O inesperado na eleição para presidente

Pedro de Santi

Há pouco mais de um mês, a eleição para presidente em 2014 parecia praticamente decidida em favor da atual ocupante do cargo. Líder nas intenções de voto paras o primeiro turno, disparada nas intenções para o segundo, mesmo com uma alta taxa de rejeição. Historicamente, desde 1989, quem liderou o primeiro turno acabou por vencer o segundo. Tudo parecia relativamente sem graça ou entusiasmo, caminhando para um destino previsível.

Uma única sombra pairava sobre o governo. A intenção de voto para presidente costuma ser relacionada à percepção da situação econômica pela população: quando ela é positiva, tende-se a votar na situação, quando negativa, na oposição. No caso, os indicadores tem piorado com relação aos anos anteriores.

A tragédia envolvendo a morte de Eduardo Campos e a entrada em cena meteórica de Marina Silva geraram reviravoltas inesperadas e que não se encerraram. Ela absorveu os votos de Campos, o de inúmeros indecisos, insatisfeitos com a política tradicional e uns tantos de Dilma. Depois, como nosso pensamento tende a operar em dualidades e há uma tendência a se aliar a quem parece que vai vencer, ela começou a já receber os votos desviados do terceiro colocado, que foi tendo sua candidatura esvaziada.

Com o primeiro debate na TV e a publicação dos primeiros resultados de pesquisa apontando a subida de Marina, a comoção pela morte de Campos ficou para trás e ela se firmou como candidata muito competitiva. Ela havia tido, afinal, uma excelente votação na última eleição presidencial e tinha uma boa perspectiva nesta, mas não conseguiu viabilizar seu partido. Tornou-se vice de Campos, que não herdou as intenções de voto dela. A situação era, penso, inédita: uma vice com maiores chances que o cabeça de chapa. Neste sentido, houve também uma distensão do apoio que já existia anteriormente à Marina.

Com o novo quadro, Dilma venceria no primeiro turno e perderia no segundo. Nó nos institutos de pesquisa.

Com Marina ocupando o centro da cena, Dilma e Aécio se uniram contra ela, o que reforçou a imagem de oposição entre a nova política versus a velha. Lula chegou a acenar para Aécio, considerando que ele já estava fora do páreo e que seria melhor não queimar pontes para o segundo turno.

Quando tudo parecia estabilizado, nova mudança: Marina e Dilma perdem um pouco de sua intenção de voto e Aécio, que parecia caso perdido, começa a subir e voltar para seu patamar anterior. Talvez isto se deva à ofensiva do marketing do PT que, tanto desgastou a campanha de Marina, mostrando algumas de suas fragilidades (e inventando mais algumas), quanto a campanha de Dilma, considerada violenta. A campanha de Aécio sem recursos para se impor como oposição e mudança, mas ele pode receber as sobras de quem concorda com Dilma quando diz: não podemos ter uma presidente vitimizada; e concorda com Marina quando diz: a campanha do PT é desleal.

Marina deixou de ser uma tela em branco para se projetar fantasias românticas ou simplesmente anti-governo e passou a ganhar contornos próprios, não tão convincentes. Não foi usada a estratégia de desaparecer e deixar a fantasia do eleitor livre; pelo contrário, ao se apresentar ao máximo à mídia, ela se humanizou, com o desgaste inevitável que isto sempre opera. Agora, ela também entrou no ataque, como ao acusar o PT de ter colocado um diretor na Petrobrás “para roubar”. Ela toca numa ferida aberta: o aparelhamento da Petrobrás há 12 anos. E Dilma responde: 1- não houve aparelhamento nem corrupção; 2- foi tudo corrigido no início de seu mandato. Surreal.

Então (quem diria?), no momento Aécio é a terceira via, sem grandes méritos próprios; como no crescimento de Mario Covas em 1989, às vésperas primeiro turno, quando Lula e Collor esquentaram o tom agressivo das campanhas. Aparentemente, há um contingente de eleitores que se esquiva de confrontos violentos.

Como em 89, dificilmente o quadro para o segundo turno mudará (mas vai saber?). Se for assim. Teremos mais duas situações inéditas: a indefinição sobre quem ganhará, independente de quem lidere o primeiro turno; e duas mulheres na decisão, de origem partidária semelhante e associadas ao compromisso social. Os partidos de centro e direita serão coadjuvantes, quer na esperança de manter as boquinhas que já conseguiram no governo atual, quer na de se tornar a base que falta à Marina, caso ela se eleja.

E sempre é bom lembrar da importância excessiva atribuída às pesquisas. Se elas fossem assim tão precisas, tornariam desnecessárias as próprias eleições. Mas sobre elas se definem Intenções de voto, estratégias da campanha, alianças, financiamentos, etc.

Talvez, afinal, vença a tendência que parece maior: Dilma ganhe no primeiro e segundo turnos. Mas  as eleições mornas e desinteressantes ganharam ares de “thriller”.

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