Inflação sobe nos EUA e na China

Os índices de inflação voltaram a aumentar nas duas maiores economias do mundo em outubro, elevando a perspectiva de aperto monetário mais cedo do que tarde, em especial nos EUA e em países ocidentais, o que poderá frear a recuperação global pós-covid. 

Nos EUA, a inflação ao consumidor teve a maior alta anual em 31 anos, e economistas veem mais aumentos pela frente antes de o ciclo de alta atingir seu pico. 

Na China, a inflação ao produtor subiu no ritmo mais forte em 26 anos e deverá pressionar ainda mais os preços nos EUA e em outras economias ocidentais, que importam muitos produtos chineses. 

“Veremos o quadro da inflação piorar antes de melhorar”, disse Sarah House, economista da Wells Fargo & Co. Ela não espera muito alívio antes de março de 2022. 

Em outubro, a taxa anual da inflação ao consumidor nos EUA acelerou a 6,2%, a mais alta desde 1990, impulsionada por aumentos generalizados de preços, de alimentos e energia até carros, devido à persistente escassez de oferta e à forte demanda do consumidor. 

O núcleo da inflação, que exclui os preços voláteis de alimentos e energia, subiu 4,6% ao ano em outubro, para o maior nível desde 1991. Em termos mensais, o índice de preços ao consumidor (IPC) subiu 0,9%, de uma alta de 0,4% em setembro, segundo informou ontem o Departamento do Trabalho. 

Analistas destacaram que os dados de outubro trouxeram indicações de que a pressão inflacionária está se espalhando ainda mais pela economia, colocando o governo Biden na defensiva e elevando as chances de o Federal Reserve (Fed, o BC americano) ter de subir as taxas de juros no próximo ano. 

“Os riscos estão claramente mudando para que a inflação nos EUA permaneça elevada por mais tempo do que se pensava, mas isso não significa que seja permanente”, disse Ryan Sweet, economista sênior da Moody’s Analytics, à Reuters. “O Fed pode enfrentar uma situação em que preços mais altos ao consumidor começam a pesar sobre os gastos do consumidor, reduzindo o crescimento do PIB.” 

Autoridades do Fed – incluindo o presidente Jay Powell – afirmam que os desequilíbrios atuais que alimentam a pressão de preços irão diminuir à medida que as cadeias de suprimentos globais e os mercados de trabalho se ajustam, significando que a inflação acabará se revelando “transitória” e enfraquecerá com o tempo. Mas os dados de ontem desafiam essa visão, disseram economistas. 

“O transitório está morto e enterrado”, disse Eric Winograd, economista da AllianceBernstein ao “Financial Times”. “Há uma boa chance de vermos o núcleo do IPC próximo a 6% nos próximos meses.” 

Na China, o índice de preços ao produtor subiu 13,5% ao ano em outubro, informou a Agência Nacional de Estatística. Trata-se da maior alta desde 1995. Já a inflação ao consumidor subiu 1,5% ao ano em outubro, maior ganho desde setembro do ano passado. 

A aceleração dos preços ao produtor, juntamente com o enfraquecimento da atividade manufatureira na China, aumentou os temores de estagflação e trouxe mais incertezas com relação a perspectiva econômica do país, uma vez que a desaceleração do crescimento representa um desafio às amplas reformas do presidente Xi Jinping. 

A pressão inflacionária provavelmente reacenderá o debate sobre se o BC chinês poderá fornecer mais estímulos para ajudar a sustentar o crescimento. 

Os preços ao produtor na China têm subido rapidamente nos últimos meses, primeiro devido à alta global dos preços das commodities e, em seguida, às restrições de produção causadas por uma crise de energia e pela pandemia. A inflação ao consumidor também começa a aumentar à medida que os problemas de abastecimento relacionados ao clima elevam os preços dos alimentos e os fabricantes repassam os custos aos varejistas. 

“Pressão inflacionária e a postura mais agressiva da política monetária em outras grandes economias provavelmente limitarão o espaço de manobra da China para uma flexibilização monetária”, disse Bruce Pang, estrategista da China Renaissance Securities Hong Kong. Ele destacou ainda que os dados “sugerem pressão inflacionária de base ampla, do lado da produção e do consumidor”. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2021/11/11/inflacao-sobe-nos-eua-e-na-china-e-deve-piorar.ghtml

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