Publicidade invasiva? É melhor proteger o consumidor

O alerta foi claro: vigilância funciona bem em filmes, mas pode não ser uma modelo de negócio sustentável. Principalmente em publicidade. O aviso foi da The Economist, na edição da semana passada. O título da matéria, Stalkers, Inc, refere-se ao sujeito que caça à espreita, escondido, perseguidor, quase uma mistura de caçador e predador desleal.

O alerta não é novo, só que desta vez foi bem mais enfático, na conceituada revista britânica. A crítica é simples: “vigiar o consumidor” se transformou no novo modelo de negócio na indústria da publicidade. Para a Economist isto não é bom porque “privacidade necessita melhor proteção”.

O tema é sensível. A revista pondera que a mistura de três martinis na hora do almoço com a “genialidade criativa “dos Mad Men é, apenas, uma “justa representação” da indústria de propaganda do passado. Mas, o mundo mudou.

Quem quer saber para “onde” o mundo dos anúncios mudou deve, segundo a revista, assistir Minority Report, filme com Tom Cruise de 2002, ambientado em 2054. No filme, a publicidade fala “diretamente” com as pessoas, em tempo real. Ou seja, o sujeito está correndo para ganhar a vida, passa por um anúncio que  “identifica” o perfil e o potencial deste consumidor em milésimos de consumidor e projeta uma frase bem na frente do atarantado Tom Cruise: “Você poderia tomar uma Guiness bem agora”.

Tudo bem, parece assustador. Afinal, já é possível monitorar consumo, descobrir localização, renda, grau de instrução, estado civil e até empregabilidade de boa parte dos consumidores. Portanto, esse consumidor passa em um ponto de venda qualquer,  o anúncio se adapta à sua “fase de vida“ e faz a oferta certa.

Parece ficção científica, mas já é bem real. Há dois  anos, no cenário do International Finance Center Mall, de Seul, capital da Coreia do Sul, quando o consumidor se aproxima de uma quiosque de venda duas câmaras e um detector de movimento transmitem dados para um soft de identificação facial que estima idade e sexo da pessoa e busca, por comparação, o que aquela face já comprou naquele shopping. Em seguida, em centésimos de segundos, oferece para aquele consumidor uma publicidade específica ao seu perfil. Algumas cidades americanas já fizeram testes semelhantes. Outros detalhes desta experiência estão neste link do Nota Alta:

https://notaalta.espm.br/o-assunto-do-dia/consumo-interativo-a-coreia-saiu-na-frente/

O problema, como pondera a Economist, é que tais informações podem ser usadas “contra o consumidor”. Ao entusiasta de motos pode ser oferecido planos de saúde mais caros. Um site de encontros (OkCupido) vendia, por exemplo,  os dados de “uso de álcool” de seus usuários. Embora as empresas que compram e vendem informações insistam que “só vendem números, não identificam indivíduos”, a revista mostrou que está cada vez mais fácil localizar pessoas com informações obtidas online. E pessoas têm o direito de saber se estão sendo seguidas e devem ter a opção de parar este rastreamento.

Nos EUA, a tendência é de que essa indústria acoplada à publicidade se autorregule impedindo excessos. Na União Europeia a lei é bem mais incisiva e exige a proteção de que o consumidor será informado que ele foi rastreado. A Economist insiste que o risco do consumidor se rebelar contra empresas que invadem sua privacidade é alto. O poder de controlar os rastros digitais é do consumidor. A revista foi bem firme: vigilância escondida não é modelo de negócio sustentável. Para qualquer negócio, inclusive publicidade. O link deste artigo da Economist é o:

http://www.economist.com/news/leaders/21616953-surveillance-advertising-industrys-new-business-model-privacy-needs-better

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