Inflação na Alemanha atinge seu patamar mais alto desde 2008

A inflação alemã saltou para seu nível mais alto em mais de uma década, impulsionada por aumentos substanciais dos preços de roupas, alimentos e lazer, em um movimento que deve intensificar o debate sobre a política monetária ultrarrelaxada da zona do euro. 

O Escritório Federal de Estatística anunciou ontem que o índice harmonizado de preços ao consumidor na Alemanha foi 3,1% mais alto em julho do que há um ano. A última vez em que ele atingiu esse nível foi durante o período imediatamente anterior à crise financeira de 2008. 

A inflação alemã tem subido mais rápido do que a da maioria dos outros países europeus em parte em razão de efeitos pontuais, como o encerramento do corte temporário do imposto sobre valor agregado feito no ano passado, a nova taxa sobre o carbono e uma mudança na ponderação da cesta de produtos usada para calcular as alterações de preços. 

Mas os preços dos produtos manufaturados também subiram mais, já que muitas fábricas alemãs enfrentam custos crescentes e escassez de materiais como semicondutores, metais, plásticos e madeira, assim como gargalos nas rotas de transporte de contêineres. 

Como resultado, segundo Carsten Brzeski, chefe de pesquisa macro do ING, “os preços ao produtor devem aumentar ainda mais, e muito possivelmente colocarão pressão mais intensa sobre os preços ao consumidor”. 

A inflação tem crescido em muitos países, à medida que a economia mundial se recupera do impacto da pandemia, o que aumenta a pressão sobre os bancos centrais para que comecem a desacelerar o estímulo monetário que lançaram no ano passado em resposta à crise. 

O presidente do banco central alemão, Jens Weidmann, alertou na semana passada que a inflação na maior economia da Europa “caminhará na direção da marca dos 5% lá para o fim do ano” – é o porcentual mais alto desde que o euro foi lançado, mais de duas décadas atrás. 

As expectativas de preços de venda das empresas subiram pelo quinto mês consecutivo em julho, de acordo com a Comissão Europeia, que nesta quinta-feira informou que seu indicador de confiança de empresas e consumidores da zona do euro subiu 1,1 ponto, para 119, um recorde desde que a pesquisa começou a ser feita, em 1985. 

Embora hajam poucos sinais de que os salários alemães estejam subindo, os números desempregados no país começaram a cair. O número de pessoas empregadas na Alemanha aumentou em 78 mil em junho, de acordo com dados publicados ontem. Foi o maior crescimento desde o início da pandemia, embora ainda haja 573 mil pessoas empregadas a menos do que em fevereiro de 2020 – o mês em que a covid-19 chegou ao continente europeu. 

Mais cedo, também ontem, a agência de estatísticas da Espanha anunciou que sua taxa de inflação chegou a 2,9% em julho – seu nível mais alto desde 2017 e superior aos 2,7% de junho -, impulsionada por preços mais altos para habitação e gás. 

Os dados sobre o crescimento dos preços na zona do euro serão publicados na sexta-feira. A expectativa dos economistas ouvidos pela Reuters é de que a inflação no bloco suba de 1,9% em junho para 2% em julho. Isso estaria de acordo com a nova meta de inflação estabelecida pelo Banco Central Europeu (BCE), mas seus dirigentes disseram esperar que a inflação volte a cair no ano que vem. 

“Continuamos mais céticos sobre a força da inflação de longo prazo, depois que os efeitos de base do petróleo e das medidas políticas diminuírem e a economia tenha se ajustado a um novo normal pós-pandemia, e prevemos uma queda forte no ano que vem, de novo para menos de 2%”, disse Markus Gütschow, economista do Morgan Stanley. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2021/07/30/inflacao-na-alemanha-atinge-seu-patamar-mais-alto-desde-2008.ghtml

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