Europa discute ‘dinheiro de helicóptero’ para estimular economia

Além dos pacotes bilionários anunciados por diferentes governos para ajudar as companhias contra os efeitos da pandemia do novo coronavírus, outro meio de sustentar a atividade econômica começa a ser discutido na Europa: ”dinheiro de helicóptero” (helicopter money), que é distribuir dinheiro diretamente às pessoas a fim de reaquecer o consumo. 

O Congresso americano e Casa Branca discutem uma forma de ”dinheiro de helicóptero”, com a distribuição de US$ 1 mil para cada americano, em resposta à crise. E, na Europa, o debate prospera. ”O ‘dinheiro de helicóptero’ paira sobre a Suíça”, publica o jornal “Le Temps”, de Genebra. 

Diante da crise sanitária, o objetivo seria, sobretudo, superar o estrago deflagrado pela baixa de consumo e evitar que a economia se torne um campo de ruínas, com empresas fechadas e desemprego em alta, uma vez que a pandemia terá passado. 

No rastro da crise financeira global de 2008, o ”dinheiro de helicóptero” também foi muito debatido, e ficou nisso. 

Agora, Hong Kong usou em fevereiro o ”dinheiro de helicóptero” após as enormes manifestações de rua que deixaram o comércio fechado e a economia em geral afetada. Os residentes permanentes de Hong Kong, com 18 anos ou mais, receberam, cada um, uma doação em dinheiro de HK $ 10.000 (US $ 1.200), num pacote total de HK $ 120 bilhões (US $ 15 bilhões) firmado pelo governo para aliviar o fardo de indivíduos e empresas, ao mesmo tempo em que preserva empregos. 

A vizinha Macau adotou antes iniciativa semelhante, oferecendo aos moradores cupons de compras. 

Cingapura também anunciou no mês passado que todo cidadão com 21 anos ou mais receberá ajuda única em dinheiro entre US$ 100 e US$ 300, dependendo de sua renda. Isso faz parte de um pacote para apoiar as famílias a arcar com parte de suas despesas domésticas em meio à crise. 

No entanto, Alicia Garcia Herrero, economista-chefe para Ásia-Pacifico do banco Natixis, sediada em Hong Kong, critica esse tipo de iniciativa. 

Para a economista, ”pode-se oferecer dinheiro imediato às famílias, mas seria muito melhor garantir ajuda para cobrir pagamentos de dívidas (fundos de alívio de hipotecas) ou para um consumo específico”. Alicia insiste que os fundos devem ser direcionados àqueles com menos recursos e não a todos. ”Não se trata apenas de justiça, mas também de eficácia. Se você não precisa do dinheiro, não o gasta, mas o acumula”. 

Em Madri, o economista principal do banco BBVA para a América Latina, Enestor dos Santos, também mostra reticência com relação à medida. ”Entre outros problemas, existe o risco que as pessoas prefiram poupar em vez de gastar o dinheiro ”caído do helicóptero” ou que gastem em coisas que tenham um baixo retorno econômico e social”, diz. 

Enestor admite que, no contexto atual, não há muito mais que a política monetária possa fazer, mas acha que antes de se pensar em “helicopter money” valeria utilizar a política fiscal de maneira mais ativa. 

O professor Cedric Tille, do Graduate Institute de Genebra, citado pelo jornal “Le Temps”, observa que uma questão é distribuir dinheiro às famílias, e outra é se elas poderão realmente consumir, com o confinamento em bom número de países na Europa. 

De seu lado, o presidente do Instituto ifo, de Munique, Clemens Fuest, divulgou uma nota rejeitando na Alemanha pagamentos diretos do governo a cidadãos do tipo planejado nos Estados Unidos. 

“Os EUA não têm um sistema básico de seguridade social, como temos na Alemanha”, diz ele. ‘A maior parte do apoio disponível para pessoas de baixa renda depende de estarem empregados. Mas é exatamente isso que a atual crise está massivamente reduzindo”. 

“É por isso que faz sentido nos EUA enviar cheques para as famílias. Mas não na Alemanha. Aqui, temos estabilizadores automáticos eficazes, como subsídio de curto prazo e ajuda para desempregados”, afirma Fuest. “No entanto, isso não ajuda a resolver os problemas enfrentados pelos trabalhadores independentes e provisórios da Alemanha”. 

Para o presidente do Instituto Ifo, os investimentos públicos agora anunciados nos EUA não ajudarão durante a fase aguda da crise porque eles têm um longo tempo de espera e, de qualquer forma, não poderiam ser implementados agora. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2020/03/18/europa-discute-dinheiro-de-helicoptero-para-estimular-economia.ghtml

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