Plano quinquenal da China destaca disputa tecnológica com os EUA

A China elevou suas apostas na disputa tecnológica contra os EUA, com seus líderes estabelecendo planos para acelerar nos próximos cinco anos o desenvolvimento de tecnologias avançadas que vão de chips à inteligência artificial (AI) e a computação quântica. 

No esboço do plano econômico quinquenal anunciado durante a reunião anual legislativa do país, as autoridades disseram que aumentarão os gastos com pesquisa e desenvolvimento em mais de 7% ao ano até o fim de 2025. 

O premiê chinês, Li Keqiang, disse em discurso na sexta-feira que a China vai rever as regras e políticas para apoiar o fluxo de capital de risco para as startups, liberar empréstimos bancários e estender incentivos fiscais para estimular a pesquisa e o desenvolvimento. 

Economistas e analistas do setor afirmam que o 14o plano quinquenal da China se destaca por sua ênfase nas tecnologias .avançadas. Também inclui uma visão da China para 2035, quando o país espera ter “inovações significativas em tecnologias importantes e estar entre as nações mais inovadoras do mundo”. 

Os líderes chineses querem rivalizar com os EUA em tecnologias de ponta e no desenvolvimento de uma cadeia de fornecimento independente para acabar com a dependência das empresas chinesas dos fornecedores americanos. A iniciativa acontece após anos de atritos com Donald Trump, em que seu governo aumentou as restrições a empresas chinesas como a Huawei Technologies, para evitar que ela tivesse acesso a alguns componentes críticos. 

O governo Joe Biden ordenou uma ampla revisão da política dos EUA para com a tecnologia chinesa e pretende arregimentar aliados para continuar à frente da China. 

Há uma pressão para se fazer mais. Chuck Schumer, líder da maioria democrata no Senado, pediu a parlamentares que elaborem um plano para conter a ascensão tecnológica da China, com base em uma proposta anterior de investir US$ 100 bilhões em cinco anos no financiamento de pesquisas de base em áreas como IA, computação de alto desempenho e produção industrial avançada. 

“Os dois países estão brigando para desenvolver as mesmas forças tecnológicas”. Keqiang prometeu aumentar 10,6% os gastos do governo chinês em pesquisas de base neste ano, e formular um plano de ação de dez anos. As pesquisas de base – campo das pesquisas científicas que leva a novos avanços no conhecimento e é visto como crucial para os avanços em tecnologia – são uma área em que a China tradicionalmente fica atrás dos EUA. 

O plano quinquenal lista sete áreas estratégicas consideradas essenciais para a “segurança nacional e o desenvolvimento geral”: IA, a computação quântica, circuitos integrados, genética e pesquisas biotecnológicas, neurociência e o setor aeroespacial. A China pretende criar laboratórios nacionais e reforçar programas acadêmicos para criar e apoiar algumas dessas tecnologias, segundo o plano. Vacinas, exploração em mar profundo e reconhecimento de voz também estão entre as metas. 

“A liderança em IA e computação permitirá à China obter benefícios enormes na coleta de informações e estratégias militares de guerra híbrida”, disse Alex Capri, da Universidade Nacional de Cingapura. Outras tecnologias de ponta permitirão ao país ampliar suas capacidades militares no Indo-Pacífico, ter um papel de liderança na militarização do espaço, comércio digital e trabalhar num ecossistema em torno das moedas digitais, acrescentou ele. 

O papel da China já está crescendo. Recentemente o país superou os EUA em termos de número de citações em periódicos dedicados à IA, segundo um relatório da Universidade Stanford. 

Mesmo assim, a China ainda está atrás dos EUA em pesquisas de base e financiamento a pesquisas e desenvolvimento. Pequim quer 8% de todos os gastos com pesquisa e desenvolvimento até 2025 sejam em pesquisas de base. 

A China também está atrás dos EUA em outras tecnologias cruciais. O plano reitera a meta da China de se tornar uma forte nação manufatureira para aumentar a competitividade no desenvolvimento de aeronaves, robótica e veículos movidos a novas energias. 

O plano prevê que partes críticas das cadeias de fornecimento permanecerão dentro da China. Ter suas próprias fábricas de chips de categoria internacional se tornou mais premente para a China diante das sanções dos EUA à SMIC, de Xangai, que foi incluída na lista negra do Departamento do Comércio dos EUA em dezembro, por supostas ligações com os militares chineses. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2021/03/08/plano-quinquenal-da-china-destaca-disputa-tecnologica-com-os-eua.ghtml

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