O que dizem sobre Guerra da Ucrânia os relatórios de inteligência vazados dos EUA

The New York Times; Vazamento ou hack? Informação ou desinformação? Um golpe para a Rússia ou uma manobra dos EUA?

Dias após documentos de inteligência dos EUA, alguns dos quais marcados como “ultrassecretos”, serem encontrados em redes sociais, ainda restam dúvidas sobre como dezenas de páginas do Pentágono foram publicadas e que credibilidade dar a elas. Aqui está o que sabemos sobre os documentos.

OS DOCUMENTOS SÃO REAIS?

Sim, pelo menos na maior parte, dizem fontes oficiais. As autoridades americanas estão alarmadas com a exposição de informações secretas, e o FBI trabalha para determinar a origem do vazamento.

Alguns documentos parecem ter sido alterados, de acordo com as autoridades. Não está claro quem adulterou os relatórios ou por que o fez. Seja qual for o motivo, parte do material, segundo analistas militares, exagera as estimativas dos Estados Unidos sobre os ucranianos mortos na guerra e subestima quantos soldados russos morreram desde a invasão da Ucrânia por Moscou no ano passado.

DE ONDE VIERAM OS MATERIAIS?

A evidência de que se trata de um vazamento, não de um ataque de hackers, parece forte. O material apareceu aleatoriamente em plataformas como Twitter, 4chan e Telegram –para não falar de um canal do Discord dedicado ao game Minecraft–, mas o que está circulando são fotografias de informes impressos.

Parecem fotos tiradas às pressas de pedaços de papel sobre o que parece ser uma revista sobre caça. Ex-autoridades que revisaram o material dizem que um briefing confidencial parece ter sido dobrado, colocado num bolso e depois retirado de uma área segura para ser fotografado.

Alguns documentos foram especificamente marcados como exclusivos dos EUA, aumentando a probabilidade de que uma autoridade americana tenha vazado a informação.

O QUE FICAMOS SABENDO SOBRE A GUERRA DA UCRÂNIA?

Embora os documentos não alterem fundamentalmente a compreensão do que está acontecendo no campo de batalha, eles podem oferecer percepções –ou pelo menos pistas interessantes– ao olhar experiente de um estrategista de guerra russo. Os documentos não contêm planos de batalha específicos, inclusive sobre a contraofensiva ucraniana prevista para o próximo mês. Mas detalham os planos secretos americanos e da Otan para potencializar as Forças Armadas ucranianas antes dessa ofensiva.

Eles também sugerem que as forças ucranianas estão em apuros mais sérios do que seu governo reconhece publicamente. Sem um influxo de munições, mostram os documentos, o sistema de defesa aérea que manteve a força aérea russa sob controle poderá entrar em colapso em breve, permitindo que o presidente Vladimir Putin envie seus caças de maneiras que podem mudar o rumo da guerra.

E o mero fato de os materiais terem sido vazados –em particular a confirmação que eles ofereceram de que o governo dos EUA espiona tanto aliados quanto adversários– pode ser prejudicial para a coalizão geralmente unida que surgiu para ajudar a Ucrânia a se defender da invasão russa. Também pode fazer os aliados pensarem duas vezes antes de compartilhar informações confidenciais.

OS EUA PENETRARAM NA INTELIGÊNCIA RUSSA?

Os documentos vazados do Pentágono revelam quão profundamente os Estados Unidos se infiltraram nos serviços de segurança e inteligência da Rússia, permitindo a Washington alertar a Ucrânia sobre ataques planejados e obter informações sobre a força da máquina de guerra de Moscou.

O material reforça uma ideia que as autoridades de inteligência há muito reconhecem: os EUA têm uma compreensão mais clara das operações militares russas do que do planejamento ucraniano.

O aparato militar está tão profundamente comprometido, sugerem os documentos, que a inteligência americana conseguiu obter alertas diários em tempo real sobre o momento dos ataques de Moscou e até mesmo sobre seus alvos específicos.

Funcionários em Washington descreveram a divulgação dos documentos como uma grande falha da inteligência, mas em Kiev e em Moscou há um acordo sobre duas coisas: a informação é suspeita, e o objetivo, um subterfúgio. Eles simplesmente não concordam sobre quem está por trás disso.

Em declaração ao The New York Times, Mikhailo Podoliak, assessor do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, disse que os documentos continham “informações fictícias”. “Não há a menor dúvida de que este é mais um elemento da guerra híbrida”, disse ele. “A Rússia está tentando influenciar a sociedade ucraniana, semear medo, pânico, desconfiança e dúvida. É um comportamento típico.”

O objetivo, dizem os ucranianos, é minar a próxima contraofensiva. Na Rússia, blogueiros militares pró-guerra também apontaram para a contraofensiva ucraniana, mas chegaram a uma conclusão diferente.

Uma postagem no canal Gray Zone, no Telegram, associado à milícia Wagner, dizia: “Não devemos excluir a alta probabilidade de que tal vazamento, no momento da intensificação das hostilidades e após o fato dos eventos consumados exibidos nos documentos, seja desinformação da inteligência ocidental a fim de enganar nosso comando para identificar a estratégia do inimigo na próxima contraofensiva”.

Em outros canais russos no Telegram, vozes proeminentes dizem que os documentos originais mostram maiores perdas russas, parte de uma operação de “influência ocidental” destinada a “incutir moral baixo na Rússia e nas forças russas”, segundo o chefe de uma empresa britânica que rastreia a desinformação.

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2023/04/o-que-dizem-sobre-a-guerra-da-ucrania-os-relatorios-de-inteligencia-vazados-dos-eua.shtml

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