Na Turquia, protestos têm vários motivos, além de proteger um parque

A ocupação da Praça Taksim, no centro de Istambul, como forma de proteção ao parque Gezi, uma reserva ambiental no centro da cidade, não revela os verdadeiros motivos das fortes manifestações populares nos últimos dias na Turquia. No atual ciclo de protestos, que não ficou mais limitado às praças da Europa e algumas cidades americanas, cada país tem um “motivo”, uma referência para o início das manifestações.
No caso da Turquia o governo do primeiro-ministro Erdogan, um islâmico moderado, pretendia usar parte do parque para reconstruir um quartel nos moldes tradicionais otomanos. O Estado turco é laico, separado da religião, um formato definido pelas Forças Armadas do país desde 1918. Reconstruir o quartel com características religiosas representou para parte da população um sinal de que as decisões de Estado voltavam a se misturar com decisões religiosas.
A Praça Taksim foi desocupada a força pela tropa de choque, com jatos de água e bombas de gás no final de semana. Há 18 dias os ativistas tinham acampado no Parque Gezi e ocupado a praça que fica ao lado. O primeiro-ministro Erdogan avisou dois dias antes que a praça seria desocupada para dar lugar a um comício das forças governistas. Efetivamente, anteontem, na mesma praça Taksim, ocorreu um comício com centenas de milhares de militantes do partido do governo para defender as decisões do premiê Erdogan. No discurso, o dirigente turco avisou que a polícia continuará a conter à força os manifestantes que tentassem retomar a praça.
A reação do movimento de protesto, como mostrou matéria do Estadão de hoje, pg A 8, também foi muito rápida com a duas centrais sindicais convocando uma greve geral no país contra a decisão de reprimir o movimento popular de protesto. Os fatos se precipitaram desde esta convocação, com o vice-premiê da Turquia, Bulent Aric avisando que o governo pode utilizar as Forças Armadas para acabar com qualquer protesto, se as forças policiais não forem suficientes. A decisão dos sindicatos ampliou os protestos para várias cidades do país, além de Istambul e Ancara, a capital política.
A Turquia alimenta a esperança de integrar a União Europeia. Os laços comerciais do país com o bloco são muito fortes. Várias lideranças européias, especialmente a chanceler alemã Angela Merkel , condenaram a repressão aos manifestantes. A preservação da democracia na Turquia é uma das exigências européias para a entrada do país no bloco europeu.

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