Eleição divide homens e mulheres nos EUA

Woodard Hartley e seu marido votavam no mesmo candidato presidencial. Mas neste ano não será assim. Embora ambos se descrevam como republicanos, o casal, que mora em Houston, Texas, “não votará de forma vinculada”. Ela votará em Joe Biden, o primeiro democrata que ela apoia para a Presidência dos EUA, enquanto seu marido permanecerá fiel a Donald Trump. 

“Eu perguntava como ele votaria em alguém que fala de maneira misógina sobre as mulheres e seu ponto central era ‘vou votar no republicano, vou votar num bode, se for republicano, não importa’”, disse Hartley. “Esse é o ponto central dele. Meu ponto central é totalmente o oposto”, acrescentou. 

O casal é um microcosmo de uma tendência mais ampla. As pesquisas sugerem que esta eleição poderá resultar na maior diferença de gênero já registrada, com a previsão de que 50% dos homens apoiarão Trump, contra 35% das mulheres, de acordo com uma média das sondagens “Wall Street Journal”/NBC News deste ano. Se se reproduzir na votação real, a diferença de 15 pontos será 4 pontos maior do que a distância de 11 pontos da eleição de 2016. 

“Estamos avançando em direção de um histórico abismo de gênero”, tuitou no domingo David Wasserman, editor do suprapartidário Cook Political Report, da Câmara dos Deputados dos EUA 

Em todas as eleições presidenciais desde 1980, a diferença de gênero variou entre 4 e 10 pontos, de acordo com dados do Rugers’ Center for American Women and Politics, com exceção de 2016 e de 1996, quando houve também uma diferença de 11 pontos. 

Um número igual de homens e mulheres apoiou Jimmy Carter em 1976, mas nas eleições seguintes começou a se formar uma diferença. Os historiadores atribuem a tendência, em parte, ao movimento em favor dos direitos das mulheres e ao apoio do Partido Democrata à Emenda dos Direitos Iguais e à decisão da Suprema Corte no caso Roe x Wade (de 1973, que reconheceu o direito ao aborto). 

Em Maricopa, no Arizona, um importante Estado indefinido nesta eleição, a consultora republicana Lorna Romero disse que Trump perdeu um volume significativo de apoio entre mulheres republicanas moderadas e entre as de inclinação conservadora, mas registradas como independentes. 

“Isso realmente se deve ao comportamento do presidente. Quando o assunto são mulheres, principalmente nessa categoria, muitas delas são mães”, disse Romero. “Esses não são comportamentos que elas querem ver refletidos na autoridade máxima do país.” 

“Acho que, para os homens, ver esse tipo de liderança arrogante não é uma coisa pouco costumeira. Você vê isso no mundo empresarial, você vê isso no mundo esportivo. Há um certo tipo de atitude com a qual os homens estão mais acostumados. Eles não se sentem tão agredidos”, acrescentou. 

Trump buscou na última hora se promover junto às mulheres com ensino superior moradoras das periferias de classe média das grandes cidades, mas ele já perdeu muitas dessas eleitoras em 2018, quando elas ajudaram os democratas retomar o controle da Câmara dos Deputados, segundo Lara Brown, professora da Universidade George Washington. “A pergunta é ‘será que os maridos das periferias de classe média das grandes cidades] vão acompanhar suas esposas?’”, acrescentou. 

Kelly Dittmar, pesquisadora do Center for American Women and Politics, disse que, se um número suficiente de homens brancos com ensino superior mudar para as fileiras de Biden, isso pode reduzir a diferença projetada de gênero. 

Trump também vem perdendo terreno entre mulheres brancas sem ensino superior, segundo o estrategista democrata Mike Mikus. 

“Os homens operários brancos, na maioria, votarão da mesma maneira pela qual votaram em 2016. Onde eu observo uma diferença é nas mulheres operárias… elas simplesmente estão fartas do comportamento dele”, disse Mikus. 

As pesquisas de setembro do “Washington Post”/ABC News detectaram Biden com uma vantagem de 9 pontos entre mulheres brancas sem formação superior em Wisconsin e uma vantagem de 19 pontos entre o mesmo grupo de mulheres em Minnesota. 

Dittmar disse que o Partido Republicano poderá reconquistar mulheres conservadoras que teriam se voltado contra Trump se ele for alijado da Casa Branca. Mas uma boa parte dessas eleitoras talvez seja mais moderada do que o Partido Republicano e pode ter se tornado democratas por questões como direitos dos homossexuais e mudança climática, acrescentou. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2020/11/04/eleicao-divide-homens-e-mulheres-nos-eua.ghtml

Comentários estão desabilitados para essa publicação