Companhias da Ásia dominam patrocínio do Mundial na Rússia

A realização da Copa de 2018 na Rússia, país localizado no meio do caminho entre a Europa e a Ásia e cuja identidade flerta com traços do Ocidente e do Oriente, não poderia ser mais simbólica para retratar a transição pela qual passa o futebol como um negócio global. O Mundial deste ano consagra a importância crescente do capital oriental no esporte mais popular do mundo: em 2018, pela primeira vez na história das copas, a maioria dos patrocinadores internacionais da competição organizada pela Fifa é asiática.
Entre os 12 parceiros da Fifa e patrocinadores internacionais da Copa deste ano, 6 são asiáticos e 5 ocidentais, desconsiderando a russa Gazprom e os apoiadores nacionais. Nas placas de publicidade que cercam os gramados, é possível ver as marcas da Qatar Airways, das coreanas Hyundai-KIA e das chinesas Wanda Group (conglomerado multimídia), Vivo (fabricante de smartphones), Hisense (eletrodomésticos e eletrônicos) e Mengniu Dairy (laticínios).
A Fifa trabalha com três categorias de patrocínio: os parceiros (que dão apoio a todos os demais eventos organizados pela federação); os patrocinadores (que possuem os direitos a uso da marca apenas na Copa do Mundo e na Copa das Confederações, em escala mundial); e os apoiadores (empresas radicadas no país sede que associam suas marcas apenas no país de origem).
Para o coordenador de aperfeiçoamento em gestão de esportes da Fundação Getulio Vargas (FGV), Pedro Trengrouse, o crescimento da importância do capital asiático é capitaneado pelo investimento pesado dos chineses. Segundo o professor, a presença da China como patrocinadora da Copa faz parte de uma estratégia de longo prazo, para tornar o futebol chinês uma potência mundial. O Wanda Group, por exemplo, assinou um contrato para patrocinar o Mundial até 2030.
“Os chineses chegaram para ficar. O presidente da China, Xi Jinping, já manifestou o desejo de o país sediar a Copa de 2030. O aumento do patrocínio da China faz sentido e acredito numa presença ainda mais maciça do capital chinês na Copa de 2022, no Catar”, afirma Trengrouse.
A presença do capital oriental não chega a ser uma novidade nas Copas. Segundo dados da Fifa, desde 1982 (início da série histórica da entidade), as multinacionais asiáticas já investiam nos mundiais. Inicialmente, os destaques eram as japonesas (FujiFilm, JVC e Seiko são exemplos). Com o tempo, as coreanas também passaram a apostar na publicidade do mundial – junto com o Japão, a Coreia do Sul sediou a Copa de 2002.
Nos últimos mundiais, contudo, o mapa dos patrocinadores tem se voltado cada vez mais para o capital chinês e para os inRead invented by Teads
petrodólares de países do Oriente Médio – os mundiais de 2014 e 2018 atraíram, por exemplo, multinacionais como a
Emirates (dos Emirados Árabes) e Qatar Airways e, desde a década de 2010, é crescente a investida de bilionários russos e dos países produtores de petróleo nas principais ligas de futebol do mundo. A transferência de Neymar para o Paris Saint Germain, por exemplo, no valor de EUR 222 milhões, foi financiada com recursos de um fundo de investimento do Catar.
“O dinheiro novo que entra no negócio do futebol tem vindo do tripé China-Rússia-Arábia”, conta o consultor Amir Somoggi, sócio-diretor da Sports Value, que vê no aumento do capital asiático um impulso para o crescimento das receitas da Copa ano a ano.
Para Trengrouse, o crescimento do investimento asiático está associado ao movimento de popularização do futebol nos países orientais.
“Para um futebol tão fortemente liderado pela Europa por muito tempo, [a popularização do futebol na Ásia] traz perspectivas de oxigenação. É possível imaginar que o movimento migratório das receitas e dos jogadores se volte para a China, por exemplo, nos próximos anos”, avalia.

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