a contagem.

O quadro contrasta com o de midterms anteriores. Em 2018, por exemplo, a CNN conseguiu projetar que os democratas teriam o controle da Câmara às 23h do mesmo dia da eleição.

Perder o controle do Legislativo (ou de parte dele) no meio do mandato é comum. Desde Jimmy Carter (1977-1981), só George W. Bush (2001-2009) conseguiu manter maioria do Congresso nas midterms, em 2002, no pós-11 de Setembro —em 2006, em seu segundo mandato, porém, ele saiu derrotado. Mas o resultado no fim saiu melhor do que a encomenda para Biden.

Já era previsto há meses que os republicanos conquistariam a maioria na Câmara, mas a margem veio bem menor do que o que era esperado. Pesquisas de intenção de voto, analistas e os próprios políticos esperavam uma “onda vermelha” que traria uma maioria acachapante de oposição ao presidente ao Congresso, o que não se confirmou.

Democratas conseguiram manter cadeiras em estados em que levantamentos apontavam viradas republicanas, como as de Abigail Spanberger (Virgínia), Seth Magaziner (Rhode Island) e Chris Pappas (New Hampshire). Em três corridas apertadas do Texas, os democratas venceram duas.

Uma série de motivos ajuda a explicar o desempenho da legenda —e no topo da lista está o direito ao aborto. A Suprema Corte derrubou em junho decisão que garantia a interrupção voluntária da gravidez como direito constitucional, o que motivou uma série de eleitores a se registrar para votar em defesa do direito de escolha, mesmo em estados mais conservadores, impulsionando democratas.

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2022/11/republicanos-alcancam-maioria-e-vao-controlar-camara-nos-eua.shtml

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