5G vai ditar estratégias de empresas, aponta CNI

As empresas brasileiras que já embarcaram no movimento de digitalização das áreas comerciais e produtivas encaram a disponibilidade das redes da quinta geração de telefonia móvel (5G) como parte fundamental da estratégia para se manterem competitivas nos próximos anos. A avaliação é do superintendente de política industrial da CNI, João Emílio Gonçalves, que em entrevista ao Valor, manifestou preocupação com o risco de o leilão da nova tecnologia atrasar novamente, ficando para o próximo ano. 

“No ano passado, quando o 5G virou uma novidade no mundo inteiro, a gente achava que era o caminho ainda para o futuro, não era uma pré-condição. Mas, no instante seguinte, nos demos conta de que já tinham projetos da indústria no Brasil que poderiam ser beneficiados pela disponibilidade do 5G e também porque as empresas, principalmente as maiores, já estavam encomendando projetos com a nova tecnologia”, afirmou Gonçalves. 

No trabalho de acompanhamento do mercado, os técnicos da CNI notaram que empresas brasileiras, na hora de partir para digitalização, fazem um comparativo entre projetos com e sem o 5G. “Muitas estão concluindo que ter o 5G faz a diferença, que a nova tecnologia tem impacto sobre a competitividade”, destacou o superintendente. 

O leilão das licenças de serviços 5G deverá ocorrer entre outubro e novembro deste ano, segundo previsão anunciada em meados deste mês pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria. A indicação veio após rumores de que o certame poderia ser adiado novamente, ficando para 2022. O ministro disse que os estudos econômicos da licitação serão votados em 18 de agosto e, com isso, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) terá condições de publicar o edital, em setembro, para realizar a sessão do leilão dentro da nova previsão. 

Para saber da situação do Brasil em relação ao mundo, a CNI observou a evolução de cidades contempladas pela nova tecnologia. A entidade constatou que há crescimento acelerado do 5G no exterior na versão mais atualizada, chamada de “5G standalone” – com núcleo de rede independente do 4G e operação mais eficiente. 

O estudo da CNI demonstrou que, até o fim de junho, a tecnologia já estava presente em 1.336 cidades espalhadas pelo mundo. Somente no primeiro semestre, houve o aumento de 350% em relação ao número de localidades atendidas até o final de 2020. 

O coordenador de propriedade intelectual da CNI, Fabiano Barreto, um dos autores do levantamento, disse que EUA, Coréia do Sul e China puxam, em ritmo “muito acelerado”, a inauguração do 5G em novas cidades. A liderança é da China (341 cidades contempladas), seguida dos EUA (279), Coreia do Sul (85), Reino Unido (54), Espanha (53), Canadá (49), Austrália (37), Itália (35), França (24), Tailândia (24) e Suécia (23). 

“O 5G está crescendo muito rápido. Um bimestre ou um trimestre que a gente postergar vai deixar a gente cada vez mais para trás na curva de adoção. É realmente a hora de acelerar para que a gente possa usufruir dos benefícios da tecnologia”, afirmou técnico da confederação. 

Barreto explicou que somente o leilão da Anatel vai oferecer ao setor produtivo os benefícios esperados com o 5G no contexto da indústria 4.0. E destacou ainda que não servem a versão do 5G comercializada no Brasil, o padrão DSS, nem o chamado 5G “não standalone”, que chegou a ser cogitado pela Anatel para a fase inicial de implantação da nova tecnologia, mas não está alinhado ao padrão de baixa tempo de resposta (latência) aos comandos na rede. 

“A gente está falando de um outro passo que depende do leilão. A indústria 4.0 exige alguns atributos do 5G, como a capacidade de conexão massiva, que conecta milhares de sensores ao mesmo tempo dentro de uma fábrica sem falhas”, reforçou Barreto. 

O 5G já é uma realidade em grandes companhias do setor de mineração e petróleo, por exemplo. Este grupo utiliza autorizações especiais concedidas pela Anatel para explorar a tecnologia em áreas previamente demarcadas, onde o trabalho é realizado. 

A partir do leilão, o 5G será oferecido de forma ampla pelas teles no modelo de redes públicas, como já ocorre no 4G. Neste caso, a indústria contará com ganhos de eficiência da “porta para fora” da fábrica. Além disso, a nova tecnologia beneficiará empresas de menor porte e outros elos da cadeia, como fornecedores e clientes. 

Gonçalves ressalta que o investimento na digitalização ocorre de maneira heterogênea. “São empresas de pequeno porte, algumas filiais de multinacionais, setores de maior ou menor conteúdo tecnológico, além de segmentos tradicionais. No final, o que a gente vê é que existem projetos em todos os perfis de empresas e setores”. 

O processo de digitalização ocorre no Brasil de maneira “sequencial”, tanto dentro como fora das empresas. “Elas identificam uma área onde a digitalização vai gerar ganhos de produtividade, depois faz outro investimento sequencial que faz ela caminhar no rumo da indústria 4.0. Na medida em que algumas empresas fazem isso, seus fornecedores também aderem, assim como seus clientes e até o concorrente, que olha e vê que aquilo está dando resultado e começa a fazer o próprio projeto”. 

Sobre o desafio da mão de obra qualificada, o superintendente da CNI disse que este não chega a ser um “drama”. Ele reconhece que, para o desenvolvimento da tecnologia, o mercado exige um alto nível de especialização. “O que a gente tem visto é que as empresas conseguem treinar o trabalhador que está ali, para operar as novas tecnologias. Olhando, então, para o chão de fábrica, não é uma coisa intransponível. Se resolve com capacitação”, afirmou. 

https://valor.globo.com/brasil/noticia/2021/07/30/5g-vai-ditar-estrategias-de-empresas-aponta-cni.ghtml

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