Novato na bolsa se informa por dicas de influenciadores

Uma pesquisa feita pela própria B3 com cerca de 1,3 mil investidores mostrou que a maioria deles tem foco no longo prazo e se informa sobre investimentos por meio de canais no YouTube e de dicas de influenciadores digitais. A bolsa contava em novembro com 3,2 milhões de contas, sendo mais de 2 milhões de investidores pessoa física diferentes. 

De acordo com o levantamento, 74% dos investidores são homens. A participação das mulheres, no entanto, tem crescido de forma acentuada. O número de investidoras chegou a cerca de 800 mil neste ano, após girar em torno de 500 mil e 600 nos anos anteriores. 56% dos investidores têm uma renda mensal de até R$ 5 mil, 60% não têm filhos, 51% estão na região Sudeste e a média de idade é de 32 anos. 

A pesquisa mostrou que 73% dos investidores aprenderam a investir por meio de canais do YouTube ou com influenciadores digitais. Já 45% citaram o aprendizado em plataformas on-line; 31% tiveram ajuda de amigos, 20% citaram a imprensa; 18%, podcasts; 9% aprenderam em cursos presenciais; 7% com gerentes ou assessores financeiros e 1% pelo rádio. 

Entre os entrevistados, 73% citaram que se informam sobre investimentos por meio da internet – 60% com influenciadores e canais no YouTube. Já 38% citaram e-mails, alertas, notificações dos bancos e corretoras; 36% se informam pelas redes sociais; 34% por grupos do WhatsApp ou Telegram; 27% por assinaturas de relatórios de análises; 19% por recomendação de amigos e parentes; 14% por recomendação de consultores ou assessores financeiros e 14% por jornais e revistas. 

A bolsa destacou, no entanto, a importância de os investidores “buscarem informações sobre os influenciadores e canais que se informam”. Recentemente, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) soltou um comunicado sobre quem está autorizado a dar indicação de investimentos. “As pessoas têm que buscar informações. Entrar na CVM, na B3, ver se estão autorizados, ir acompanhando e seguindo sua maratona de investimentos”, afirma Felipe Paiva, diretor de relacionamento com clientes da B3. 

O levantamento mostrou ainda que 39% dos entrevistados escolhem seus investimentos por meio de análises de influenciadores. Já 23% usam análises estruturadas de empresas especializadas. Outros 18% disseram que fazem suas avaliações de outras formas ou que não fazem análises. Uma parcela de 11% seguem orientações de amigos e familiares e 9% seguem orientações de assessores. 

Segundo a B3, a maioria das pessoas visa o longo prazo. As mais de 1,3 milhão de pessoas que entraram pela primeira vez no mercado neste ano têm uma permanência mais longa na B3 do que a vista nos anos anteriores. Entre 25% a 30% dos investidores que entraram na bolsa em 2018 zeraram suas posições após seis meses. Em 2020, esse número caiu para 20% a 25%. 

Questionados sobre o que os faria deixar a bolsa, 64% dos entrevistados afirmaram que resgatariam apenas se precisasse do dinheiro. Outros 28% sairiam por queda na rentabilidade e 27% por mudança na tributação ou legislação. 23% disseram que poderia sair devido ao cenário econômico e 20%, por aumento do risco, e 7% sairiam por queda na bolsa. Má orientação do assessor foi citada por 3% e outras razões por 16%. 

A pesquisa mostrou que cerca de 65% de todas as operações de day trade realizadas no primeiro semestre deste ano estão concentradas em um grupo de cerca de 10 mil investidores. Isso mostra, segundo Paiva, que os novos investidores têm foco no longo prazo. 

Cerca de 18% têm um perfil mais conservador e são avessos a risco. Já 39% têm o perfil “realizador”, em que a liquidez é importante e o foco está em sempre se aprimorar. Outros 39% são considerados “ousados”, assumem mais riscos e se envolvem mais ativamente nas decisões de investimentos. 

Questionados sobre o principal motivo para começar a investir, 38% disseram que “aprender e aplicar outras modalidades de investimento” foi a principal razão para buscar a bolsa. O cenário de juros baixos, que faz com que a renda fixa tenha retornos menores, também influenciou os investidores: 33% citaram que estão buscando produtos com maior rentabilidade e 11% citaram a baixa remuneração da poupança e a queda na taxa de juros. Outros 9% afirmaram que querem ampliar a carteira de investimentos e 9% citaram outros motivos e razões. 

Dos investidores que têm até R$ 10 mil na bolsa, aproximadamente 72% têm mais de um ativo na carteira (sendo que 30% chegam a ter mais de cinco papéis). O mesmo levantamento mostrou que apenas 26% têm um único ativo. Conforme a faixa de renda sobe, a diversificação cresce. Dentre os que têm entre R$ 10 mil e R$ 20 mil, 58% têm mais de cinco ativos. Entre R$ 20 mil e R$ 50 mil, 65% têm mais de cinco papéis. Já entre quem têm entre R$ 50 mil e R$ 100 mil, esse número sobe para 72%. Entre os investidores com R$ 100 mil a R$ 500 mil, a porcentagem de quem tem mais de cinco ativos vai a 78%. 

A pesquisa mostrou que 86% das pessoas investem em renda variável, sendo 72% em ações e 37% em fundos imobiliários. Além disso, 42% aplicam no Tesouro Direto e 31% em outros ativos de renda fixa. Os CDBs foram apontados por 26%, as LCIs, LCAs e LFs foram citados por 10% e a poupança, por 38%. 

A renda variável, no entanto, está nos planos de 93% dos investidores, que apontaram esses ativos quando questionados sobre quais investimentos pretendem fazer no futuro. As ações foram citadas por 78% e os fundos imobiliários, por 61%. Outros 41% ainda falaram sobre o Tesouro Direto; 27%, CDBs; 18%, LCIs, LCAs e LFs; 3% apontaram os COEs e 22%, a poupança. 

O levantamento mostrou que 53% das pessoas disseram que o dinheiro alocado na bolsa não estava em outro ativo antes. Já 43% resgataram os recursos de outro investimento. Desse total, 49% vieram da poupança; 18% vieram de ações; 12%, de fundos; 10% de títulos do Tesouro Direto; 10% de CDBs; e 4% de fundos imobiliários. 

A B3 também mapeou o interesse dos investidores por ativos internacionais. Uma fatia de 50% afirmou ter muito interesse; 36% têm interesse; 10% têm baixo interesse e 4% não têm interesse. 

O mercado de um modo geral ainda tem bastante concentração na renda fixa, segundo a B3. Quase 7,3 milhões de investidores têm aplicações desse tipo, de acordo com a pesquisa, sendo que 66% das pessoas só têm ativos desse tipo. 

https://valor.globo.com/financas/noticia/2020/12/15/novato-na-bolsa-se-informa-por-dicas-de-influenciadores.ghtml

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